26 junho 2017

RAMADÃO




RAMADÃO

Todos os anos a imprensa ocidental (sobretudo a do norte da Europa) apressa-se a informar os não-muçulmanos - como se a malta estivesse muito interessada! - sobre o início e o fim do período do Ramadão. Fiquei a saber que este ano calhou entre 26 de Maio e 24 de Junho.



Para os muçulmanos trata-se de jejuar anualmente entre o nascer e o pôr do sol durante o período de um mês lunar. Juntamente com o testemunho de fé (em Alá), cinco orações diárias, dar esmola e pelo menos uma peregrinação à Meca, é oficialmente um dos cinco pilares da religião islâmica. Todos os muçulmanos dizem cumprir o Ramadão à risca, porque ao contrário dos laparotos ocidentais com veleiddades multiculturalistas, os muçulmanos sabem que "islão" significa "submissão" e não "paz". Mas como o muçulmano não é diferente do resto dos mortais, há sempre uns quantos que nos momentos mais difíceis fazem de conta.

Ramadão durante o dia

Precisamente para manter a malta focada, os clérigos aproveitam o período do Ramadão para enaltecer o lado espiritual e ideológico do Islão, despertando actividades explosivas e proibindo outras, mais prosaicas. Como comer, beber, fumar e coisar durante o dia. Está-se mesmo a ver que estes suplícios vão apenas exasperar ainda mais o estado de espírito do muçulmano, já de si bastante irritadiço de tanta proibição durante o resto do ano. Muçulmanos recentemente chegados à Holanda andaram ultimamente à chapada durante o Ramadão com cristãos vindos da Síria num centro de acolhimento para refugiados. Não queriam estar tão perto de gente a comer!!!

Como a maioria dos muçulmanos dá mais importância ao decoro e às aparências do que ao aspecto espiritual da coisa, não é de estranhar que alguns se lembrem de comer uma barra de chocolate ou duas bananas no secretismo de uma retrete. Mesmo na ateia e tolerante Holanda, vi amiúde muçulmanos 'escondidos' em associações ou tascas portuguesas, longe da mesquita e da pressão social da inquisição maometana, a beber vinho tinto alentejano com alto teor de "al-kuhul". Em Marrocos, pela mesma altura e mesma razão, os locais costumam frequentar os 'lounges' de hotéis internacionais. Um local seguro, onde o consumo de álcool é tolerado devido à presença de turistas (ler infiéis). Num local deste tipo os muçulmanos presentes são irremediavelmente solidários entre eles; ou bebemos todos ou há moralidade...

Ramadão durante a noite

Cansado de passar o dia a confundir sede e fome imposta socialmente com espiritualidade, mal o sol se esconde atrás do prédio mais alto que o muçulmano corre para casa para se empanturrar a noite inteira até dizer "ó Fátima, já chega!" Todos os anos a venda de produtos alimentares nos supermercados holandeses aumenta consideravelmente durante o Ramadão. O que significa que é precisamente neste período do ano que os muçulmanos mais enchem o bandulho...

Segundo o escritor marroquino Hafid Bouazza, "o espalhafatoso folclore do Ramadão começa a ser o equivalente da 'zebiba': nódoa na testa de tanto rezar, tão típica de fundamentalistas. No final esta tradição resume-se em privação física e aumento da criminalidade juvenil (até existe nas esquadras da polícia holandesa o conceito 'faxina do ramadão') e nada tem a ver com espiritualidade. Lembra-me um diálogo entre um jovem ladrão de bicicletas marroquino e um funcionário da polícia, em que o rapaz diz: 'não roubei a bicicleta, estamos no Ramadão e roubar neste período é pecado'. Responde o polícia: 'mas então, podes roubar fora do período do Ramadão?'. O rapaz: 'Não, mas no período do Ramadão é que não posso mesmo roubar'. Orgulhoso de ter uma razão extra e externa para se manter no bom caminho e ainda por cima exigir compreensão para o seu orgulho, é o princípio da decadência."

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