12 janeiro 2015

HOUDINI FAIT DISPARAÎTRE CHARLIE


Escrever um artigo de 470 palavras sobre os atentados de Paris sem mencionar uma única vez a palavra ISLÃO é obra de um Houdini da retórica...


Como tantas outras pessoas nestes dias (não sou o único maluquinho) passo o meu rico tempo a ler artigos de jornais, a ver o que nos diz a TV (muito pouco!) e a espiolhar na internet todo o tipo de opiniões sobre os atentados em Paris.

A tragédia é-me apresentada sobre todos os ângulos possíveis. Uns dizem que tudo isto teria sido evitado se o Charlie Hebdo se limitasse a caricaturar o Sarkozy ou o Papa. Outros dizem que o melhor é deixar o desenho para as criancinhas. Ainda outros acham que até desenhos de crianças podem ser perigosos e que o melhor é a gente só falar de poesia, porque assim estamos todos de acordo e ninguém se zanga... Mas que fazer quando algum cabrão, como o Salmão, se lembra de estragar a festa da paz escrevendo Versículos Satânicos?

De qualquer forma, o artigo mais interessante que li por essa blogosfera fora foi precisamente num site português. O próprio autor, num rasgo de modéstia, diz a certa altura e eu não desminto, que 'ultrapassa os prodígios da mais fértil imaginação'. O colunista conseguiu realmente o impossível, que foi escrever um artigo de 470 palavras sobre os últimos acontecimentos em Paris sem mencionar uma única vez a palavra ISLÃO....

Estamos aqui confrontados com um Houdini (Huri Geller, para os mais novos) da retórica. Porque escrever um texto de 470 palavras sem UMA referência à palavra fatídica, é o mesmo que atravessar o Tejo do Cais das Colunas até Cacilhas, a nado, sem se molhar! Ou então, utilizando uma imagem mais moderna, lembra-me a TV-americana. Na tv-americana quando alguém diz um palavrão, este é automaticamente substituído por um apito. Os adultos sabem a razão do apito, e até conseguem imaginar o que foi dito no lugar do apito. As criancinhas também sabem, mas fazem de conta, e assim, os palavrões substituídos por apitos, são a salvaguarda da paz no seio da família americana.

Escrever um texto de 470 palavras sobre os atentados em Paris sem mencionar uma só vez a palavra chave, é, também, e da mesma maneira um enorme esforço a favor da paz no mundo. Aliás o autor, preocupado, coloca a pergunta retórica: 'ninguém parece ser capaz de nos poder defender de uma situação semelhante no futuro', para imediatamente avançar com uma tentativa: 'a solução é mais democracia'.

Neste ponto não concordo com o autor. Mexer com a democracia implica longos processos políticos com resultados imprevisíveis. Não, acho que a única solução viável é fazer precisamente o que ele fez, enfiar um apito nos cornos que reage a palavras controversas: islão, piiiiip; sharia, piiiiip; Jihad piiiiiip....

E quem também já meteu um apito na caixa córnea foi o Hans Teeuwen, humorista holandês e grande amigo de Theo van Gogh. Têm a tradução da sua curta palestra a seguir ao vídeo:



Islão, islão. Toda a gente fala do islão. Nós temos mas é que falar no verdadeiro islão. É evidente que o verdadeiro islão não é a Al Qaida, nem o Boko Haram, nem o Hezbollah, nem o Estado Islâmico ou o Hamas. O verdadeiro islão não atira um avião contra um prédio, o verdadeiro islão não reprime as mulheres ou enforca homossexuais, ou viola menores, ou coloca bombas em autocarros ou comboios, ou no metro.

O autêntico, o verdadeiro islão, nunca cortaria a cabeça a jornalistas. Mas que coisa! O autêntico, o verdadeiro islão, adora cartoonistas, acho-os uns amores e gosta muito de sátira e aceita perfeitamente a crítica. O verdadeiro islão nunca nos deceparia a cabeça - é claro que não. O verdadeiro islão acha que a cabeça deve ficar no seu sítio. Porque o autêntico, o verdadeiro islão, é amor. Como é possível as pessoas não se darem conta?

3 comentários:

  1. Na idade adulta, quem acredita ainda no pai Natal?

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    1. É realmente impressionante esta crença ocidental no Pai Natal, por outro lado demonstra um grande amor por tradições ancestrais de antes do Islão, o que quer dizer que com esta malta a gente ganha a guerra...

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