25 outubro 2013

Turca com a cabeça a prémio…


Foto: manifestação em Haia em 1999 pela libertação de Ocalan. O cartaz diz:

Ser mulher
Ser livre 
de preferência
num Curdistão livre!


Ebru Umar no NRC em Agosto de 2013:

Por causa de um artigo no jornal diário Metro recebi 2000 Twitters. Não só fui insultada e ameaçada, como também aprendi que há n maneiras de desejar a morte a alguém.



Fiquei espantada com tanta gente zangada por causa de um artigo: trata-se apenas de palavras escritas! Fiquei espantada porque escrevi o artigo à pressa e a altas horas da noite; no dia seguinte não iria ter tempo e decidi escrever trivialidades sobre atribulações durante as férias. Fiquei espantada porque o artigo acabou por abordar a auto-censura e a liberdade de expressão na Turquia.

Mas o que mais me espantou, é terem sido precisamente jovens holando-turcos a desejar-me as trevas e o inferno acerca de algo que escrevi sobre a Turquia num jornal holandês! Estranho, ver jovens perder as estribeiras por alguém escrever algo sobre a situação na Turquia – um país onde não nasceram, onde não foram criados, onde muito provavelmente nunca irão viver. Um país que só conhecem de ouvir falar e incontestavelmente de umas férias do baril.

Mas no país onde vivem e vão à escola, onde fazem parte da sociedade, onde constroem a sua vida, contestam o direito mais fundamental que o país tem: a liberdade de expressão. O conceito de tolerância é neles pouco desenvolvido, ou mesmo inexistente: tenho que morrer. Seja como for. Por causa de um artigo.

O que me saltou à vista nas ameaças que estes rapazes (e raparigas) me enviaram através da internet foi que:

Pelos avatares do Twitter pude ver que se tratava de jovens com idade compreendida entre 15 e 25 anos. São o futuro da Holanda. Dentro de 10/20 anos vão ingressar no mercado de trabalho. Serão os jornalistas, os políticos, os advogados, os juízes e os condutores de autocarro de amanhã.

Não recebi um tweet sem erros ortográficos. Estamos a falar de mensagens com apenas 140 caracteres e frases com 25 palavras. Todo o tipo de erros emergiram. Muitos tweets eram também escritos em turco.

Os jovens que me enviaram os tweets com ameaças, todos eles, sem excepção, são malta prá frentex. Os rapazes são uns amores vestidos com roupas xpto. As raparigas parece que acabaram de fazer um ‘fotoshoot’ para uma revista de moda. Não são os barbas vestidos de ‘djilábas’ [longa túnica com capucho – cdr] nem mulheres cobertas da cabeça aos pés que tanto receamos e que os serviços-secretos perseguem.

O que me choca nos 2000 tweets que recebi é o descabido ódio à Holanda e seus valores, e ao mesmo tempo a exaltação de tudo o que é turco. Estes jovens, que vão fazer parte do futuro da Holanda, não conseguem interiorizar conceitos como tolerância e liberdade de expressão. E vão ser os jovens que no futuro vão governar a Holanda. A pergunta que se coloca é como…

Estamos a falar de jovens perfeitamente integrados na sociedade holandesa, são os filhos de pessoas da minha geração: terceira geração de holandeses de origem turca.

Apesar de todo o tipo de classificações existentes eles não são outra coisa que: jovens holandeses com uma origem étnica diferente. As únicas diferenças que sobressaem são o lamentável péssimo domínio da língua holandesa e também a excessiva islamização. Como é possível que estas crianças estejam (tanto) sob o domínio do Islão num país cada vez mais ateu? Onde assimilam eles estas coisas? Repito, não estamos a falar de muçulmanos praticantes vestidos de ‘djilábas’ e com longas barbas.

O problema é que o holandês médio não conhece estes jovens. O holandês médio não conhece estrangeiros. E isto não é assim tão estranho: cada macaco fica no seu galho, como se pode verificar nas empresas: porque apesar de haver uma porrada de mulheres com aptidões suficientes para cada função, os homens continuam a empregar outros homens.

Mas por quanto tempo ainda a Holanda vai negar a existência deste tipo de jovens? Ou será que, estimulando iniciativas tais como escolas islâmicas, internatos islâmicos, clubes de futebol amador separados etnicamente, aulas de natação onde as raparigas são separadas dos rapazes, pensamos nos distanciar cada vez mais desta gente?

ACORDEM: esta gente vive cá. Esta gente vai cá ficar. Estamos condenados a viver juntos. Os jovens que me querem matar fazem parte da Holanda de amanhã. E a Holanda de amanhã não pode ser feita com política de paninhos quentes. A Holanda de amanhã não vai ser melhor com bairros só para turcos escondidos na parte sul de Roterdão. A Holanda de amanhã só terá a perder com internatos islâmicos para estes jovens, com aulas de natação separadas, com escolas e universidades islâmicas.

E o que a Holanda de amanhã não pode de maneira nenhuma ter, são políticos que subordinem direitos universais, tais como a igualdade entre os sexos, a uma ou outra religião.

O que a Holanda actualmente precisa é de jornalistas sensatos, com coragem para ver além do seu grupo étnico; de políticos igualmente sensatos, mas com coragem para incutir aos novos imigrantes as nossas normas, conseguidas com sangue, suor e lágrimas; precisa de magistrados que não procurem constantemente circunstâncias atenuantes em folclore cultural como honra, etnicidade e vergonha de perder a face.

E o que a Holanda hoje realmente precisa é de uma imprensa que não enfie a cabeça na areia quando dissidentes são atacados. Uma imprensa que tenha a coragem de dizer: na liberdade de expressão não se toca, ela é de todos nós.

Recuso-me, com todas as minhas forças, a abdicar da Holanda de amanhã. Não foi para isso que os meus pais deixaram o seu país, a sua casa e a sua família.

E agora vou participar à polícia o tsunami de tweets com ameaças que recebi.


P.S. Para os mais interessados: Ebru Umar na wiquipédia holandesa.



17 comentários:

  1. Brilhante artigo. Mulher corajosa.
    Só um pequeno detalhe, os penúltimos três parágrafos deviam estar capitalizados e em negrito. Já que o CdR faz a vida negra aos daltónicos, fazia um favor aos leitores mais duros de ouvido.

    O ultimo paragrafo é uma perda de tempo. A não ser que ela ande a recolher material para outro artigo.

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  2. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  3. Go_dot disse: Já que o CdR faz a vida negra aos daltónicos

    Realmente, desta vez o post parece uma árvore de Natal, como costumam dizer os holandeses. Peço desculpa mas não me vou pôr a berrar ao ouvido dos leitores em negrito, por muito duros de ouvido que sejam – não se esqueça que é uma senhora quem fala, não sou eu…

    Go_dot disse: Mulher corajosa.

    Sobretudo tendo em conta que não é a primeira vez que a agrediram fisicamente na rua. Em Amesterdão!

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  4. Muito bom....transcrevi em https://www.facebook.com/carmojos

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    1. Vou reenviar o elogio à Ebru, acrescentando que se trata de um ex-amigo (mas da família, e estas coisas para os turcos contam mais!); que é perfeitamente da corda (admirador do Mustafa Kemal); e, last but not least, que é bastante romântico (eu sei que ela gosta dessas coisas).

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    2. Ainda continuam à porrada por questões de saias?

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    3. Porrada!

      Ora essa, pelo contrário, estou a fazer um favor a um familiar: a arranjar-lhe um arranjinho com uma turca muitaaaaa boaaaaa....

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  5. Ora Toma, agora a Ebru Umar já sabe do que muitos holandeses falam. Bem-vinda à realidade. Infelizmente quando há críticas ao comportamento destes jovens, as pessoas são logo apelidadas de racistas e populistas. Não! Quero é viver em paz e liberdade, algo que esta gente conflituosa tem muita dificuldade em entender. Em Roma sê romano, é uma velha máxima, mas os bárbaros já estão entre nós (de livre escolha, sublinhe-se). Não é só o futuro da Holanda que está em causa, é todo o futuro da Europa. Porém, descansemos em parte: eles só vão ser uma pequena parte dos jornalistas, advogados, juízes, etc. de amanhã. Social, cultural e economicamente hão-de continuar turcos e cidadãos de segunda ou terceira categoria, por opção.

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    1. “mas os bárbaros já estão entre nós”

      Precisamente cara ‘anónima’ (não estou a revelar muito, pois não? apenas o sexo!).

      Esta sua frase lembra-me o título de um livro que comprei há tempos e que foi escrito por dois jornalistas francious, dois Christophes (Deloire e Dubois):

      Les islamistes sont déjà là: enquête sur une guerre secrète

      Com o querem eles dizer “entre nós”. Bem vistas as coisas a sua frase seria bem mais adequada como título para o livro dos Christophes, mas creio que o editor (ou mesmo os autores) teve receio de um confronto com o que os franceses chamam “la bien pensance”, ou seja, a correctisse política.

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  6. https://www.facebook.com/carmojos
    Para reforçar, escrevi isto...

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  7. "Ora no Holanda estas coisas são para levar muito a sério. Há precedentes. O cineasta Vincent Van Gogh foi morto à facada em pleno dia, em Amesterdão, por um maluquinho de Alá, por causa de um filme sobre o Islão, o político Pim Fortuyn, sofreu a mesma sorte, desta vez às mãos de um idiota útil da extrema esquerda, Geert Wilders ainda não calhou e até Hirsii Ali, uma deputada ex-muçulmana de ascendência somali, teve de fugir para os EUA, por não ser possível garantir a sua segurança.

    Gozar com esta malta, ridicularizar as suas verdades e manias, é, segundo os tolos da correcção política e do multiculturalismo, cometer o gravíssimo pecado da insensibilidade cultural.
    Deus nos livre de ofender os valores desta gente, quem somos nós para nos atrevermos a julgar os outros, nós que somos umas bestas, uns criminosos, porque há não sei quantos séculos o Rei não sei quantos fez não sei o quê.

    Mas a verdade é que é mesmo por aí que temos de ir….gozar com eles, caricaturar-lhes o feioso do profeta, pintar o Alá de cor-de-rosa, vestir o Bin Laden com um vestido de sevilhanas, meter o aitola Khomeiny na cama com Macaco Adriano, etc.
    Porquê?
    Porque eles se chateiam à brava com estas coisas e desatam aos coices, como mulas. Tantos hão-de dar que acabam por se cansar e habituar"

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  8. Inteiramente de acordo com o tratamento que o José Carmo sugere.
    “Gaiola aberta.”.

    Na Holanda existe um excelente blog, nesse estilo. Geen stijl. O “Sem maneiras” não só com uma larga audiência, mas sobretudo uma enorme participação dos leitores.

    O Geen stijl, abriga um bom numero de colunistas, académicos e intelectuais escorraçados da media main stream. Entre eles a Ebru Umar.
    Que por sinal, começou a sua carreira de colunista no blog do Theo van gogh, De Gezonde Roker (O fumador saudável) . Fundado em 1998.

    Link para o ultimo artigo da Da Ebru Umar

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  9. José Carmo e Go_dot, creio que não tenho muito mais a acrescentar. À laia de presente vou introduzir legendas em português numa entrevista com a Ebru no Knevel & van den Brink (programa de entrevistas) e postar.

    Assim sempre se vê a rapariga a mexer. E ela mexe-se tão bem...

    Mas tenham paciência porque não consigo fazer mais depressa do que 45 minutos para 3 minutos de video....

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  10. parece-me que o artigo foi escrito ha muito tempo, ha oito anos pelo menos.

    'Mas por quanto tempo ainda a Holanda vai negar a existência deste tipo de jovens? Ou será que, estimulando iniciativas tais como escolas islâmicas, internatos islâmicos, clubes de futebol amador separados etnicamente, aulas de natação onde as raparigas são separadas dos rapazes, pensamos nos distanciar cada vez mais desta gente?'

    Tsjjj..., foi assim talvez ha oito anos - A realidade dos jovens intolerantes islamicos ainda existe, mas esse outra 'realidade' dum 'feliz' relativismo cultural na politica e nos jornais etc (digamos: a realidade duma ditadura de escquerda politica correcto) ja nao ha, eh uma qimera politica

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  11. Anónimo das 20:58,

    Não creio que o relativismo cultural seja agora uma quimera, o que se passa é que ultimamente há mais resistência. A malta está farta, até mesmo parte da esquerda...

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  12. Falar na 'esquerda' eh tambem uma qimera. A esquerda ja morreu. Vivemos num mundo neo-liberal em que as vigaristas (bancos etc) sao donos e rolmodellen. Um mundo liderado pelo NSA = 'Obama the Drone' = (ehm... o gajo tambem eh de esquerda?) A Esquerda ja morreu, Lamento. O senhor De Rosa, volta comigo. Sei que a sua historia pessoal dum esquerdissima radical (como com quase todos os outros adherentes dum politico virtual de direito que fazem as suas visitas aqui) sera uma pedra nu meio do caminho. Voltar para as proprias raizes nunca seria facil. Mas porque nao? Beter ten halve gedraaid dan ten hele gekeerd. Vamos la, cantando os nossos sonhos em vez de reclamar e ficar com um obsessivo attentencao para os muculmanos. 'Heel het radarwerk staat stil als uw machtige arm het wil!'

    O anonimo de 20:58

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  13. Anónimo, ma non troppo,

    Você nem é de esquerda, nem do centro, nem de direita. Mas não porque seja apolítico ou não goste de política, nada disso - você está sempre bastante bem informado -, mas apenas porque não está para se chatear e sujar as mãos (o João Paulo Sartre escreveu um livro interessantíssimo só sobre este tema: Les mains Salles. Creio que foi traduzido em holandês por Vuile Handen).

    Na realidade até tenho bastante simpatia pelo seu ‘dolce far niente’ político, uma atitude (por vezes) bastante agradável por oposição a outras: a dos que começam a berrar e a insultar à mais pequena divergência – dit is pas vermoeiend...

    O que acho menos simpático, é a sua aversão a dissidentes, sejam eles (ex) muçulmanos, (ex) esquerdistas ou outros, e isso porque obscurece bastante o seu espírito crítico e o faz enterrar a cabeça na areia para não ver o que acontece à sua volta – até mesmo no seu bairro… E, se mais não acontece, devemos agradecer ao Barack Drone Obama e à NSA, que vigiam e escutam o mundo inteiro enquanto dormimos descansados. Diga-me lá sinceramente, com Anjos da Guarda com esta capacidade quem é que precisa de uma religião, ideologia ou ‘survival shelter’?

    Voltando à sua aversão de estimação, ninguém pense que a sua aversão é irracional. De maneira nenhuma, até é bastante trivial. Já por várias vezes tive a ocasião de reparar que um dissidente é para si, à priori, um exaltado, um fanático, um desmesurado. Porquê? Porque ao contrário da sua inamovível e pacata pessoa, o dissidente, além de alguma vez ter defendido UMA opção política, tem agora o descaramento de mudar de opinião para ir defender OUTRA! E ainda por cima tem a desfaçatez de criticar a ANTERIOR! Pior, tem o desplante de mudar de weltanschauung…

    Por isso é que, por muito charmante que a Ebru Umar possa ser, ou por muita razão que ela possa ter, como dissidente da religião dos seus pais nunca terá a sua aprovação. Logicamente você prefere as inalteráveis Meiden van de Halal – precisamente porque são imutáveis, ou seja ….. halal.

    PS Não se esqueça do jantar na sexta-feira! Só para o chatear vamos beber só vinho tinto e comer carne de porco… ah, e penso utilizar o Alcorão para colocar as panelas em cima, como ‘onderzetter’!

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