19 janeiro 2015

LIBERDADE DE EXPRESSÃO



Tá bem.... Mas eles é que começaram!!!

Ultimamente muito se fala no assunto mas poucos entendem realmente do que se trata. Há ainda muito boa gente que confunde liberdade de expressão com insulto ou difamação: Já que há liberdade de expressão, vou aproveitar para insultar a puta da minha vizinha que ouve música com o amplificador a fundo até as três da matina...



Liberdade mas...   

Os comentadores que se julgam um pouco mais inteligentes, o Papa incluidíssimo, usam o "MAS" para limitar (a seu belo prazer) a liberdade. Dizem-nos que a liberdade é uma coisa muito bonita, mas tem que haver respeito. O raio do respeito é o que mais se ouve. Mas há mais, a imaginação do censor é bastante fértil na produção de critérios para travar a liberdade de expressão: é obsceno; é blasfémia; é uma provocação; é de mau gosto; fere sentimentos. Quem detém o poder (secular ou religioso) sabe que a qualquer momento pode servir-se destes critérios (totalmente subjectivos) como álibi para eliminar opiniões inconvenientes. Mas a liberdade de expressão, para ter REALMENTE liberdade, tem que ser colocada acima de todos estes critérios, de outra forma não faz sentido e não funciona.

Todos os papas, sem excepção, são macacos...

Sempre assim foi. Segundo a Igreja Católica Galileu ofendeu no século XVI milhões de crentes, ao descobrir, mas sobretudo ao afirmar, que a Terra roda à volta do Sol e não o contrário. Um século mais tarde o grande filósofo holandês Baruch de Spinoza - o pai dele nasceu na Vidigueira - foi excomungado e banido da comunidade judaica de Amesterdão por dizer umas heresiazitas, tais como: a bíblia não é sagrada e o Noé não meteu todos os bichos na arca - esqueceu-se dos dinossáurios. Um erro irreparável, como se sabe hoje graças à ciência. A Lourinhã poderia ser uma Silicon Valley de dinos a pastar, e agora é apenas um modesto sítio arqueológico. Felizmente que o Noé não se esqueceu dos macacos, porque possibilitou, mais uma vez, ao Darwin ofender uma porrada de crentes. Provando que toda a gente, mesmo os Papas, descendem do macaco e não de um tal Adão, que comia maçãs oferecidas por uma cobra, e que mais tarde, cansado de comer só maçãs, resolveu fabricar, a partir de uma costela sua, uma gaja bem gira chamada Eva que andava sempre nua no paraíso!

Afinal quem ofendeu quem? Neste caso foi a Igreja, que bem podia ter inventado uma historieta mais plausível, evitando a troça a que estão sujeitos os seus crentes actualmente. (Lembro que as outras religiões do livro também contam a mesma treta)

Quem anda à chuva molha-se

Este é-bem-feito é normalmente a recompensa que todos os grandes pioneiros das ideias recebem da populaça quando são assassinados por uma ideia, nova. Séculos mais tarde servem-se deles como património nacional, ou como religião para fazer a guerra ou chatear o resto do maralhal ao Domingo de manhã. A turba no momento não percebe que sem eles viveriam ainda em cavernas vestidos com cascas de árvores limpando o olho do cu com pedra lascada. Não percebem que a crítica (escrita ou desenhada) é a única arma dos que não têm armas. Nem poder, nem fazem parte da massa cinzenta que se cala e anda ao sabor da corrente, mas sempre pronta a ser facilmente (ideologicamente ou religiosamente) instigada a queimar bruxas ou judeus, matar comunistas ou ateus, lapidar homossexuais ou mulheres adúlteras, cantar na Festa do Avante ou censurar comentários na internet. É tudo a mesma corja...

Quem dá a cara na pega?

O Cristo, que passou a vida a 'ofender' a religião judaica e romana afirmando publicamente SOU FILHO DE UM DEUS, também previu o que lhe iria acontecer. Mas tarde. Só quando já estava espetado na cruz é que se lembrou do pai: "pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem". Eu, no lugar dele teria dito: pai, por favor, tira-me de aqui e transforma a Palestina num grande parque de estacionamento. Com um pouco mais de cautela o Humberto Delgado teria evitado levar um tiro nos cornos em Villanueva del Fresno numa manhã de chuva. Por outro lado, a morte dele ficou sempre atravessada na garganta dos nossos militares, que na 'primeira' ocasião vingaram a memória do General Sem Medo acabando com o regime do assassino. Outro. O Nelson Mandela - se em vez de mandar bocas contra o apartheid, tivesse ficado sossegado no seu escritório de advogado, não tinha passado 25 anos na cadeia, e, pior ainda, não teria sido obrigado a cortar relações com a Winny, que era muito mais boa do que a mulher do Samora Machel...

Os jornalistas da Charlie Hebdo sabiam perfeitamente que andavam à chuva e que um dia destes ficariam encharcados. Mas, tal como os ilustres personagens acima mencionados, também sabiam que na luta pela liberdade, alguém tem que dar a cara nesta pega. Também sabiam que eram apenas tolerados. E isso porque funcionavam numa democracia dita burguesa, que é dotada de meia dúzia de 'guarda-chuvas'. Mas atenção, a grande maioria dos europeus (quanto mais os muçulmanos!) NÃO É CHARLIE. Os actuais Charlies são tão hipócritas como os portugueses que no dia 26 de Abril colocaram à pressa um cravo (vermelho) na lapela do casaco...






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