16 janeiro 2013

País de bandidos!



Uma forma inteligente de protesto.

Ultimamente recebo de amigos amiúde e através de mail este tipo de queixas do nosso país, ou melhor, dos seus governantes.

O amigo diz-me:

Pelos vistos alguém decidiu fazer aquilo que venho advogando há vários anos... Claro que as consequências vão ser as mesmas de sempre, ou seja, nenhumas; mas isso num país governado por bandidos não é de estranhar...

Mas eu acho que a formulação do meu amigo, apesar de atolado até ao pescoço no país (ou talvez por isso mesmo!), é exagerada e não corresponde à realidade. Portugal não é um país governado por bandidos. Para isso era preciso que Portugal fosse um país de bandidos.



Um país de bandidos é, na minha opinião, por exemplo a Rússia, a Líbia ou o México. Podemos lá chegar, mas por enquanto somos ‘apenas’ um país de costumes brandos - mas sobretudo de memória curta e princípios demasiadamente flexíveis. É verdade que temos um lado trafulha e que a indignação que isso provoca na gente séria é compreensivelmente acometida de frustração: porque poderia ser um excelente ponto de partida para iniciativas de protesto, mas não, normalmente revigora apenas a nossa tendência para o fatalismo.

Escavacar o erário público

Resumindo, como no passado, creio que pouca gente neste país demonstra realmente vontade e iniciativa para alterar seja o que for. E quando raramente o fazem, já é azar, não percebem que escavacar o erário público, apedrejar agentes da autoridade, ou fulminar contra os políticos que eles próprios democraticamente escolheram não adianta, é apenas um escape que vai custar (mais) dinheiro ao Estado.

O Estado a substituir a mãe

Tenho a impressão que as antigas preces ao Altíssimo são agora substituídas por exigências absurdas ao Estado. O Estado tem que nos dar casa! O Estado tem que nos dar trabalho! Noto nisto a influência de compatriotas completamente desligados da realidade que continuam a acreditar em soluções baseadas em teorias do século dezanove que na prática sempre acabaram em ditadura e campos de concentração - com direito a uma festa por ano: A Festa do Avante.

Num país com estas características é perfeitamente natural e lógico que os seus governantes correspondam de alguma forma à matéria prima – sejam um reflexo da população. Um país de trafulhas e com uma população pouco educada mas governado apenas por gente séria e competente é de louvar, mas é muito pouco provável e algo nunca visto em qualquer parte do mundo. (Gostaria que alguém me apontasse um exemplo!).

Sílvio Berlusconi a tratar das nossas finanças

Esta situação poderia ser resolvida como já o fazemos no futebol: contratamos estrangeiros competentes e sérios, e pagos a peso de ouro, para dirigir os nossos ministérios. Mas os nossos trafulhas, legitimados pela maioria, colocar-se-iam estrategicamente em lugares de decisão e contratariam inevitavelmente estrangeiros à sua imagem. E assim, em vez do sério e competente Victor Gaspar, teríamos, na melhor das hipóteses, o Sílvio Berlusconi a tratar das nossas finanças… Na pior, numa opção progressista, de esquerda, seria o Robert Mugabe ou o Hugo Chavez! Talvez o Vladimir Putin! E porque não Bo Xilai, membro do Comité Central do Partido Comunista Chinês actualmente preso e sem emprego? Pior a emenda que o soneto, não acham?

Outra forma de protesto mais branda e actualmente muito na moda são as cartas-abertas. O tema é a crise que atravessa o país e a culpa é invariavelmente atribuída ao actual governo e patrioticamente a pessoas ou instituições de fora (FMI e a senhora Merkel, que foram nomeadamente por nós convidadas para tentar resolver os nossos problemas!!!).

Carta-aberta do escritor Mário de Carvalho

Depois de nos informar que no seu país são os ricos quem mandam, como se se tratasse de um defeito particular ou de uma singularidade só existente no nosso país (!), o escritor Mário de Carvalho culpa sobretudo uma pessoa rica: a Senhora Isabel Jonet. Mas ao contrário das outras cartas-abertas e da imprensa nacional, onde a senhora foi previamente declarada como exemplo máximo de perfídia: uma pessoa rica, viajada e que come bifes, fá-lo, verdade se diga, com bastante charme e subtileza. Mas com os estrangeiros Mário de Carvalho é muito menos atencioso, e aconselha: ‘pisar a livralhada de Milton Friedman e cuspir no retrato emoldurado da Senhora Thatcher.’





7 comentários:

  1. Eish... Por onde começar...

    "O Estado a substituir a mãe"

    O estado português é sem dúvida uma mãe, como o Ricardo Salgado, o Fernando Ulrich e toda a corja de banqueiros tugas podem atestar. Depois ainda existem os funcionários públicos, cobertos de benesses quando os seus votos foram necessários mas que agora já são a fonte de todos os males.

    Se calhar andou a ler o Caminho da Servidão do Frederico Hayek: vai reparar que durante os 40 anos que se seguiram à escrita do livro, as politicas seguidas foram exactamente opostas ao que HAyek recomendava e o mundo ocidental nunca foi tão livre como nessa altura.

    Apenas agora que a Liberdade anda na boca de muita gente é que as nossas liberdades pessoais estão a ser completamente violentadas: uma activista, a Myriam Zaluar vai a julgamento pelo crime de manifestação não autorizada quando, com mais 3 pessoas, distribuia panfletos informativos a respeito de direitos laborais à porta de um Centro de Emprego.

    E consta que o Comité Central ainda não governa Portugal. Aliás nunca governou mas são os culpados de tudo. Tá bem.


    "Sílvio Berlusconi a tratar das nossas finanças"

    Até podiam vir o Mises ou o Keynes da cova para nos governar. Se fizessem o que este governo faz, que é canalizar os recursos de todos para os poucos que há 150 anos, mais coisa menos coisa, nos controlam fariam exactamente a mesma figura.

    Estado Social é dar um pouquinho dos que têm muito aos que têm menos, garantir uma educação de qualidade e acesso a cuidados de saúde. Estado Social não consiste em clientelismo, corrupção, amiguismo e afins. E é estranho, sempre que há um protesto de rua, vem a direita toda esbaforida, com pesadelos que vão da Bastilha à Concordia a falar da legitimidade democrática do governo. No caso do Chavez parece que essa legitimidade já não conta para nada. Tá bem.


    "Carta-aberta do escritor Mário de Carvalho"

    O Mario de Carvalho é um senhor. E a Isabel Janada é uma tia que gosta de ter muitos pobres de estimação. Ela que enfie a caridade no cú. Apesar de rimarem não há dignidade na caridade. Há apenas restos que são atirados a quem não tem. Só lhe faltou mesmo falar em "pobres mas honrados." bom, o Lobo Antunes explica melhor que eu.

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  2. ‘pisar a livralhada de Milton Friedman e cuspir no retrato emoldurado da Senhora Thatcher.’

    :D

    É como começo o dia, mas cuspo também no retrato do ronnie, do hayek e do mises. ;)

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  3. “O estado português é sem dúvida uma mãe,”

    Wyrm,

    Mas não achas que já temos idade para ir à escola pelo nosso pé (sem ser a mamã ou papá a levar-nos de carro), e para lavar a nossa própria roupa, e para fazer o tacho e lavar a louça?

    Tu próprio és o exemplo a dar.

    Em vez de berrar à Mamá-Estado: quero casa e emprego! foste à procura por mares já um bocadinho navegados, passaste ainda além de Medina del Campo em perigos e guerras esforçados, mais do que permitia a força humana e entre gente remota, de direita, no coração do capitalismo e onde faz um frio de rachar, edificaste um Novo Reino onde não és obrigado a ir à Festa do Avante para ser um tipo OK.

    “Myriam Zaluar vai a julgamento”

    Não sei quem é a senhora, mas se há julgamento isso poderia significar algo de positivo, que a justiça funciona! Mas não é essa a ideia que eu tenho…

    “E consta que o Comité Central ainda não governa Portugal.”

    Salvo seja. Cruzes cruzes canhoto…

    Mas não digo que o Comité Central seja culpado de tudo (lembra-te do Sócrates e do Cavaco), mas de alguma coisa é. É pelo menos culpado por não admitir de uma vez por todas que os trabalhadores nos países capitalistas são mais bem tratados e muito mais bem pagos que nos paraísos socialistas onde o comité central se inspira para passar a vida a vendar gato por lebre.

    Não achas que seria fantástico o Comité Central esquecer todas as asneiras ideológicas e demagogia do passado? Admitir, por muito que isso custe, que o capitalismo tem algumas coisitas agradáveis - nem que seja as tenistas, que são muito mais boas que no tempo da DDR - e partisse de zero para defender REALMENTE os interesses das classes trabalhadoras que tanto precisam? (a pergunta é extensiva ao comité do Bloco claro).

    “Estado Social é dar um pouquinho dos que têm muito aos que têm menos, garantir uma educação de qualidade e acesso a cuidados de saúde.”

    Nada em contra, mas isso é a mesma CARIDADE que tu querias enfiar no cu da tia Jonet!!!

    O Estado Social, a educação e a saúde não são pagos com esmolas - são pagos com o dinheiro que o Estado recebe do lucro das empresas (da sua capacidade de criar capital). Muitas empresas, com muito lucro, significa dinheiro suficiente para actividades sociais, educação e saúde. (Caso paguem normalmente ao fisco, mas isso é outro tema)

    Poucas empresas, ou pouco lucro, significa que o Estado vai receber menos e de nada serve aos diferentes Comités Centrais abanarem com a Constituição ou atirarem pedras aos pobres polícias. Os pobres vão continuar dependentes da igreja e da tia Jonet.

    Já dizia o Marx:

    Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma…..em capital.

    PS. Ouve lá, não queres ir no Sábado aquele café que a gente conhece, comer a melhor torta de maçã de Amesterdão e arredores?

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  4. "Até podiam vir o Mises ou o Keynes da cova para nos governar. Se fizessem o que este governo faz, que é canalizar os recursos de todos para os poucos que há 150 anos, mais coisa menos coisa, nos controlam fariam exactamente a mesma figura. "

    Wym,
    não é nada claro que o keynes estivesse contra a bancocracia atual, antes pelo contrario. Se reparar, todos os economistas "keynesianos", isto é, socialistas, estão a favor da lógica "os bancos não podem falir, e se estiverem falidos, os contribuintes pagam a recapitalização."

    No que respeita a Portugal, o apoio aos Bancos não começou com este governo. Começou e tomou dimensões de grandessissima roubalheira no governo de Sócrates quando decidiram nacionalizar as consequencias da má gestão do BPN e do BPP.
    Também foi nos governos socialistas que o conluio "banca-grandes empresas-politicos", e a consequente politica de obras publicas que empobreceu os portugueses e enriqueceu os do costume desde há 150 anos, tomou dimensões desconhecidas. O cumulo da promiscuidade tem até uma cara: Jorge Coelho, politico socialista, CEO da Mota-Engil. Palavras para quê?

    A este respeito, aquilo que pode dizer - e dirá muito bem - é que este governo é tão socialista quanto o anterior porque mantém a mesma lógica de favorecimento dos bancos. A unica coisa que mudou foi a politica de obras faraonicas, mas mudou porque acabou o dinheiro, e não porque tenha mudado a logica socialista de compra de votos dos pategos com rotundas, estadios, autoestradas e subsidio ao ocio.

    Eu, que não sou socialista, sou contra a nacionalização dos prejuízos da Banca; os prejuízos da Banca são pra ser assumidos por quem deposita dinheiro em bancos geridos por escroques bem como pelos proprios escroques.
    Eu, que não sou socialista, sou contra os negocios das obras publicas faraonicas que engordaram politicos, empresas e bancos encostados ao poder politico.
    E vc?

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  5. Carmo da Rosa,

    "Não sei quem é a senhora, mas se há julgamento isso poderia significar algo de positivo, que a justiça funciona! Mas não é essa a ideia que eu tenho…"

    Quando o Zé Estalinha governava os soviétticos a justiça também funcionava: ia a tribunal e era funcionado para uma valeta ou para um gulag fazer botas até morrer. Não quer dizer que houvesse de facto justiça. Esta rapariga vai a julgamento pelo crime hediondo de distribuir panfletos à porta de um Centro de Emprego juntamente com 3 pessoas, logo, uma "manifestação não autorizada."

    "Nada em contra, mas isso é a mesma CARIDADE que tu querias enfiar no cu da tia Jonet!!!"

    Claro que não. Mas tendo em conta a distribuição de riqueza actual bastaria a quem ter mais ter um pouquinho menos para que quem tem menos passasse a ter muito mais.

    "Poucas empresas, ou pouco lucro, significa que o Estado vai receber menos"

    Concordo. O estado tem de criar condições para deixar as empresas trabalhar. E tem de haver mecanismos de distribuição eficientes que garantam um mínimo de bem estar e dignidade num país. Impostos são o que pagamos por um país civilizado. E um país civilizado é composto por uma população educada, motivada que trabalha e consome. Ficaríamos todos a ganhar. Se isto faze de mim um socialista danado, seja!

    "Ouve lá, não queres ir no Sábado aquele café que a gente conhece, comer a melhor torta de maçã de Amesterdão e arredores?"

    Teria sido fixe sim, mas só vi o comentário agora. Eu depois envio um mail com o número de telefone que estou a usar pois sentei-me, sem querer, no meu telefone pessoal. Agora só o da empresa durante uns tempos. Para a semana é que era porreiro mas teria de ser por volta das 14:00 porque as minhas manhãs de sábado são ocupadas por, valha-me deus, aulas de esgrima medieval. Nada de floretes florzinhas, é com claymores e broadswords como o braço que tenho feito num 8 pode atestar. Eu depois conto! ;)

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  6. Paulo Porto,

    Não sei o que entende por "socialista" mas parece-me que é "coisas que não gosto."

    Eu considero-me social democrata, para que conste. Mas o que se passa em Portugal não tem nada a ver com ideologia. Tem a ver com o jogo de interesses por parte das velhas "elites" que têm ambos os principais partidos a trabalhar para eles. Se o PS estivesse no poder estaria a tomar exactamente as mesmas medidas.

    Mas acho sempre admirável que atirem a culpa do BPN para o PS quando a SNL é um antro de boys alumni do PSD. Mas agora a direita já se farta de guinxar que o Banif é liderado pelo Amado por quem não nutro qualquer simpatia.

    Em relação à nacionalização da banca pode chamar-lhe socialismo se quiser, eu chamo-lhe crony capitalism. Dizer que ambos são a mesma coisa é atirar areia para os olhos. Mas eu, como não sou fanático e não acredito em terra queimada, acho que se há risco sistémico derivado da falência de um banco o Estado deve intervir. Mas não apenas para atirar com o prejuízo para os contribuintes, mas para garantir que não se instale o caos e a incerteza no sistema financeiro de um país. Se não devolverem o banco a quem o mandou abaixo depois de passada a tormenta deixa de se por o problema do moral hazard.

    Em relação a obras públicas, digamos que tive mesmo a certeza que tinha de sair do meu país quando soube que iam construir 10 estadios 10! para receber aquela estupidez de torneio de bola.

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  7. Wyrm: ”Não quer dizer que houvesse de facto justiça [na União Soviética]”

    Wyrm,

    Bem visto: condenar não significa que houvesse justiça. Ainda hoje os tribunais e os julgamentos na Rússia deixam muito a desejar. Mas, não querendo fugir com o cu à seringa, e se é verdade o que dizes, a rapariga tem todo o direito de distribuir panfletos onde quer e lhe apetece e a desculpa parva de “manifestação não autorizada” é conversa de ditadura tacanha.

    Resumindo, ou há realmente democracia ou parte-se o carro do ministro da justiça (com ele lá dentro) – será que estou a incitar à violência? Então estou a incitar à violência.

    “….a distribuição de riqueza actual bastaria a quem tem mais ter um pouquinho menos para que quem tem menos passasse a ter muito mais.”

    Não creio que bastaria. O problema é que a pouca riqueza que existe é emprestada pelo FMI, e a ideia não é distribui-la como prenda de Natal pela população, porque já está destinada a utentes mais prioritários: pagar os encargos do Estado (falido), ou seja, salários dos funcionários, subsídios de desemprego e reformas.

    Mas estou de acordo contigo para que se elimine o mais possível as enormes clivagens salariais e as absurdas e imorais benesses dos funcionários do Estado – DE UM PONTO DE VISTA MORAL E ÉTICO, sabendo de antemão que tocar nestas coisas não vai resolver de maneira nenhuma a economia do país. Vejo isto simplesmente como um questão de princípios. De solidariedade.

    Mas o “simplesmente” não significa que isto não seja importante – ACHO ISTO MUITO IMPORTANTE. Porque, como tu dizes, vai servir para motivar parte da população a trabalhar (com um pouco mais de prazer) e a consumir (um pouco mais). Digo “parte da população” porque, como tu sabes, por muito honesto que o Passos Coelho seja (hipoteticamente, claro), os comunas vão continuar a gritar ‘ó da Guarda que nos estão a roubar! Aqui não há nada a fazer, está nos glóbulos (vermelhos).

    “O estado tem de criar condições para deixar as empresas trabalhar.”

    Precisamente. Estas são as funções do Estado:

    - FACILITAR (penso em logística e não em corrupção) a vida a quem cria capital. Capital que, se fiscalmente tudo correr bem, reverte como impostos para o Estado.

    - Com esses impostos o Estado FORMA e CRIA condições para que a população seja suficientemente educada para criar capital, que vai reverter novamente para o Estado. O perpétuo móbil não pode parar. Porque parar é mor………., pedir emprestado ao FMI com todas as consequências que isso acarreta. (Partilho a opinião do grande economista americano e bastante canhoto, Kenneth Galbraith: “pagar impostos é exemplo de civismo”).

    PS Na próxima semana às 14 horas porreiro. Trás a mulher, mas não tragas as espadas que eu prometo não mandar muitas bocas neo-connistas. Mas envia o número de telefone para confirmar a coisa. Estou curiosíssimo: “esgrima medieval”!!! Não será por acaso para melhor combater o Islão?

    O convite para no próximo Sábado comer a melhor torta de maça de Amesterdão é extensiva ao Paulo Porto, mas eu não creio que ele arrisque, porque além da grande distância está um frio de rachar os pneus dos carros.

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