09 abril 2013

HOLIGANISMO RETÓRICO




Ontem, dia 8 de Maio, vinha um artigo sobre Portugal no jornal NRC (página 10) do correspondente para Portugal e Espanha Merijn de Waal. O título era PORTUGAL RECEIA QUE A FOME VOLTE ÀS SALAS DE AULA . Falava apenas do esforço das escolas para dar de comer às crianças. No entanto, nos jornais e blogosfera portuguesa, as discussões continuam a  ser monopolizadas pela dicotomia esquerda vs direita. Como se fosse este realmente o problema!!!




Experimentem trocar direita por esquerda, ou vice-versa, em todos os textos que leiam e vão ver que obtêm precisamente a mesma coisa, os conceitos e as acusações são perfeitamente permutáveis. Dito por outras palavras, têm a mesma função que a camisola durante um jogo de futebol: separar visualmente as equipas dentro do campo - estes são do Benfica e aqueles do FC do Porto, mas todos são jogadores de futebol.

Com a crise e a total falta de perspectivas, esta retórica, que já ultrapassou largamente a data de consumo, serve agora como um óptimo jogo de memória para quem sofre de alzheimer, mas também para canalizar o compreensível mal-estar da população a nosso belo prazer, para a esquerda ou para a direita…

Tem um inconveniente.

Como a dicotomia (a diferença entre os jogadores) é artificial, para poder funcionar vai ter que ser alimentada constantemente, como a caldeira de um comboio a vapor. Ao parar corre-se o risco do público adormecer nas bancadas. A futebolização ideológica da política nacional tem que estar em constante efervescência… 

Digamos que os analistas políticos seguem o exemplo, mas sobretudo o sucesso dos jornais desportivos: no nosso país as publicações deste tipo são abundantes e diárias…

Haverá assim tanto a dizer, depois de termos visto o jogo e conhecer o resultado? É claro que não, contudo, as almas crentes vão ser espremidas como um limão pelos analistas depois de terem sido aldrabadas pelos políticos…

Os italianos lá acabaram finalmente por perceber esta vigarice, e é por isso que votaram maioritariamente em Beppe Grillo - num partido que quer acabar com os partidos. Fartaram-se. Nós ainda não estamos lá. Temos a paciência e a resignação do árabe (de antes da Primavera) e vamos aguentar com o fardo ainda durante algum tempo. Por isso, caros compatriotas, vão continuar a ler na imprensa portuguesa que:

o Relvas não tirou o curso das acções do Cavaco que por sua vez roubou um apito em ouro que o Pinto da Costa tinha oferecido à namorada que acabou por fugir prá França com o Sócrates num submarino do Portas…

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