Alternative für Deutschland (Alternativa
para a Alemanha), o novo partido alemão está-se a tornar de dia para dia uma
alternativa para os outros partidos.
Mas estas
comparações são superficiais. Não só a senhora Petry (41 anos) é de outra
geração que Merkel (62 anos), como também, e o mais importante, em temperamento
e convicções políticas as diferenças entre as duas mulheres não podem ser
maiores.
Merkel é uma
política prudente, de consenso, que se exprime sempre em termos vagos e difícil
de catalogar ideologicamente. Mas por vezes lá toma uma decisão drástica - como
no ano passado com a aceitação em massa dos refugiados da Síria ou
anteriormente com a sua repentina opção contra a energia nuclear.
Petry é o seu
contrário. É a anti-Merkel, sempre à procura do debate e desafio do poder
estabelecido: eloquente, arrebatada, provocadora.
Não é por acaso
que a rápida perda de popularidade de Merkel e do seu partido (CDU) vai de par
com a crescente popularidade do AfD, o partido de Petry. A aversão contra a
política de Merkel em relação aos refugiados é o motor do crescimento do AfD,
um partido de protesto com apenas três anos.
Em
eleições recentes no estado Mecklenburg-Vorpommern, que é o distrito eleitoral da
senhora Merkel, o partido de Petry conseguiu mais votos que o CDU - uma
humilhação para a Chanceler alemã.
Entrevista com
Frauke Petry no parlamento distrital de Saksen, em Dresden, e publicada no
último sábado no diário holandês NRC.
O seu partido afirma que o Islão não pertence à
Alemanha. Você é contra a existência de mesquitas em Dresden e outras cidades?
Nós achamos que a
população deve ser consultada acerca da construção de templos religiosos, não
somente mesquitas.
Mas a liberdade de culto não está assente na
constituição alemã?
Reconhecemos a
liberdade de culto. Nada temos contra mesquitas, sim contra a chamada para a
reza e minaretes. O islão, com as suas exigências políticas, difere
substancialmente do cristianismo secular tal como funciona na Europa, com uma
acentuada diferença entre Igreja e Estado. Inquéritos efectuados entre
muçulmanos na Europa dizem-nos que metade dos respondentes estão dispostos a
colocar a sharia (lei islâmica) acima do direito constitucional em caso de
necessidade. Isso significa que o Islão forma um perigo para a democracia e
para o estado de direito. Achámos que a religião é algo da esfera privada que
deve estar fora do âmbito dos interesses do estado, e por conseguinte não deve
ter objectivos políticos.
Então, você respeita a liberdade de culto excepto
para uma religião? Ou há mais religiões que não pertencem à Alemanha?
Nós achamos que o
Islão não pertence à Alemanha, mas muçulmanos alemães sim. A situação que
existe em países muçulmanos não a queremos ver aqui copiada. Não queremos que a
Alemanha vire de repente muçulmana. Temos membros muçulmanos no nosso partido
que dizem precisamente o que eu acabei de dizer. Mas como isso não faz parte da
imagem cliché nunca passa na imprensa.
A sua juventude na DDR foi determinante para a sua
personalidade?
Evidentemente. Quem é
que não teve a sua personalidade determinada na juventude? Só temos que nos
perguntar qual o tipo de pessoa é o mais vantajoso para a democracia: pessoas que
aceitam tudo tal e qual como está, ou pessoas que consideram o debate
precisamente um caminho para a resolução de problemas. Eu acho que numa
democracia a controvérsia é necessária.
Você tinha algumas expectativas quando há onze
anos Angela Merkel chegou ao poder?
Nunca percebi muito
bem a histeria à volta da sua pessoa. O seu passado nunca foi um segredo, ela
sempre foi assaz fiel ao regime da DDR. Ela era, e é, uma filha do socialismo.
Eu venho dum ambiente bastante crítico em relação à DDR e nunca compreendi como
uma líder da agitação e propaganda da FDJ [Juventude Alemã Livre, o movimento
oficial da juventude comunista, red.] pudesse vir a ser a Chanceler. Para mim
isto é uma anedota da história.
O ela ter sido
tão bajulada foi muito difícil de engolir para todos os alemães que passaram um
mau bocado sob a ditadura comunista. Como os meus pais, que eram bastantes
críticos em relação ao regime e foram por isso lesados na sua carreira
profissional.
Qual é a maior culpa que atribui a Merkel?
Pergunto-me se
ela tem convicções. Durante a revolução pacífica na DDR ela parece ter dito que
a união da Alemanha não era o grande objectivo, mas sim um socialismo
democrático e ecológico. E se virmos como se encontra hoje em dia o CDU, que se
parece cada vez mais com o SPD (social-democrata), constatamos que ela enfia
consequentemente princípios socialistas num partido conservador; da mudança do
tipo de energia até ao salário mínimo não esquecendo a política dos refugiados,
em que contra a vontade da população abriu as fronteiras provocando enormes
danos ao país.
Contra a vontade da população, diz você, mas não
seria melhor dizer contra a vontade do seu partido? Uma grande parte dos
alemães ainda a apoia.
Mas segundo
recentes inquéritos 80% da população é contra a sua política dos refugiados,
agora que se tornou claro quão grande é a quantidade de imigração ilegal. No
princípio isso não era visível, porque a imprensa fazia todo o possível para apresentar
este fenómeno da maneira mais positiva possível. Tínhamos a sensação que o
acolhimento de falsos e verdadeiros refugiados com brinquedos e ramos de flores
se tinha tornado numa nova religião.
A imprensa falava
sempre em refugiados, não fazia a diferença entre verdadeiros refugiados e
migrantes ilegais, dos quais temos agora 500.000, pessoas que não têm direito a
asilo político. Para estas pessoas não se deveria colocar o problema da sua
integração. Deveriam simplesmente abandonar o país. Mas até hoje nada foi
feito.
Você estudou na Inglaterra?
Sim, em Reading.
Isso modificou a sua visão da Alemanha?
Absolutamente.
Contactava com outros estudantes vindos do mundo inteiro e dei-me conta que
fora da Alemanha havia mais interesse por questões relacionadas com a Alemanha,
como a União da Alemanha por exemplo, do que no seu interior.
Reparei que o
sentimento nacional na Alemanha era completamente subdesenvolvido. Sobretudo na
Alemanha Ocidental, onde de preferência dizem que não são alemães. Quando muito
dizem que são europeus, só para não terem que explicar que vêm da Alemanha.
Este renegar da nacionalidade parecia-me ainda mais absurdo ao ver que os
gregos, ingleses, franceses e portugueses tinham muito simplesmente orgulho nos
seus países.
É preciso ainda
acrescentar que muitos cidadãos da DDR estavam bem contentes por vir a fazer
parte de uma Alemanha unida. Na DDR a palavra 'Alemanha' era um tabu na
linguagem oficial. Mas deram-se de conta que também na parte Ocidental não se podia
ser simplesmente alemão. E só me dei conta disto a partir do estrangeiro.
Mas estou
absolutamente convicta que patriotismo é um sentimento normal. Como podemos nós
nos esforçar por um país que não gostamos? O nosso partido (AfD) é o único que
não tem problemas com patriotismo. Tenho que reconhecer que ultimamente o CDU
(partido de Merkel) está a recuperar ligeiramente.
Você acha que a Alemanha tem uma especial
responsabilidade na Europa?
Como país no
coração da Europa não nos podemos dar ao luxo de seguir uma política
isolacionista. Mas vemos que a Chanceler alemã nos últimos anos teve uma
política isolacionista, por exemplo operando de forma solista em relação ao
problema dos refugiados. Neste caso podemos quase falar de política
isolacionista.
Nós achamos o
mercado interno europeu uma excelente descoberta. Mas somos contra uma
harmonização forçada no seio da União Europeia. Pensei que com a queda da
Cortina de Ferro esta mania das igualdades já tinha acabado. Nós somos críticos
em relação à Europa, não somos anti-Europa.
Desde o fim da Segunda-Guerra mundial que a Alemanha
se esforçou por uma ligação com o mundo ocidental. Você quer manter essa
política?
Somos a favor da
NATO, mas achamos que a dominância americana deve ser reduzida. Tendo em conta
a geografia, a Alemanha encontra-se no centro e por isso acho lógico que
tenhamos também boas relações com a Rússia. A União Europeia, a NATO e os EUA
intrometem-se de forma intolerável no conflito da Ucrânia.
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