01 novembro 2013

Câmbio de ideias e de moeda.





Go_dot, um dos mais assíduos comentaristas deste blog, inspirado em vários comentários aos três últimos posts escreveu um curto ensaio sobre a engraçada relação que existe entre ideias e moeda.




O capital das ideias é parecido com as notas de banco: nem todas têm o mesmo valor, mas todas estão sujeitas a inflação e até podem ser postas fora de circulação. Só o banco central é que está autorizado a imprimir nota. O resto é considerado moeda falsa.

A comunicação social funciona como a Agência de Câmbio das ideias, e, de acordo com as autoridades bancárias, dão crédito e decidem das taxas de câmbio.

Talvez por isso é que um dos mais prezados comentadores deste blog - na caixa de comentários do post “Turquia entre dois mortos” - barafustava que blogs e wikipédia não são agências de cambio respeitáveis. Que é preciso ler livros! Que é nos livros que está a verdade! A indignação é humanamente compreensível, sobretudo para quem, depois de ter acumulado um significativo capital de ideias, vê agora as suas ideias desvalorizadas pelos “new kids on the block”…

Infelizmente, a realidade emergente é como o mercado. Não se compadece.
Uns querem impedir, eventualmente pela força, a perda de valor do capital acumulado, outros, querem acumular capital à força. E há mesmo quem abra falência quando se sente arruinado no mercado das ideias, deixando de falar seja do que for – tudo lhe parece arriscado e controverso…

A grande maioria receia mudanças (de ideias) e agarra-se avidamente ao que tem. A única coisa que distribui generosamente é pontapés e caneladas aos culpados da desvalorização: neo-cons; neo-liberais; tabelas de cambio; o desgraçado do Wilders (que distribui moeda falsa e por isso tem a cabeça a prémio); e a malta que simplesmente mudou de banco.

Poucos compreendem a arte de “cut your losses and move on!”. E nem sequer têm a modéstia de dizer muito simplesmente, enganei-me…

Os valores imateriais implícitos na maioria dos comentários neste blog: liberdade, estudo, serenidade, reflexão, paciência, etc. são propriedades indispensáveis para viver numa sociedade livre e tolerante. Nisto estamos todos de acordo.

O problema que se coloca é este: por quanto tempo o nosso ‘mercado’ vai poder suportar este excesso de ideias demasiadamente politicamente correctas? Será que estamos a arruinar valores imateriais, que são os bens imobiliários que sustentam esta civilização? Será que podemos consentir entre nós candongueira com títulos de crédito caducados e desprovidos de qualquer valor? Será que podemos continuar a autorizar a circulação paralela de outras moedas cujo único fim é desvalorizar a nossa?

É essa discussão que a Ebru Umar e o CdR debalde tentam entabular e na minha opinião nunca será pouco debater.

Sem comentários:

Enviar um comentário