02 agosto 2015

RACISMO NOS EUA



Charles Groenhuijsen, ex-correspondente da tv-holandesa nos Estados Unidos, acha que "a pobreza nos negros americanos tem em parte a ver com racismo, mas não se pode dar a culpa de tudo aos brancos."



Os americanos mencionam normalmente  a economia, o desemprego e a política do governo como os problemas mais graves do país. Mas desde esta primavera o racismo também é mencionado. Não que o racismo alguma vez tivesse desaparecido, mas não estava no topo da lista. A origem foram os incidentes mortais em Ferguson, Staten Island e South-Charleston, onde agentes da polícia mataram civis negros.

A oposição racial é um problema persistente e tem mais tendência para aumentar do que para diminuir. Nem sequer a eleição do primeiro presidente negro veio melhorar a situação. Isto não é uma crítica ao presidente dos EUA, Barack Obama não pode fazer o impossível.

Quem tentar introduzir nuances numa discussão sobre racismo já sabe que pode contar com críticas. Que nuance introduzir acerca de racismo? Mas insisto na tentativa, não para sugerir que a discriminação nos EUA não é assim tão grave. É mesmo grave.

Todos os dias somos confrontados com racismo no escritório, na escola, nas lojas, na rua, e acaba sempre em exaltados debates que encalham numa separação entre bons e maus, vítimas e agressores. Frequentemente trata-se das consequências no século 21 da escravatura dos séculos 18 e 19. Os brancos dizem: racismo é uma coisa que já passou. Se um afro-americano até a Casa Branca pode conquistar tudo é possível. Parem lá com as queixas e as manifestações. Ah, e eu, branco de boa-vontade, estou farto de ser culpado de coisas que se passaram há dois séculos.

Os negros dizem: é a culpa dos brancos e do seu sistema de poder racista. Não nos dão iguais oportunidades e somos discriminados no trabalho, na universidade, pela polícia e pela justiça. E precisamente por isso temos que manter acesa a memória da escravatura. Ambas as análises são insuficientes. Não abordam um futuro prometedor mas um passado condenável. Tanto os brancos como os negros apontam a culpa demasiadamente em direcção do outro.

Os brancos poderiam dar uma olhadela nas estatísticas sobre pobreza e sentir um pouco mais de empatia. Poderiam também contribuir mais activamente no combate à desigualdade. Estar mais alertes à existência de racismo manifesto ou disfarçado. Mas a maior parte dos brancos  - com ou sem razão - só o farão quando algo mudar entre os negros.

Os jovens afro-americanos também poderiam evitar de emprenhar raparigas de dezasseis anos lá porque a avó era obrigada a sentar-se no banco de trás dos autocarros. Não é preciso matar compatriotas negros a tiro por causa da escravatura. Nascer num bairro pobre é uma enorme desvantagem para uma criança em crescimento, mas não serve de desculpa para faltar à escola e andar a roubar.

Soa redutor?

Vejam o que diz Barack Obama sobre o mercado de trabalho perante uma sala de estudantes afro-americanos acabados de se graduarem. Obama: "A concorrência de supermotivados candidatos chineses, indianos e brasileiros é cada vez maior. Já não podemos utilizar mais como desculpa a herança da escravatura, discriminação e racismo. Só conseguimos o que merecemos. Ninguém está interessado em saber como foi a tua educação ou saber se sofreste muito com a discriminação."

Os afro-americanos têm que se ver ao espelho. Na sequência dos incidentes mortais com a polícia, a palavra de ordem mais ouvida nas manifestações era 'black lives matter!'. Claro que a vida de um negro conta, mas então porque razão se matam uns aos outros tão frequentemente (mais de 40 assassinatos por semana)? Comparado com brancos o número de assassinos é 7 vezes maior. Será que a palavra de ordem dos manifestantes perde selectivamente a validade? E porque razão a cada assassinato de um negro não se ergue um líder afro-americano para afirmar que: 'Yes, all black lives matter' (Sim, todas as vidas de negros contam).

É verdade que a pobreza nos afro-americanos tem em parte origem no racismo. Mas não se pode dar a culpa de tudo aos brancos. Nos EUA há mais brancos pobres do que negros. Os afro-americanos não são o único grupo étnico frequentemente excluído do American Dream. Mas as frustrações entre os afro-americanos acumulam-se. Já não são a minoria mais numerosa dos EUA. Agora são os latinos, que em média apresentam melhores resultados na educação, trabalho e salário. Mais um facto doloroso: o número de emigrantes africanos (os que vieram voluntariamente) aumenta rapidamente e também estes obtêm melhores resultados.

Será que há apenas más noticias a registar acerca dos afro-americanos? Não, a boa notícia é que há cada vez mais afro-americanos com bastante sucesso. São professores catedráticos, cirurgiões, executivos, desportistas do topo, músicos e com certeza também o presidente do país. Mas o número dos que ficam para trás na escala social continua infelizmente bastante elevado. Mas os afro-americanos usam e abusam do atraso social (por impotência e desespero) como algo em que se orgulham. Toda tentativa de melhorar a situação é vista como exagero de zelo: 'You are acting so white' (estás a comportar-te como um branco). Muitos negros estão desiludidos com Obama. Será que ele é suficientemente negro? Os críticos acham que ele é demasiado 'branco' na sua política. Há mesmo quem o trate por 'wigger', ou seja, 'white nigger' (preto/branco).

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