23 julho 2014

FLOR, DE VERÃO





Um amigo enviou-me ontem um link com este comentário: “Mortificação da carne, do espírito e de mais qualquer coisa! Quem conseguir ver esta merda até ao fim, tem direito a uma indulgência plenária com remissão de todos os pecados e em data a requerer pelo(a) agraciado(a).”




Abri o link e era o infalível André Rieu em Maastricht na sua incansável missão de popularização da música clássica. (Neste caso preciso a música não é assim tão clássica, mas a abordagem é). Resolvi responder ao meu amigo, que é músico, sobre uma desgraça que me aconteceu recentemente e que tem vagamente a ver com música.

Ó compadre, olhe que há pior!

Mas por favor não pense que andei de propósito a procura de algo para contestar a sua aversão pelo André Rieu! Isto é anterior. É que eu também fui confrontado com uma mortificação da minha carne sem querer e em plenas férias nos Açores durante o Campeonato do Mundo de futebol.

Eu explico:

Num momento em que eu já estava lavadinho e fisicamente recuperado de uma extenuante e longa caminhada à volta de um vulcão na ilha de São Miguel, também já mentalmente preparado para auferir a recompensa a que tinha direito, depois dos deveres culturais a que a minha mulher me obrigou, devidamente instalado com umas cervejas, pão fresco e queijo de São Jorge à minha disposição, mas sobretudo convencido que o canal 1 da RTP iria transmitir o futebol, tal como nos dias anteriores…

Mas não…

Para mal dos meus pecados o jogo de futebol da minha preferência era, desta vez, transmitido na SporTV. Um canal a pagantes que não fazia parte das regalias do apartamento onde me encontrava em Ponta Delgada!!!

O compadre conhece bem a minha afeição pela Santa Bolinha. O compadre sabe que eu suporto tudo menos uma decepção repentina de um projectado imenso prazer. O compadre consegue imaginar que fiquei pior que estragado e com vontade de rachar a tv em duas.

Ó compadre, mas o pior ainda estava para vir. A RTP, em vez do futebol, propunha-me poesia de verão cantada por três raparigas em cuecas a partir da sua terra natal – Espinho…

Se conseguir ouvir sem vomitar, dê atenção à letra, ou seja, a esta moderna poesia espalhada aos quatro ventos numa terra que se gaba de, e que vive de Camões.

A cantora chama-se Flor. A música tem título: Vais levar tau-tau, e até tem direito a autores entre parêntesis! (Carlos Soares / José C. Monteiro). Os autores não têm vergonha na puta da tromba! Poderiam ter feito o biscate, metiam o cacau ao bolso e moita carrasco, já não está cá quem falou…



P.S. Neste blogue uma interessante discussão sobre André Rieu.






3 comentários:

  1. É verdade! Agora a televisão está assim e em todos os canais (menos na Dois é claro)! Aos domingos temos três programas em simultâneo absolutamente iguais! A receita dos agrupamentos musicais também é sempre a mesma: N músicos a acompanhar um ou uma interprete ornamentados com três ou quatro miúdas muuuito boooas em atitudes de dança! As músicas, para além de serem dum gosto abjecto, são praticamente todas iguais.

    Mas assim é que está bem! Os intelectuais como eu tu e outros quejandos que se fodam. Já foi tempo, quando se fazia televisão para as elites e povo comia e calava; agora é o povo que faz a televisão! O problema é que o povo não é grande coisa a fazer televisão. Mas em todo o caso o povo fica contente e... "Quando o povo está contente, César está contente!"

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  2. Resumindo, a política de fazer de cada membro do povo um César falhou redondamente.

    E tudo começou quando começaram a cantar O POVO É QUEM MAIS ORDENA...etc, etc. Vemos agora o resultado!!! Creio que o pobre do José Afonso já se virou três vezes no caixão e está completamente arrependido de certas coisas que disse.

    Mas Deus perdoa – ele na altura estava sob a má influência e companhia de dois irmãos alentejanos muito broncos que só ejaculavam foices e martelos – e parece que ainda ejaculam!.

    Ó Rui, mas olha que eu não sou um intelectual, agora imagina que fosse!

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    1. Atão não és?!!! Intelectual é aquele que pugna pelo uso da cornadura... julgo que é o nosso caso, porra!

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