15 julho 2015

Grécia, um amigo porreiraço


Illustration Daryl Cagle, USA


Frits Abrahams, um famoso colunista holandês do jornal NRC, receia não verter uma lágrima se a Grécia for afastada do Euro. "A culpa de eu ser cada vez mais de direita e encontrar-me na companhia de reaccionários com quem não quero ser encontrado morto, é da Grécia".


Frits Abrahams em português:

De economia não percebo patavina, mas sei como gastar dinheiro, a minha mulher que o diga. Conheço muito bem a dinâmica deste desporto, por isso também sei o agradável que é gastar sem pensar no assunto, nem nas consequências. Prefiro gastar à vontade do que amealhar a medo o dinheiro na minha conta bancária; deixo isso a cargo da minha mulher. Em casa é ela o Dijsselbloem, eu sou o Varoufakis, com a diferença que ainda não fui posto na rua.

Várias pessoas de esquerda a quem eu sempre dei ouvidos com atenção, como o economista francês Thomas Piketty, entre outros, acham que eu devia ser solidário com a Grécia. E fui durante muito tempo, mas este novo governo pôs-me demasiado à prova. A minha paciência esgotou-se, a minha desconfiança aumentou, e isso porque conheço muito bem o Varoufakis em mim. E quem é que não conhece, UM Varoufakis? O Piketty e outros esquerdistas certamente que alguma vez se encontraram com um?

Trata-se de um tipo espontâneo, agradável, engraçado, charmoso e informal. Depois do trabalho salta para cima da sua mota e lá vai ele, com a mulher atrás. Nada de limusines, gravatas ou sapatos com berloques.

Um dia destes telefona-te. Começa por te falar no tempo, na doença do gato e nas suas próximas férias ("este verão vou experimentar as Bahamas pá") e de repente, como quem não quer a coisa, amanda-te: "eh pá, nestes últimos tempos estou em baixo de lonas, mas olha que é totalmente fora da minha responsabilidade. Será que poderias emprestar-me algum?"

Não vais começar por lembrar as férias nas Bahamas, ninguém quer acanhar um amigo. Só te resta também responder da forma mais descontraída possível: "quanto é que precisas?" - "Eh pá, com 2 mil euros já me safavas", diz ele rapidamente.

Engoles a seco, duas mil mocas é dinheiro! Ficas um momento confuso, sabes que ele tem por hábito derreter dinheiro que é um fartote: ele é carros novos, casa de praia, viagens. Dá-se conta da tua hesitação e diz: "eh pá, devolvo-te a guita o mais depressa possível."

Bom, que seja pelas alminhas!

Durante um longo período - mais longo de que o habitual - não sabes nada dele. Se por acaso o encontras na rua, ele não aborda o assunto. Dias mais tarde telefonas-lhe a medo. Como odeias este telefonema, mas és obrigado pela Dijsselbloem, com quem estás casado.

Ele reage descontraído: "Eh pá, olha que não me tinha esquecido, mas estou ainda com algumas dificuldades. Por essa razão até te queria falar: não me poderias facilitar mais um empréstimo?"

Expões a questão à Dijsselbloem e esta: "Que pague primeiro." "Mas assim ele vai à falência e não recebemos nenhum", refilas tu. "Não vamos recompensar caloteiros", decide a Dijsselbloem. Suspiras profundamente com o medo de vir a perder um amigo alegre e engraçado. Mas apercebes-te ao mesmo tempo que talvez tivesses tomado a mesma decisão, caso tivesses a mesma responsabilidade do que a Dijsselbloem.

Lá telefonas ao teu amigo para lhe comunicar a má notícia. "Seu terrorista!", exclama este e desliga o telefone.

41 comentários:

  1. De facto, o Frits, não percebe nada de economia. Se percebesse, sabia que não pode comparar um orçamento famíliar com um de um estado soberano. Numa família, as despesas são limitadas ao orçamento e, eventuamente, ao crédito. Nos estados soberanos, há sempre uma dívida corrente que vai sendo renovada. De outra forma, os países não podiam transaccionar entre si e não havia importações e exportações. Por isso todos os países têm dívidas, sendo que os mais ricos têm as maiores dívidas (ex: EUA). Se o Frits fosse um jornalista honesto, também sabia que a dívida grega foi acumulada durante os 40 anos dos governos do Pasok e da Nova-Democracia e serviu, nomeadamente, para resgatar os bancos alemães e franceses, através da venda de material de guerra como submarinos alemães e helicópteros e carros de combate franceses, para além de obras megalómanas como os Jogos Olimpícos de 2004, etc, etc. Se o Frits fosse um jornalista sério, sabia que o Piketty não era esquerdista (ele próprio se diz Keynesiano) e se limita a dizer que o rei vai nu: a dívida grega é impagável (Lagarde dixit) e não vale a pena continuar com programas de resgate que em última análise ainda empobrecem mais os países devedores. Se o Frits fosse esperto, sabia que o Syriza tem muito pouco a ver com a dívida grega actual e que tem um progaram para pagá-la, mas quer outras condições. Mas, o Frits é parvo, coitado...

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  2. Num ENSAIO sobre economia talvez não se possa "comparar um orçamento familiar com um de um estado." Mas numa COLUNA vale tudo menos tirar olhos. Mas compreendo que quem foi formatado de forma vitalícia para debitar a cassete marxista ad náusea, não consegue entender que se possa escrever sobre assuntos sérios de forma informal, acessível e engraçada, porque o público alvo, os camaradas, têm realmente uma confrangedora falta de humor!!!

    É claro que todos os países têm dívidas, é como dizer que a água molha! Já dizer, sem qualquer explicação, que os países mais ricos têm as maiores dívidas, demonstra demagogia ou falta de conhecimento do que é a dívida dos países, ricos ou pobres.

    Exemplo 1
    A Holanda tem uma enorme dívida se à dívida do Estado se acrescentar demagogicamente (só para dizer mal dos países maus!) a dívida privada: a enorme quantidade de proprietários de casas que ainda estão a pagar uma hipoteca (o meu caso). Mas enquanto a economia holandesa permitir que toda a gente receba um salário mensal a tempo e horas, a enorme dívida privada não é um problema.

    Exemplo 2
    Suponhamos que o clube de futebol de Alguidares de Baixo tem uma dívida de 150 mil euros e a banca recusa um empréstimo. Se a direcção do clube não arranjar rapidamente um mecenas que cubra a dívida, o clube vai à falência porque não pode pagar o pessoal e os jogadores no próximo mês. O Real Madrid tem uma dívida muito superior, mas a sua situação económica é segura: recebe regularmente milhões em direitos da Tv, da FIFA e da venda de camisolas (com CR7 e outras letras estampadas). Mas além disso possui um enorme capital em jogadores que no mercado de transferências valem muito cacau. Comparar a situação económica do Real Madrid com a do Alguidares de Baixo, com base na dívida, é demagógico e totalmente fora da realidade.

    O Frits sabe muito bem que a dívida não é de agora e foi acumulada durante muitos anos, mas como é de esquerda, esta confissão não passa de um 'cri de coeur' de quem julgava que o Syriza fosse a esperança, fosse diferente dos outros. Mas como o Verhofstadt disse há dias no parlamento europeu, infelizmente não são! Começaram imediatamente por cometer os mesmos erros que os anteriores, apenas com um verniz de esquerda representado no cartoon.

    Os empréstimos dos bancos alemães e franceses, os submarinos e as obras para os Jogos Olímpicos não são a origem da situação económica da Grécia, apenas a consequência que um pequeno esforço financeiro poderia resolver. Mas para isso é absolutamente necessário que a Grécia suba no ranking do índex da Transparency International e não se fique no lugar 69, juntamente com o Brasil, Bulgária, Roménia, Senegal e Swazilândia. Enquanto se encontrar neste grau de corrupção nada feito - nem revolução, nem junta militar, nem mudar de moeda, nem ajuda de Bruxelas.

    PS Acho estranho teres vivido mais de 40 anos neste país e não conheceres o Frits Abrahams!!!

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  3. Correção: só vivi, de facto, 30 anos, na Holanda, mas para o caso não interessa nada. Conheço bem o Frits Abrahams, mas isso não invalida que os seus pressupostos são errados: desde logo porque generaliza (os "gregos") e não se preocupa nada em saber como a dívida foi acumulada e por quem. Depois, porque, concentra todo o seu "ódio de estimação" no Syriza, como a maior parte dos eurocratas de direita que nunca estiveram preocupados com a Grécia, com os gregos, ou os seus governos corruptos e, agora que um governo de esquerda chegou ao poder, gritam "aqui d'el rei que a Grécia não é de confiança!". Claro que a Grécia tem um histórico criticável e a corrupção grassa no país, como em muitos outros, de resto. Quem o nega? Mas, essa situação já era conhecida quando a Grécia aderiu à, então CEE, e, posteriormente, quando aderiu à Zona Euro! Toda a gente sabia e sabe que as contas foram marteladas na altura para que o país pudesse fazer parte da "Europa", pois deixar de fora os fundadores da democracia não era de bom tom. Logo, todas as trafulhices foram permitidas (nomeadamente pelo representante grego do Goldman & Sachs que visionou as contas gregas). Da mesma forma que, enquanto estiveram lá os governos do Pasok e da Nova Democracia, ninguém se preocupou com a corrupção grega e houve até dois "resgates", porque era preciso emprestar dinheiro a juros baixos...Só quando o Papandreou quis avançar com um Referendo é que a Comissão Europeia se assustou e obrigou-o a desistir da ideia (chama-se "golpe de estado palaciano", para quem não está por dentro do jargão). Com todos os erros que o Syriza possa ter cometido (e eu sou critico do volte-face do Tsipras) a verdade é que o governo grego estava mandatado para renegociar as condições do resgate (chama-se austeridade e levou o país à miséria) e nunca disse que nunca queria pagar a dívida. Mais, apresentou uma proposta de reformas em Fevereiro, que foi liminarmente rejeitada pelo Eurogrupo. Eurogrupo que nem sequer tem existência legal e que interrompeu todas as suas reuniões, sempre que a Merkel (polícia mau) e o Hollande (polícia bom) reuniam numa sala à parte com o Tsipras, para tomar as verdadeiras decisões. Ou seja, havia uma intenção clara e suportada democraticamente pelo povo grego para o Tsipras renegociar a dívida (porque impagável e sem resultados concretos após 5 anos de austeridade) e os credores (alemães e franceses à cabeça) recusaram. O referendo, apenas veio confirmar o que já se sabia: os gregos não aguentam mais austeridade, querem pagar, mas não podem e não querem sair do Euro (o que eu acho mal). Logo, só havia duas soluções (se não levarmos em conta as propostas sugeridas pelo Varoufakis): ou sair do euro ou aceitar um terceiro resgate. Tsipras optou pela segunda via, mas teve a honestidade de dizer que não acredita nesta solução. Claro que não: ainda ontem, a Lagarde (FMI) veio dizer que a dívida é impagável e tem de ser reestruturada ou perdoada parcialmente. O próprio Draghi, na conferência de imprensa de ontem, confirmou o óbvio: as condições só aparentemente mudaram. Há que repensar o modelo e o BCE não tem poderes para tal. Cabe aos políticos fazê-lo. É isto. Portanto, a "solução" encontrada não foi solução nenhuma. Foi apenas empurrar o problema com a barriga, como é costume na UE e, no Outono estaremos a falar da mesma coisa. A grande vantagem desta crise, foi mostrar que o projecto europeu deixou há muito de ser democrático e passou a ser tecnocrático, com os "mangas de alpaca", como o Dijsselbloem, a papaguear as ordens do Schauble. Onde é que já se viu ministros de finanças dirigirem um país, ou uma União? Em lado nenhum. Só num continente sujeito aos interesses do capital financeiro e da banca (descapitalizada em grande parte pelos seus próprios erros) é que isto podia acontecer. A Europa precisa urgentemente de mais democracia, estadistas e menos merceeiros.

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  5. Está visto que a maior parte dos dirigentes políticos europeus, no momento, só quer um sistema económico, que esteja baseado na austeridade. Qualquer outro sistema político, ou algum governo europeu, que queira alternativa, está “frito” no meio de toda esta cambada, que se julgam os donos da europa, e onde somente se preocupam com a estabilidade do euro, e com a “estabilidade” dos bancos no norte da europa.
    Não respeitam a vontade do povo Grego, que democraticamente respondeu não à auteridade, e ao que parece não disse que não pagava, mas sim, por proposta do Syriza era de reestruturar a dívida. Ou seja, os dirigentes europeus deram um sinal claro, que se aparecerem, outras vontades populares ( por exemplo Podemos em Espanha), serão esmagados e terão de estar a garrote dos senhores da europa.
    Infelizmente em Portugal existe muita “carneirada”, mas se os países do Sul, dessem um sinal claro, que pretendem viver com outras alternativas políticas, sem esta treta da austeridade em favor da estabilidade do euro, e da engorda massiva dos bancos Alemães; Holandeses e etc, a coisa tomaria decerto outro rumo.
    O problema da europa, é que tem existido os tais governos pseudo-socialistas a andar a brincar às governabilidades, e são esses é que enterrram completamente a europa. Agora vêm os de direita na europa e apontam que o Syriza em 6 meses é que é culpado de tudo. Exatamente como em Portugal, 40 anos de políticas de PSD/OS/CDS mas a culpa do desastre é sempre do outro, nunca deles mesmo.
    É assim que vai esta europa, e o Disselbloem da casa do Frits Abrahams não percebe nada nem de economia nem de política europeia. E o Frits Varofakisado, tal como muitos Frits que andam por aí continuam a querer vender gato por lebre. A máquina da publicidade anti-Grécia, está bem oleada, a próxima vítma será Portugal ?!.

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  6. Rui Mota,

    Como podes dizer que conheces bem o Frits Abrahams se fazes um retrato completamente diferente do indivíduo? Se alguma vez tivesses lido os seus artigos, sabias que ele é o esquerdista de serviço do NRC e nunca teve ódio ao Syriza, e infelizmente também nunca apoiou a direita. Mas o problema é que dizes o mesmo do Dijsselbloem, porque para ti um político ok tem que ser um cruzamento entre o Arnaldo de Matos e o Cristo - e de preferência originário de um país do sul.

    Todos os países estão "preocupados com a Grécia, com os gregos, ou os seus governos corruptos." Todos os países têm diplomatas pagos que se dedicam apenas a isso: a preocuparem-se com a situação da Grécia. Só não fazem essa separação cristã (e marxista) que tu fazes, entre corpo e alma, entre gregos e governo - é tudo Grécia. E só se preocupam no sentido de defenderem os seus interesses económicos, não no sentido que tu queres, da Cruz Vermelha. Tenho imensa pena mas ainda não existem países que façam inteiramente parte da Cruz Vermelha Internacional.

    Tu não negas que há corrupção na Grécia, mas achas que a corrupção é toda igual. Ou seja, negas a diferença abismal existentente entre um tipo de corrupção, que não afecta o funcionamento de um estado, e a corrupção que leva países à falência, ao descalabro total.

    Tu és "critico do volte-face do Tsipras"!

    Não é preciso dizer, eu já calculava. O Tsipras é um esquerdista, mas é um tipo sensato, responsável e, ao contrário do Rui Mota, já percebeu (valha-nos Deus Nosso Senhor) que ideologias não dão de comer a ninguém. E por falar em comida: entre merceeiros que me pagam (e a ti também) a tempo e horas e revolucionários que querem matar gente à fome e instaurar ditaduras, a escolha não é muito difícil.

    O Tsipras dizer que não acredita nesta solução, nada tem de honestidade, é apenas uma fraca tentativa de salvar a face perante os camaradas do Syriza que querem tudo, como crianças mimadas...

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    1. Passas sempre por cima das questões de fundo, como "cão por vinha vindimada". A questão da corrupção na Grécia é real e deve ser combatida, mas não foi o Syriza (que nem existia à data) que esteve na sua origem. Foram o Pasok e a Nova-Democracia, durante 40 anos de governação, que criaram este sistema clientelar existente. O Syriza apresentou propostas concretas de reforma e quis (muito bem) implementá-las, mas pediu uma reestruturação da dívida (a Lagarde chamou-lhe "haircut", o Draghi "alívio"), única forma de pagar menos, durante mais tempo e menos juros, única forma de poder criar superaktiv suficiente para fazer as reformas e para pagar, simultaneamente, aos credores. Nenhum país, em recessão continuada, há mais de 5 anos, poderá NUNCA pagar uma dívida pública que ascende a 180% do seu PIB. Não existe, nunca foi conseguido, no último século. Isso está estudado e não só pelo Pikketty, mas por outros economistas, como o Sglitiz e o Krugman, por exemplo, que são prémios NOBEL e sabem do que falam. O problema não é a Grécia, mas ter sido o Syriza (um partido de esquerda) a ganhar as eleições. Nunca faltou dinheiro à Grécia, durante os governos corruptos dos clãs Papandreou e do Samaras. Nesses anos (40!) os empréstimos eram possíveis e os juros eram baixos.
      Para a banca europeia (que ficou descapitalizada coma crise do sub-prime) era necessário pôr os países individados a pagarem juros altos, através de programas de intervenção, ditos de "ajuda", concebidos pelas Troikas criadas para o efeito. Vai ler, pá e não digas disparates.

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  7. Xavier,

    tenho muita pena mas austeridade não é um sistema económico, é apenas uma medida implementada pelos governos em tempo de vacas magras. Se a população, através do governo que escolheu (e no mesmo sistema económico), decidir numa outra altura gastar todo o carcanhol do Estado a comer santolas todos os dias, é uma opção como qualquer outra.

    Não se julgam, são mesmo os donos da Europa. Porque são as potências económicas. E potências económicas não vão dar a liderança económica (do seu rico cacau) a países falidos e corruptos como a Grécia, ou a Albânia, ou a Roménia. Parece-me mais do que lógico.

    "E só se preocupam com a estabilidade do Euro e dos bancos do norte da Europa" dizes tu! Que Deus te oiça. Eu faço parte dos que andam ainda mais preocupados...

    O povo grego realmente votou NÃO à austeridade, mas isso é um assunto só entre gregos. Os outros votaram que os gregos só podem votar coisas relacionadas com o dinheiro deles. No dinheiro dos outros mandam os outros. Isso é que era bom, os gregos têm cá uma lata...

    "Em Portugal existe infelizmente uma carneirada" dizes tu! E posso saber quem é a tal carneirada ou tenho que adivinhar? E que sinal é que os países do sul poderiam dar? Queremos Audi's a metade do preço?

    "O problema da europa, é que tem existido os tais governos pseudo-socialistas...."

    Ainda bem que os governos são só pseudo-socialistas, imagina que fossem verdadeiramente socialistas, já estávamos na situação da Venezuela ou de Cuba! Vade retro satanás, cruzes cruzes canhoto.

    Ninguém diz que o Syriza é culpado de tudo, basta ouvir o magistral discurso de Guy Verhofstadt (direita liberal) no parlamento europeu em direcção do primeiro-ministro grego, Tsipras. (publiquei no Facebook).

    A culpa de Portugal estar como está não é deste ou daquele partido, é dos portugueses. Que eu saiba todos os membros do parlamento português são portugueses, não foram contractados no estrangeiro como os jogadores do Benfica - saía mais caro, mas talvez fosse melhor, quem sabe!

    "... o Disselbloem da casa do Frits Abrahams..." O que queres dizer?

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  8. Será morbidez, mas é um prazer ver os Frits Abrahams, que passaram a vida a vender banha da cobra, afinal duvidar do produto. Os Junker’s preocupados com os gregos, ou os Guy Verhofstadt à borda da apoplexia.

    Os gregos, prestaram mais uma vez um grande serviço à democracia. Com o referendo, descobriram a careca de um projeto basicamente totalitário, fundado em aldrabices e impossível de corrigir.
    A crise da Grécia e da Europa, não é só da responsabilidade dos gregos. Responsáveis são também: os credores (as elites politicas europeias), a oligarquia grega e em ultima análise o desinteresse e a apatia política dos povos europeus.

    A actualidade política da europa é a caricatura do projeto europeu. Uma ditadura supra nacional com uma moeda que finge estabilidade, dirigida por uma casta de trafulhas autoconvencidos.

    A UE suborna literalmente grande parte das classes políticas nacionais, adquire lealdades com chorudos salários e posições prestigiosas. Os eurocratas uma vez escolhidos, são praticamente intocáveis, sem qualquer controle democrático adequado, estão juridicamente acima da lei.
    É fácil compreender o fascínio desta combinação. Tanto ao norte como ao sul, as elites politicas europeias estão pouco interessadas em matar a galinha dos ovos de oiro, que tamanhas regalias lhes garante: dinheiro poder e prestigio.

    Os gregos

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  9. Rui Mota, passo por cima das questões?

    É muito provável. É o efeito que faz dialogar contigo, porque em vez de responderes a perguntas simples de forma simples, desbobinas a cassete marxista - não te espantes, mas creio que à força vou acabar por fazer o mesmo...

    Pior ainda, também vou acabar por responder a coisas que não estão em questão, como tu fazes! Alguma vez disse ou sugeri (nem o Frits) que o Syriza está na origem da corrupção na Grécia? Mas também não estou de acordo que a origem da corrupção tenha 40 anos de governação PASOK e Nova-Democracia - o fenómeno é cultural. Parece-me que o José-Manuel Fernandes é quem tem razão, quando explica que a Grécia culturalmente é um país dos Balcãs.

    As propostas do Syriza

    O Syriza ganhou as eleições precisamente porque recusou apresentar qualquer tipo de proposta. E se Bruxelas, por sua parte, apresentasse propostas, o Syriza dizia alto e em bom som que elas iam imediatamente para o cesto dos papéis. É evidente que estas últimas propostas do Syriza foram apresentadas sobre pressão de Bruxelas (e do fundo dos cofres do Estado) e com a motivação do Syriza muito em baixo. Ora, desta forma não se pode esperar que as propostas sejam sérias! E porque carga de água é que os 'terroristas', os que têm que largar o carcanhol, sejam obrigados a aceitar sem discussão as propostas de quem tenta constantemente ludibriá-los?

    Conclusão: na realidade a União Europeia quer obrigar a Grécia a não conseguir pagar a dívida, que é para depois emprestar mais dinheiro do contribuinte europeu (já se fala em 50 biliões de euros)! Desta forma a Grécia vai rapidamente à falência e o governo, a curto prazo, não pode pagar os salários dos funcionários (que na Grécia são mais do que as mães), o que vai provocar uma guerra-civil e queda do governo Syriza, que é o que Bruxelas pretende, e isso apenas porque são de esquerda!

    Mas se os gregos já não podem pagar a dívida agora, em plena guerra-civil será absolutamente impossível, e o contribuinte do norte da Europa vai acabar por não receber um tústo dos gregos que já devem 2000 euros per capita só à Holanda. Os holandeses, em perigo de serem cortados nas suas reformas devido ao cacau enterrado na Grécia, lincham o Dijsselbloem e o Verhofstadt provocando outra guerra-civil. Outras seguirão certamente, mas depois da tempestade vem a bonança e a reconstrução da Europa vai outra vez activar as economias europeias a partir do Wirtschaftswunder alemão. Os gregos têm agora apenas que esperar uns dez anitos e já podem outra vez pedir fiado à Alemanha.

    Eh pá, vê lá se pelo menos consegues escrever uns enredos deste tipo, mais originais, mais prá frentex quando dizes disparates.

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  10. Go_dot,

    É realmente um prazer ver o Frits Abrahams a mudar (ligeiramente) de opinião - ainda não é o suficiente para agradar ao meu amigo RM. Mas porque razão ter uma opinião diferente é vender banha da cobra? Será que as nossas mulheres também vendem banha da cobra porque são a favor do Euro?

    O Juncker e o Guy Verhofstadt estão tão preocupados pessoalmente com os gregos, como o Tsipras e o Varoufakis com os belgas, o que é muito pouco por enquanto - significa que ainda não chegamos à fase final do federalismo europeu.

    Os gregos, sobretudo os actuais, são uns génios para prestar serviços à democracia! Vejamos o que diz o SIM no referendo? Queremos o Euro, queremos fazer parte da Europa de Bruxelas e queremos receber o cacau de Bruxelas sem ter que dar satisfações. O NÃO diz precisamente a mesma coisa à excepção de que mais de 30% acha que quando se aceita dinheiro emprestado é compreensível aceitar regras.!!!

    Eu acho que a crise na Grécia é da responsabilidade da Grécia, e a crise na Europa (se há realmente uma crise, as opiniões estão divididas!) é da inteira responsabilidade da Europa. Que os credores - responsáveis ou não!? - façam parte das elites políticas europeias, parece-me uma verdade do Marquês de La Palisse! Não estou a ver outros a desempenhar esta tarefa!? A apatia dos povos europeus é compreensível, esta temática é tão complicada que, lá está, só as elites tecnocráticas é que percebem e estão em estado de mexer os cordelinhos.

    Mas se a UE suborna (acho isto exagerado!) PARTE das classes políticas nacionais, é provável que outra parte não seja subornada e, se esta parte conseguir passar essa mensagem, a maralha acabe por votar nos que não acreditam na mensagem transmitida por Bruxelas. E é o que está a acontecer ultimamente em certos países europeus (não na Grécia): a existência de uma crescente classe política que já não vai à bola da ideologia de uma Europa federalista. Uma classe política que, muito ao contrário dos génios gregos, diz que cada um deve mijar com a sua. Isto significa que afinal a democracia funciona. Talvez não tão rapidamente como a malta da corda pretende, mas faz-se o que se pode...

    O fascínio pelos chorudos salários e posições de prestígio é real, e é de todos os tempos e culturas, mas não pode durar sempre. Quando a malta estabelecer uma relação entre chorudos salários e cortes nas reformas, começa a votar em partidos que não são politicamente correctos. E nesse momento a elite começa também a duvidar do produto - pelos vistos já começou...

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    1. “porque razão ter uma opinião diferente é vender banha da cobra?”
      Caramba, e eu a pensar que a metáfora era evidente. Ter uma opinião diferente não tem nada a ver com vender a banha da cobra, bem pelo contrario. A metáfora da banha da cobra tem a ver com propaganda. Confundir e sabotar o dialogo, desacreditar adversários, criar bodes expiatórios, classificar de fascistas a opinião dissidente. Por fim avançar prescrições socialistas como elixir para a prosperidade universal.
      Um bocado o que o Frits faz ou fez até à pouco tempo.

      “O Juncker e o Guy Verhofstadt estão tão preocupados pessoalmente com os gregos, como o Tsipras e o Varoufakis com os belgas…”
      Damn! não expressei convenientemente o sarcasmo. A única preocupação é fortalecer o projeto original. Salvar o Euro e impor a integração política completa.

      “Os gregos, sobretudo os actuais, são uns génios para prestar serviços à democracia!...”
      É verdade, aparentemente também não perderam a queda para a tragédia.

      “... Eu acho que a crise na Grécia é da responsabilidade da Grécia …os credores - responsáveis ou não!?”
      A mim parece-me lógico, que num projeto colectivo haverá alguma responsabilidade colectiva.
      Projetos de interesse colectivo podem ser desenvolvidos fazendo uso de regras transparentes com apoio democrático. Ou por trapaças mais ou menos dissimuladas com consequências ocultas para o interesse geral.

      “Não estou a ver outros a desempenhar esta tarefa!?”
      Eu também não. Mas a mim parece-me que as tais as tarefas, podem ser desempenhadas por indivíduos competentes ou por trafulhas. A trafulhice parece ser uma constante do projeto europeu desde a nascença. Não só na Grécia.
      Quando se criam infraestruturas desnecessárias, aeroportos onde não aterram aviões, comboios de alta velocidade que não funcionam a velocidade nenhuma ou se discute da curvatura máxima das bananas. Só pode ser trafulhice.

      “... Marquês de La Palisse!...”
      Tentarei não incomodar o Marquês.

      “esta temática é tão complicada que, lá está, só as elites tecnocráticas é que percebem e estão em estado de mexer os cordelinhos.”
      Discordo. Parece-me que subestima um bocado o bom senso. Na minha opinião, não me parece indispensável um curso de economia para perceber que lhe estão a ir à carteira. Que há uma diferença profunda entre riscos de investimento privado e dinheiro à borla, ou que má governação, possa ser compensada a esturricar mais dinheiro.
      Se assim não for, pudemos mandar a democracia às urtigas.

      “a existência de uma crescente classe política que já não vai à bola da ideologia de uma Europa federalista.”
      No norte da europa os realistas eurocéticos ganham terreno, graças à internet. Mas o assunto é veementemente ignorado na comunicação social. Pelos Frits os Marcel e os Witteman. OK o Frits parece ter visto a luz!


      Aqui um excelente discurso do Nigel Farage sobre este assunto, que não será dado a ver ou comentar ao grande publico na comunicação social.

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    2. Go_dot,

      Sabotar o dialogo, desacreditar adversários, criar bodes expiatórios, classificar de fascistas a opinião dissidente e avançar prescrições socialistas como elixir para a prosperidade universal, não é vender banha da cobra, isto é ser mesmo mau como as cobras... Isto é malta que já não tem cura. Mas o Frits Abrahams é apenas um pobre colunista que escreve bem e com piada. É realmente uma pena que não seja totalmente da corda, mas se fossem todos da corda também enjoava.

      Claro que a única preocupação de Juncker e Verhofstadt é fortalecer o projecto original, mas na ideia deles essa preocupação passa pelo bem estar dos gregos, e até acredito que agem sem sarcasmo.

      Ok, a responsabilidade da crise na Grécia é colectiva, os políticos em Bruxelas cometeram um par de asneiras: deviam ter avisado os gregos, (e outros países) e os bancos europeus há mais tempo e de forma mais firme que não se brinca com dinheiro. Deviam também ter controlado mais, mas isso não é muito fácil de executar porque é sempre mal visto, é visto como um atentado à soberania.

      Se os políticos de Bruxelas, que desempenham tarefas complicadas, são competentes ou trafulhas, depende em primeiro lugar do perfil ideológico de quem os classifica. A construção de infra-estruturas desnecessárias é realmente trafulhice, mas isso dificilmente se pode imputar a Bruxelas, porque, como já disse, é visto pelos países como um atentado à soberania nacional. Para evitar esta tipo de trafulhice Bruxelas teria de ter ainda mais poderes, o que é inaceitável em certos países (Holanda por exemplo), mas mesmo com coontrolo vejo a coisa difícil: quando há muito dinheiro a ganhar, os políticos conseguem facilmente arranjar relatórios com provas tecnicas e jurídicas de que é imperativamente preciso construir uma terceira estrada Porto-Lisboa para activar a economia portuguesa.

      Verdades do Marquês de La Palisse tem o mesmo significado que a expressão holandesa "open deur".

      Com apenas bom senso um sapateiro não pode discutir em termos de igualdade com Dijsselbloem acerca de como negociar a dívida da Grécia, precisa de saber mais umas coisas.

      No norte da Europa os eurocépticos ganham terreno, graças à internet e ao facto do assunto ser cada vez menos ignorado na comunicação social.

      PS O Nigel Farage, excelente como habitualmente, mas não estou de acordo em 100%, talvez 95%.

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    3. O busílis da questão mantem-se: soberania (na carteira) sim ou não?
      Trocando em miúdos, duvido que forçar exponencialmente a complexidade do organismo, contribua para o bem estar das partes, ou para a estabilidade do conjunto.

      Quanto à conversa do sapateiro com o ministro Dijsselbloem.
      O que o sapateiro sabe muito bem, é que o aumento do btw lhe vai custar uma porrada de clientela, e os impostos sobre o cabedal, em breve o vai obrigar a fechar a sapataria.

      Com o chegada da Internet, os meios tradicionais de comunicação perderam o privilegio exclusivo de interpretar as noticias e formular opinião.
      Mas a grelha da “decência” aperta-se. E não me refiro à pornografia.
      Li recentemente que tanto na América, como na UE há propostas de lei para limitar a liberdade de expressão na internet.

      Voltei a ver o filme do Farage, não consegui encontrar nada que não concorde.
      Eu sei que isto não é um programa de discos pedidos, mas fiquei curioso dos tais 5%.

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    4. Mais Europa e mais controlo na estabilidade do Euro significa automaticamente menos soberania. Uns não estão dispostos a aceitar e dizem, nem pensar!; outros estão dispostos a ceder um pouco de soberania para salvar o Euro; e os gregos (62% no referendo) encontraram finalmente a alternativa, a famosa terceira via: querem soberania, ou seja, a bagunça do costume e Euros.

      Não sei se a complexidade do organismo é propositadamente forçada, imagino que a complexidade é inerente ao organismo. Mesmo o bem estar de todas as partes não é possível sem uma enorme burocracia e um aparelho complexo - é como os subsídios na Holanda. Agora imaginemos ao nível da Europa e com países com uma burocracia deficiente, e com o mesmo nível de corrupção da Holanda! (Pelo menos é o que transparece dos seus comentários, ao lê-lo tenho por vezes a impressão que vivo no México!)

      Claro que o sapateiro sabe bem que medidas o podem obrigar a fechar a porta. Mas não sabe que medidas implementar para que todos os outros pequenos empresários não tenham que fechar as suas portas. Isso é o Dijsselbloem que sabe. Eu acredito na sua competência, mas desconfio da sua ideologia, que me parece algo ingénua.

      A Internet é actualmente indispensável na comunicação para garantir a liberdade de expressão - Amerikanen bedankt! - e deve-se combater todo o tipo de limitações. Só blogues com caixas de comentários totalmente livres - quem não quer, puta que o pariu, que feche a loja.

      "Voltei a ver o filme do Farage, não consegui encontrar nada que não concorde."

      Parabéns. Talvez o meu amigo Rui Mota encontre 5% de concordância. Se isso acontecer dou-lhe outra vez os parabéns...

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    5. Estamos de acordo quanto à terceira via grega, rumo à prosperidade.
      O que é teu é nosso, o que é meu é meu.
      A mim parece-me mais lógica a via; amigos amigos, negócios à parte.

      ” ao lê-lo tenho por vezes a impressão que vivo no México!”
      O que me preocupa é que se não nos pomos a pau, ficamos pior que o Mexico. Os mexicanos tem pelo menos uma tradição a defender.
      As elites eurófilas criaram um monstro burocrático e recusam-se a reconhecer a paternidade do bicho. Cada vez que são confrontadas com o rebento, insistem em nivelar por baixo, fogem para a frente e metem ainda mais gente ao barulho, o que evidentemente não contribui para a solução.

      “Eu acredito na sua competência, mas desconfio da sua ideologia, que me parece algo ingénua.”
      Não sei se é ingénuo ou deixa de ser. As medidas a tomar dependem do objectivo a atingir. Disse o La Palice.
      De resto foram as semelhanças do diagnóstico do RM, que me fizeram lembrar o Farage.
      Pensei que talvez os 5 por cento abrissem uma nova via, que terá passado desapercebida.

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  11. "quando a malta estabelecer uma relação entre chorudos salários e cortes nas reformas, começa a votar em partidos que não são politicamente correctos". Deve ser por isso, que os húngaros votaram no partido fascista que está no governo, os holandeses no Wilders, os finlandeses nos "Finlandeses primeiro", ou os franceses na Le Pen. Em partidos xenófobos e fascistas, portanto. Muito bem! Primeiro, restaura-se a "ordem", através de partidos da extrema-direita e, depois, "restaura-se" a democracia na Europa (se houver tempo, claro!). Esta não lembrava ao careca! É o que faz não conhecer História. Só se escrevem parvoíces...

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  12. Não leste bem! A minha frase, que tu sublinhaste, não é uma projecção no futuro nem indica uma solução para a Europa, é apenas uma constatação do que está a acontecer AGORA. A conclusão (ideológica) que tiras é só tua, e como é ideológica não está completa...

    Vou reescrever a frase com a tua ajuda:

    Quando a malta estabelece uma relação entre chorudos salários e cortes nas reformas, começa a votar em partidos, com mais ou menos sucesso, que não são politicamente correctos. Quero com isto dizer, fora da apatia do centrão habitual. Partidos que frequentemente servem apenas de protesto, mas que acabam por fazer pressão sobre os programas dos outros.

    A tua ajuda:

    Por isso é que húngaros votam no partido de Viktor Orbán, actualmente no governo (a quem o Junckers designa 'amigavelmente' por ditador); os holandeses votam no Wilders, ou no SP; os finlandeses nos Finlandeses Primeiro; os franceses no Front National; os gregos no Syriza; os italianos no Grilo, em Espanha no Podemos; na Alemanha no Alternative für Deutschland; na Dinamarca votam no Partido Popular da Dinamarca.

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  13. Está melhor. É verdade, a "malta" está a votar menos no "centrão". Mas, isso só nos deve preocupar. Quer dizer que os partidos do "centro" (as facções do PPE e do PSE) se "acomodaram" e fizeram do projecto europeu, idealizado por Jean Monet e Schumann, uma burocracia de tecnocratas para quem só os "deficits" e as "dívidas soberanas" contam. Os cidadãos, que se lixem! Ainda hoje Strauss-Kahn (ex-FMI) veio dizer o óbvio: é uma "selvajaria" o plano de austeridade apresentado aos gregos. Desde logo, porque vão ficar pior do que já estavam e, depois, porque a dívida é impagável. O mesmo, já tinha dito Varoufakis, para quem o programa vai falhar e, hoje mesmo, Merkel considerou a hipótese de a dívida grega ser reavaliada (leia-se reestruturada). Portanto, estamos num impasse e toda a gente já percebeu que estes programas de austeridade não funcionam. "Não se pode depenar uma galinha sem penas", certo? Resumindo e concluindo: O Euro foi mal concebido: não pode haver uma moeda única para economias diferentes, onde falta um regulador, supervisão e tribunal de contas. Sem um regime fiscal comum, não há moeda comum que funcione. Não sou eu que o digo: são os analistas, "experts" na matéria. Se os políticos não arrepiam caminho, lá se vai o Euro e, a médio prazo, o próprio projecto europeu. Se mais virtudes não tivesse tido, a crise grega já valeu por isso: pôr toda a gente a discutir as causas desta crise.

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  14. Rui Mota,

    No parágrafo A TUA AJUDA esqueci-me de nomear uma figura importante: na Inglaterra votam no UKIP, do fantástico orador Nigel Farage.

    Votar menos no centrão (partidos tradicionais no poder) acho que só preocupa aqueles que não querem modificar o status quo, os que acham que está tudo bem assim. Os descontentes votam Front National em França e Syriza na Grécia: com a diferença que os franceses querem Francos e os gregos preferem Euros em vez de Dracmas.

    O projecto Europeu, idealizado por Jean Monet e Schumann, começou por ser um ideal, de acordo, mas como os ideais nem sempre funcionam bem na prática, o ideal passou rapidamente a ideologia. Mas agora mais parece (mas eu sou suspeito porque sou um céptico da UE) uma fuga para a frente constantemente ajustada por tecnocratas. Mas não creio que possa ser de outra forma, precisamente por causa dos 'deficits' e das dívidas soberanas que afectam a estabilidade do Euro. E a estabilidade do Euro afecta (lixa) os cidadãos. Eu sei que tu gostas de ideólogos carismáticos, mas eu prefiro merceeiros que sabem fazer contas.

    Na Holanda há realmente quem diga que a dívida é impagável - e não é só o Wilders -, outros dizem que é possível se perdoarem uma parte, e há também os optimistas que acham que há uns pequenos problemas neste momento mas tudo se resolve! Temos todo o tipo de opiniões, a única certeza é que a opinião pública (mesmo os especialistas) está a vacilar no sentido da desconfiança em relação ao projecto UE.

    Estive a ler hoje de manhã no NRC o famoso plano de austeridade e apesar de não estar ainda pormenorizado, não vi nada de "selvajaria" em: tornar as reformas mais sóbrias (percebo bem que se trata de um eufemismo que significa CORTAR nas reformas, mas ainda não se sabe quanto e em quais); alargar o horário do comércio; privatizar a rede de electricidade; aumentar o IVA; diminuir o enorme número de funcionários. Estas medidas dificilmente serão mais selvagens do que a maneira como os gregos trataram e tratam a sua própria economia, e é por isso que se encontram no ranking 69 do index da T.I. Tu dizes que "não se pode depenar uma galinha sem penas", mas talvez se possa pôr a galinha (finalmente) a pôr ovos! Ou achas que não?

    "Sem um regime fiscal comum, não há moeda comum que funcione. Não sou eu que o digo: são os analistas, "experts" na matéria." Como por exemplo o Wilders e, entre outros, o intelectual que está na berra actualmente na Holanda, Thierry Baudet, que há dois anos escreveu um livro sobre o assunto.

    "...a crise grega já valeu por isso: pôr toda a gente a discutir as causas desta crise." Absolutamente, mas sobretudo porque a população da Europa se tornou mais sensível às causas nefastas da corrupção e ao mesmo tempo ficou agora a saber que não existem jantares de graça.

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  15. Já percebi que gostas de tribunos de discurso fácil e demagógico: Farage, Wilders, Verhofstadt...O apelo do líder...Infelizmente, nenhum deles paraece ser/ter alternativa a nada, para além de um discurso xenófobo, nacionalista e proteccionista. O costume, em líderes populistas (neste caso de direita). O problema da UE, é que os políticos (nomeadamente os que estão no poder há décadas) já deixaram de ter ideais há muito (tu chamas-lhe ideologia). Foram corrompidos pelas sinecuras de Bruxelas e pelos interesses e negociatas que permitem tais funções (a promiscuidade entre a política e os negócios é total, vide Juncker, por exemplo). É natural que não queiram abdicar das mordomias, pois sabem que no fim da carreira política há sempre um lugar à sua espera num conselho da administração de um banco, ou de uma multinacional qualquer. Só não sabe, quem não quer ver. A corrupção é um mal endémico de todas as sociedades e não vale a pena estar sempre a agitar o "espantalho", pois ainda ontem a imprensa internacional noticiava que só nos bancos suiços existem 80.000 milhões de euros em contas de gregos ricos, muito ricos... Dava para pagar o 3ª resgate! Ora bem, enquanto estas coisas não forem controladas e reguladas, estamos sempre a falar de borla! Se queremos ser sérios, em vez de falar da corrupção dos gregos, falemos da falta de transparência e da supervisão/controlo destas contas em verdadeiros "off-shores" legais, como a Suiça, o Luxemburgo ou a própria Holanda. Portanto, é uma hipocrisia total falar da Grécia e deixar o Sr. Juncker fazer negociatas com as multinacionais, a quem deixava pagar taxas de juro mais baixas do que o normal no Luxemburgo. Estamos a brincar ou quê? Leste as medidas de austeridade impostas aos gregos e não as consideras nada de especial...vai lá perguntar aos gregos o que é que eles pensam disso! Não achas bem cortarem-te na reforma, mas não achas mal cortarem na reforma dos gregos! Fantástico, o teu raciocínio (desde que não toquem na minha reforma, os gregos que se fodam!). Esqueces-te que, se alguém toca nas tuas reformas, é o governo holandês e não é por causa dos gregos, mas para recapitalizar os bancos (alguns dos quais foram à falência!) e porque a economia holandesa não cresce acima de 1%, desde a crise do "sub-prime". Por isso, no início da actual legislatura o governo holandês fez cortes na odem dos 20.000 milhões de euros e iniciou um programa drástico de reformas e de austeridade, condensado no discurso do rei e na célebre máxima "Participerende Samenleving" (os cidadãos que paguem). É ver os pacotes de seguros de saúde ou os cuidados continuados e paliativos, existentes, em comparação com os que existiam. Ou, os cortes na educação e na cultura, as áreas onde sempre se corta, em tempos de "crise". Sabias que só o Deutsche Bank (Alemanha) encaixou 41mil milhões de juros da dívida soberana em 2014! Achas, então, que os países do Norte estão a pagar aos gregos? Deves estar a brincar comigo! A dívida (as dívidas) é uma "benesse" para os credores/banca/investidores que especulam nas bolsas de valor com os juros acumulados. Compram títulos de dívida/tesouro nos mercados financeiros e ficam com uma parte da dívida dos países endividados. É fácil perceber o que se passa a seguir e não é preciso ser economista. Os países perdem a autonomia financeira e ficam nas mãos dos ditos "mercados". É por isso, que a Alemanha, propõs um fundo de 50.000 milhões a ser depositado pela Grécia (!?) numa empresa controlada pelo Schauble, e.o. sediada em Berlim! Posteriormente, parece que mudaram a localização para Atenas...Como se os gregos, tivessem actualmente 50.000 milhões para depositar como garantia, num qualquer fundo! Nem vendendo o Parthenon! Resumindo e concluindo: a dívida grega (como a portuguesa, aliás!) é IMPAGÁVEL e não é obrigando/humilhando os gregos, com um 3ª programa de austeridade que eles vão resolver o problema.

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    1. Apesar de discordar completamente com o primeiro paragrafo.
      Excelente análise da situação na Europa. Obrigado.

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    2. Rui Mota,

      Creio que ainda não percebeste do quem eu gosto, porque isso nem às paredes confesso. Mas como hoje estou bem disposto abro uma pequena excepção: Falei destes políticos porque estão em relação com o tema, e escusavas de os catalogar de "demagógicos" numa tentativa de mos colar à lapela!

      O Verhofstadt veio à baila devido ao seu magistral discurso no parlamento europeu perante o Tsipras; o Farage, com o seu UkIP, é na Inglaterra o partido de protesto anti-UE por excelência e lembrei-me por causa do link colocado na caixa de comentários por Go_dot; finalmente, citei duas vezes o Wilders porque pelos vistos estás bastante de acordo com ele em relação à UE e ao Euro, só que tens vergonha de o dizer, não vá algum esquerdista colar-te o Wilders, ou coisas ainda piores, à lapela também...

      "O problema da UE, é que os políticos (...) já deixaram de ter ideais..." Pois eu creio que o problema da UE é precisamente o contrário: a eterna mania dos ideais. O que é preciso é menos ideais e mais tecnocratas: merceeiros que sabem fazer contas para evitar bancos fechados e a chatice das pessoas só poderem levantar 60 euros.

      Que "a corrupção é um mal endémico de todas as sociedades" já todos nós sabemos. Já o disse várias vezes mas tu continuas a meter todas as corrupções no mesmo saco e a não dar importância às diferenças, porque atrapalha a tua explicação ideológica. É absolutamente sério falar da corrupção na Grécia porque está na origem da situação económica actual, mas sobretudo, porque sem resolver MINIMAMENTE - não é fazer dos gregos santos, porque isso é impossível, nem os suíços - este PONTO, é como atirar dinheiro para um poço sem fundo. Se a Suíça estivesse (ou corresse o risco de ...) na mesma situação, a corrupção nos bancos suíços ou no queijo com buracos seria também abordada. E conheces muitos países sem negociatas? E sem políticos na administração de bancos ou grandes empresas? Conheces é muitos países sem grandes empresas e sem multinacionais, mas tenho a certeza que não queres lá viver...

      Li as medidas de austeridade (outros, sem ler, continuam a colocar bigodes hitlerianos à Merkel) e continuo a não achar nada de outro mundo. Não é preciso perguntar nada aos gregos, quase todas as noites eles aparecem na minha tv a falar no assunto: uns são contra e outros a favor. Uns culpam a Alemanha e outros o governo. O normal, os gregos são pessoas como os outros. Acho muito mal que me cortem na reforma. Se isso acontecer fico pior que estragado e pumbas, voto no Wilders. As reformas dos outros não é o meu problema, um raciocínio também assaz normal.


      Pergunta aos teus vizinhos se as reformas dos húngaros lhes tira o sono? Mas por outro lado quero que os gregos sejam prósperos, que é para comprar produtos holandeses e assim a economia holandesa crescer e não ficar na miséria económica que tu descreves, e que certamente me obrigaria a emigrar para um paraíso social que tu nunca queres mencionar!!!

      Terminas o teu comentário em grande, com mais uma frase do Wilders: "a dívida grega (como a portuguesa, aliás!) é IMPAGÁVEL..." (Ele não costuma falar da portuguesa).

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    3. Deixa lá o Wilders e responde à questão central: é ou não a dívida grega (e a portuguesa por extensão) impagável? (E, se não é pagável, o que é que sugeres)?

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    4. Ó santa paciência, já respondi a isto: uns dizem que não e outros dizem que sim, e ainda existem opiniões intermediárias com condicionais se .... E cada um escolhe a que mais gosta, e o Wilders também tem direito de escolher uma delas. A questão central encontra-se no post e não ulteriormente numa caixa de comentários.

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  16. Este programa vai FALHAR, pela simples razão que não podes recuperar uma economia, se esta não crescer, pelo menos 2 a 3% (o PIB caíu 26% em 5 anos!!!) e a dívida não pára de aumentar (180% actualmente). Ora como o excesso primário, não ultrapassa os 0,8%, é matematicamente impossível sobrar dinheiro para a economia real, com ou sem corrupção. É um dado objectivo e isso mesmo já perceberam figuras insuspeitas como a Lagarde, o Draghi, a Merkel e o Hollande, que já começaram a falar num "alívio" das condições da dívida. O mal não está nos gregos, nos portugueses ou nos irlandeses, mas numa moeda que foi mal concebida e que só favorece as economias fortes. Logo, a moeda única, para funcionar, tem de ter um supervisor, um tribunal de contas e uma fiscalidade comum, única forma de evitar tais crises e desequilíbrios na mesma zona monetária. Enquanto não mudarem as regras (é necessário um novo Tratado, ao qual a Alemanha se opõe...) a Grécia não só nunca terá "penas" para depenar, como nunca porá ovos. É como aquela história do cavalo do inglês: o dono dava-lhe cada vez menos comida e ele continuava a trabalhar...Até ao dia em que caíu de fraqueza e morreu de fome. Acorda, pá!

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    1. Este programa vai falhar? Uns dizem que sim e outros ..... (eu estou inclinado para o sim). A economia em Espanha estava muito mal e agora está a crescer mais de 3%, o que significa que tudo é possível.

      O mal não está nos gregos? Pois não, antes de entrarem na UE era uma economia fortíssima, exportavam que era uma fervura, instituições sólidas e toda a malta pagava impostos a tempo e horas. Que dis-je? A Grécia fazia inveja à Alemanha, e alemães com inveja são um perigo. É evidente que toda a gente estava a par das performances económicas da Grécia, mas os idealistas acreditavam que era possível - com mais Europa e menos soberania - travar o andamento (overheating) da economia grega.

      Claro que a moeda para funcionar tem que ter uma fiscalidade comum (lá está, mais Europa e menos soberania). Também já foi dito, citei o Thierry Baudet, que na Holanda há mais de dois anos que não se cansa de dizer que a moeda para funcionar...

      Mas o Euro não foi escolhido por um mas por vários países, e na altura pareceu-lhes lógico escolher uma moeda parecida com a moeda do pais mais industrializado da Europa - Marco Alemão - e não com a Lira Italiana. Ou estás indignado por não terem escolhido o Escudo?

      Com a tua história do cavalo queres provar que a Alemanha (ruída de inveja) quer a morte da Grécia! Mas porque carga de água? Qual é o interesse político, económico ou estratégico por trás?

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  17. Este comentário foi removido pelo autor.

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  18. Explica lá, como se eu tivesse dez anos, como é que um país com 180% de dívida pública (cerca de 400.000milhões de euros!), uma queda no PIB de 26% (uma das maiores da Europa no pós-guerra!), 25% de desempregados (a segunda maior da zona euro), 60% de desemprego jovem, emigração galopante, deteriorização da situação social, com uma economia que não cresce além de 1% e em recessão contínua há mais de 5 anos, pode pagar uma dívida pública destas? Se conseguires, és um sério candidato ao prémio Nobel. Como os verdadeiros prémio Nobel (Siglitz, Krugman, etc.) não conseguiram, vê lá se acertas, se não começo mesmo a pensar que és um idiota.

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  19. Rui Mota,

    Primeiro, gostaria que evitasses os insultos pessoais, que é para evitar fazer o mesmo num momento de má-disposição criando um ambiente desagradável.

    Eu nunca disse (E COMO PODERIA DIZER?) que a Grécia vai pagar ou pode pagar a dívida! Toda a gente sabe que os Gregos, na situação actual, NÃO PODEM PAGAR. Nisto está toda a gente entretanto de acordo, as opiniões separam-se só na maneira como resolver O problema (partindo do princípio que existe UM problema!):

    Aparentemente o mais fácil, dizem alguns, é simplesmente perdoar tudo e começar de novo. Mas isto contém três riscos:

    A. os gregos continuam a fazer o que faziam e a economia do país continua muito na mesma, totalmente dependente da boa-vontade de Bruxelas e de intervenções do FMI.

    B. perdoar a dívida à Grécia pode criar despendiosos precedentes e um compreensível mal-estar em relação a outros países, que fazem das 'tsipras' coração para pagar a dívida.

    C. a boa-vontade de Bruxelas (mesmo com todas as maldades e truques financeiros que lhe atribuis) é cada vez mais difícil de vender ao contribuinte do norte Europa, que apoia cada vez mais os partidos que são contra o projecto UE e que querem voltar à moeda nacional.

    Outros acreditam que com injecções de capital do BCE e com a ajuda do FMI a Grécia vai poder activar a sua economia, pagar a dívida e tornar-se um país 'normal', da Europa (de preferência do norte). Mas como o sucesso da operação está inteiramente dependente do comportamento dos gregos, as opiniões dos credores variam também na quantidade de ajuda (carcanhol), prazo de devolução, medidas mais adequadas e até que ponto os gregos vão suportar a austeridade que lhes é imposta.

    Os partidos do norte da Europa que não são a favor da UE (há diferentes graduações), podem ser maus e fáxistas, mas (ELES) acham que os gregos não vão modificar a curto prazo o seu entranhado comportamento (modelo económico) e as injecções de capital do BCE não vão alterar a ponta de um corno, é dinheiro deitado fora. (E o comportamento - não me refiro ao modelo económico - do Syriza nos últimos 6 meses ajuda ao sucesso eleitotal destes partidos...)

    Assim como no norte da Europa, também no sul existem partidos do contra: contra a União Europeia. Mas neste caso, as opiniões para a resolução do problema, divergem de tal maneira que não há ponta por onde se lhe pegue! Só numa coisa estão de acordo: todos eles dão a culpa a Alemanha. Mas depois separam-se entre os mais consequentes, ou radicais, que querem abandonar a UE e a moeda nacional; os que são a favor da UE mas dizem que tem que ser outra, mais democrática, mais do povo; e finalmente os que querem ficar na mesma UE, receber à mesma euros de Bruxelas, mas ao mesmo tempo poder continuar a insultar os alemães para elevar o ego...

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    1. Correção na quinta alínea do último parágrafo: "abandonar a UE e VOLTAR à moeda nacional;"

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    2. O actual governo grego, nunca declarou que não queria pagar a dívida. De resto, as dívidas são para pagar. Esta sempre foi a posição do Syriza que, inclusivé, apresentou um plano de reformas aos credores, logo nas primeiras reuniões em Bruxelas. Esse plano implicava novas maturidades (prazos), juros mais baixos e possibilidade de canalizar o saldo primário (diferença entre as receitas e as despesas, com excepção da dívida) na economia real (salários, pensões, apoios sociais, etc.). Ou seja, deixar de utilizar o saldo primário no pagamento da dívida, que era o que estava a acontecer, pois os credores queriam que esse excesso fosse para eles. Ora, dessa forma, não há investimento na economia, não são criadas empresas e empregos e não há poder de compra. Como não há poder de compra, as empresas não vendem, vão à falência e os trabalhadores vão para o desemprego...logo, as prestações sociais aumentam (subsídios de desemprego, apoios sociais, etc.) o que torna o sistema insustentável. Caso esta situação se mantenha por um período prolongado, as repercussões na economia real são negativas. Após dois trimestres de "crescimento negativo" (0% ou menos), uma economia entra em deflação e, posteriormente, em recessão, que é o que acontece na Grécia há 5 anos a esta parte, apesar dos dois "resgates" a que o país foi submetido, com a promessa que a economia ia melhorar. Não melhorou, como sabemos (de resto, em Portugal também não) e isso não é só culpa dos gregos (ou portugueses), mas dos programas de austeridade aplicados. É a história do cavalo do inglês, que tu não percebeste bem: podes diminuir a cevada ao cavalo e ele continuar a trabalhar, mas um dia este morre de fraqueza. O que os gregos disseram nas eleições de Janeiro e, posteriormente, no Referendo, foi: Não queremos mais austeridade! Não tem nada a ver com a dívida, pois esta, melhor ou pior (com ou sem reestruturação), será sempre paga, desde que "rode". Ainda ontem, a Grécia pagou 4.200 milhões ao FMI e ao BCE, com o dinheiro que recebeu na véspera (7.000 milhões destas mesmas instituições). Ou seja, pagou uma dívida e ficou com uma dívida nova. É assim que os países todos fazem! O que aconteceu na Grécia, como na maior parte dos países intervencionados, é uma combinação de diferentes factores: bolha imobiliária e lixo tóxico nos bancos da Irlanda, má gestação e crédito fácil em Portugal e endividamento permanente, de diversos governos, na Grécia. Em todos estes países houve corrupção e em todos funcionou o mesmo modelo: "endividem-se agora e paguem depois". A Alemanha, como de resto a França, etc., porque tinham economias mais fortes e criaram "superativs" (excedentes), através dos salários congelados e exportções, começaram a emprestar dinheiro aos países de economia mais fraca, para que estes pudessem modernizar-se e comprarem os produtos dos primeiros. Criaram, assim, uma dupla dependência: a nível de empréstimos e de produtos. Este modelo, até poderia ter funcionado, se os países tivessem moedas nacionais: desvalorizavam a moeda, consumiam menos (importações) e vendiam mais (exportações). Só que numa moeda única (com economias, sistemas fiscais distintos e desiguais) isso nunca pode funcionar. As economias mais fracas ficam sempre dependentes das mais fortes. Logo, a zona Euro tem de ser reestruturada (novo tratado) com o risco de implodir, pois a saída de um dos países, pode significar o ruir de todo o modelo. Este modelo funciona em países/federações como os EUA, a Russia ou a China, onde os Bancos Centrais, acorrem em caso de falência eminente de um dos estados. Os "planos de austeridade" empobreceram ainda mais uma população já de si empobrecida e, como é natural, não podia resultar. É este o problema de fundo, mas tudo respondes sempre com estereótipos (os gregos isto e aquilo, são mandriões, são corruptos e só querem enganar os gajos "sérios" do Norte). Quando os países do Norte são os únicos que estão a ganhar com esta crise, devido aos juros que aplicam.

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  20. Go_dot,

    Precisamente, a terceira via grega é isso mesmo: "o que é teu é nosso, o que é meu é meu." E por enquanto o mais lógico também parece-me ser cada um mija com a sua. Bem tento, mas não consigo ver bons argumentos a favor da UE. Na quinta-feira vem cá a casa comer um adepto da UE, vou puxar por ele a ver se me consegue fornecer alguns argumentos.

    Se o preocupa que fiquemos pior (igual já não é suficiente?) que o México, diga apenas isso mesmo, se não quem fica preocupado sou eu, a minha mulher e centenas de pessoas que o lêem e não conhecem o país.

    "As elites eurófilas criaram um monstro burocrático e recusam-se a reconhecer a paternidade do bicho." Sim, é verdade, mas ainda hoje li três argumentos que reconhecem isso mesmo e um a favor do 'bicho': sobre a protecção de um projecto de combate à corrupção na Roménia, onde os funcionários já teriam desaparecido se não fosse a pressão de Bruxelas.

    Pois eu continuo a achar o Dijsselbloem, apesar de ingénuo, competente e honesto. Um tipo a quem compraria um carro em segunda-mão sem controlar, isso chega-me para sentir vontade de o insultar.

    Os diagnósticos do Rui Mota nunca na vida me lembraram o Nigel Farage, até porque também não creio que o RM se sinta muito atraído pelos discursos do Nigel Farage - talvez 5%.

    Achei assaz estanha esta sua frase numa resposta ao RM: " Apesar de discordar completamente com o primeiro paragrafo."

    Mas qual parágrafo? Ele não faz parágrafos quando escreve!!!

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    1. Correcção no quarto parágrafro segunda alínea: "..... isso chega-me para NÃO sentir vontade de o insultar."

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    2. É verdade que provérbios ou uma boa metáfora poupa toneladas de explicações, mas não clarifica coisa nenhuma, para quem não está de acordo ou não percebe a metáfora. Neste tópico, só me resta agradecer a extensão e generosidade das vossas contribuições. Pela parte que me toca, o vosso precisar de diversos pontos de vista ajuda-me a tornar este assunto menos vago.

      Quanto ao paralelo do RM com o Farrage. Não é só o que ele escreve. É também o que eu leio no que está escrito.
      Estou sem tempo. Começaram as férias e a minha mulher, começa também a ficar preocupada com o tempo que eu passo atrás do computador.
      Mais logo vou ver o filme pela terceira vez, a ver se encontro a passagem que me sugeriu a semelhança.

      Tem razão, a falta de parágrafos dificulta bastante a leitura, referia-me às duas primeiras frases.

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    3. "nunca na vida…"
      Dei mais uma volta ao assunto. Farage/RM. Para além da antipatia pela troika e da compaixão e simpatia que os dois demonstram pelo sofrimento do povo grego. Hospitais e farmácias sem medicamentos, do direito dos gregos à autonomia, da corrupção dos banqueiros que refugaram a estatística, da teimosia da troika e finalmente da impossibilidade dos gregos pagarem a divida. Tudo muito bem arejado com um bonito leque de dados estatísticos. É essa a semelhança do diagnostico.

      Não é que eu duvide dos factos, da estatística, ou da excelência das ferramentas, usadas nas ciências sociais, mas nada me leva a crer, que os factos não estão sujeitos a interpretação ou que a estatística seja obra de inspiração divina.

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    4. É preciso ter em conta que a Troika se trata de 3 organizações com tarefas e responsabilidades diferentes. Mas ok, antipatia é possível, mas trata-se de um sentimento muito vago que se encontra em todo o espectro ideológico - Farage, RM, Marine Le Pen, Syriza, Wilders, Podemos, Aurora Dourada (neo-nazis gregos), SP, PCP, PNR, Bloco de Esquerda etc etc. - tal e qual como a antipatia contra os EUA e Israel...

      Demonstrar sofrimento pelo povo grego não custa nada, é de graça, cada um demonstra a quantidade que achar mais conveniente para o momento. Já a corrupção dos banqueiros custa dinheiro ao contribuinte, mas é igual à dos árbitros de futebol ou dos choferes de táxi, resolve-se e vira milho. É um facto que por enquanto não podemos passar sem bancos, colocar o nosso dinheiro debaixo do colchão é actualmente, com tantos 'lichtegetinten' à nossa volta, bem mais perigoso.

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  21. Quase me esquecia do Mexico!
    O “pior” tem a ver que o caminho a descer é sempre mais fácil que a subir.

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  22. Rui Mota,

    É claro que o actual governo grego NUNCA disse que não queria pagar a dívida! Pois não, só disse que atiraria para o cesto dos papéis os memorandos de Bruxelas com as condições de pagamento. E durante estes intercâmbios Tsipras atirou à cara dos alemães a dívida da Guerra e designou o FMI como sendo uma organização criminosa! O Varoufakis comparou a UE com terrorismo - que simpáticos! E também, contra todas as regras da UE, o governo grego não queria autorizar funcionários de Bruxelas (isto foi há bem pouco tempo) a verificar os dados do Instituto Nacional de Estatística da Grécia (ELSTAT).

    Mas se eles nunca poderão pagar a dívida, como tu dizes, o que é que aconteceu entretanto para o governo grego poder pagar? O Putin prometeu alguma coisa que a gente não sabe? Pensam finalmente explorar o petróleo que segundo parece têm na costa? Querem apenas impor as suas condições? Querem dinheiro emprestado sem juros?

    Para investir na economia, como tu dizes, é preciso pelo menos (tentar) modificar o sistema económico, de outra forma é deitar dinheiro fora. Mas há gregos (de pequenas e médias empresas) que já perceberam isso e já iniciaram a sua actividade económica com algum sucesso - mas não são a maioria, são os maus do costume que votaram no NAI (sim).

    A Grécia não melhorou nos últimos 5 anos! Pois eu leio por aqui que a economia grega nunca esteve boa - há dias até apareceu no NRC uma referência a um livro de viagens do século XIX de um francês que relatava muito espantado a forma como os gregos roubavam o Estado.

    Em Portugal a esquerda diz que a economia está muito mal (culpa da austeridade neo-liberal, claro, de quem havia de ser!), mas a direita diz que vai melhor e Bruxelas confirma! Em quem acreditar? Em Espanha idem dito, só que apresentam melhores números que Portugal.

    Eu percebo muito bem a história do cavalo, só não percebo a lógica! Mais uma vez, qual é o interesse de matar o cavalo, ou os cavalos? A metáfora só faz sentido, e nesse caso posso concordar, se houver uma razão estratégica. A única razão que mencionas é que os países do Norte enriquecem com a crise! Mas se os países do Norte não conseguirem exportar os seus produtos, porque os países à volta não têm poder de compra, temos a história do cavalo vista de outra perspectiva, mais realista.

    Toda a gente conhece as dificuldades que o Euro cria em países com economias diferentes. Mas quando a UE foi criada e o Euro introduzido, os idealistas, os políticos carismáticos, os visionários como tu gostas e que acreditavam piamente que com o tempo as economias acabariam por se fundir, ganharam. Os cautelosos, que queriam mais tempo para pensar, os merceeiros da primeira hora que na altura já duvidavam da capacidade da economia grega - e mesmo italiana - perderam.

    Anos mais tarde, quando se começou a topar que afinal a União Europeia com o seu Euro não é um mar de rosas, os cautelosos já se atreviam a medo a duvidar publicamente. Seguidamente apareceram no Norte da Europa partidos, especialistas e intelectuais claramente contra o projecto UE - apoiados nos argumentos que tu citas e mais outros que tu nunca abordas, porque não gostas. No início eram vistos como os maluquinhos da aldeia, como populistas, ver mesmo fáxistas. Quem poderia ter algo contra uma UE sem fronteiras, contra o Euro, contra solidariedade? Agora os amantes da Europa e do Euro tentam adaptar o discurso à complicada situação actual duma forma que mais parece uma fuga prá frente...

    Eu respondo realmente com estereótipos sobre os corruptos gregos, porque o nível de corrupção é real (está classificada) e é um entrave a qualquer tipo de melhoria do bem-estar e qualidade de vida dos próprios gregos, seja quem for o partido. Ao contrário dos estereótipos do costume que tu usas em relação aos países do Norte da Europa, onde as pessoas vivem decentemente mas têm a infelicidade de não ter um sistema político que te agrade.

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  23. Nunca me ouviste falar bem ou mal dos países (ou dos povos) em si, como é óbvio. Eu falao de modelos económicos e apresento-te dados quantificados. Tu falas em estereótipos: a conversa do taxista: Os muçulmanos são isto e aquilo (Isção), os ciganos são isto e aquilo (Sarkozy), os romenos ~soa isto e aquilo (deve ser por serem ciganos), os gregos já no século XIX eram feios, porcos e maus e...cerja em cima do bolo: votas Wilders, um xenófobo racista. Vê lá se não defendes ideias fascistas?
    Ainsa sobre a dívida: como era esperado, o FMi, o BCE e a UE, estão de acordo em aliviar a dívida grega. É tão simples como isto e não vale a pena disfarçar. Os programas de austeridade implementados pelas Troikas FALHARAM todos: as populações ficaram todas mais pobres, o desemprego aumentosu, as falèncias também e as condições sociais deterioram-se em todos os países intervencionados. A Espanha (informa-te e não digas disparates!), não foi intervencionada, apenas recebeu um empréstimo de 100.000 milhões para salvar (cá está) a banca (Caja). A Espanha te, actulamente, a maior taxa de desemprego de toda a zona Euro. Responde com factos e estatísticas e não te limites a papaguear opiniões de colunistas. Só para tua informação, aonda ontem saíu mais um número: a dívida pública portuguesa, que era de 97% do PIB em 2011, está actualmente em 130% do PIB. Ou seja, a dívida aumentou mais de 35%. Somos parvos, ou quê? Informa-te, pá e não digas asneiras.

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    1. Bem pior do que dizer asneiras, é dizer sempre bem dos povos! Deve ser terrivelmente fastidioso, deve ser uma tremenda chatice passar uma vida inteira sem poder contar uma anedota sobre belgas, ciganos ou alentejanos, porque os camaradas não acham bem...

      Há dados quantificados para todos os gostos e cada um (eu incluído) escolhe a seu gosto - chama-se a isso 'cherry picking' ideológico. Mas pior do que ser taxista, é ser capaz de transformar com dados quantificados ditaduras miseráveis em paraísos sociais, e, ao mesmo tempo, encontrar ainda todo o tipo de defeitos em países onde grosso modo toda a gente vive decentemente.

      Creio que depois de 30 anos a viver na Holanda, ainda não percebeste como a democracia funciona realmente! Neste país toda a gente tem o direito democrático de votar no Wilders ou no Dijsselbloem. A escolha é pessoal e não é preciso dar satisfações a ninguém. Mas como a liberdade individual e democrática pelos vistos te perturba, pensas que o povo ainda não está à altura de acarretar com tamanha responsabilidade, podias nesse caso dar umas dicas e dizer em que partido é que se deve realmente votar.

      Se a organização 'criminosa' FMI e os 'terroristas' da UE estão de acordo em aliviar a dívida grega, FAN-TÁS-TI-C0. Porque à excepção do esquerdista radical, que vive à custa de pobreza, ninguém, nem mesmo o Juncker, está interessado em ver pessoas a passar fome no seio da Europa. Já chega o terceiro-mundo que nos entra pela casa adentro juntamente com a quinta-coluna de jihadistas.

      Segundo dados quantificados de fontes bem informadas (NRC, blog Geenstijl e telejornal holandês), a economia espanhola cresceu entretanto 3%. Ora, este dado foi quantificado: 1+1+1=3. (A única coisa que disse sobre Espanha até agora, as outras asneiras é da tua inteira responsabilidade.

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