03 outubro 2016

ALTERNATIVA para a ALEMANHA




Alternative für Deutschland (Alternativa para a Alemanha), o novo partido alemão está-se a tornar de dia para dia uma alternativa para os outros partidos.

E a sua dirigente, Frauke Petry, tem muito em comum com a Chanceler Angela Merkel - ambas nasceram e cresceram na Alemanha comunista (DDR). Ambas estudaram ciências exactas. Petry estudou química e Merkel física. Ambas se doutoraram. Ambas ingressaram relativamente tarde na política e ambas atingiram rapidamente o topo.

Mas estas comparações são superficiais. Não só a senhora Petry (41 anos) é de outra geração que Merkel (62 anos), como também, e o mais importante, em temperamento e convicções políticas as diferenças entre as duas mulheres não podem ser maiores.

Merkel é uma política prudente, de consenso, que se exprime sempre em termos vagos e difícil de catalogar ideologicamente. Mas por vezes lá toma uma decisão drástica - como no ano passado com a aceitação em massa dos refugiados da Síria ou anteriormente com a sua repentina opção contra a energia nuclear.

Petry é o seu contrário. É a anti-Merkel, sempre à procura do debate e desafio do poder estabelecido: eloquente, arrebatada, provocadora.

Não é por acaso que a rápida perda de popularidade de Merkel e do seu partido (CDU) vai de par com a crescente popularidade do AfD, o partido de Petry. A aversão contra a política de Merkel em relação aos refugiados é o motor do crescimento do AfD, um partido de protesto com apenas três anos.

Em eleições recentes no estado Mecklenburg-Vorpommern, que é o distrito eleitoral da senhora Merkel, o partido de Petry conseguiu mais votos que o CDU - uma humilhação para a Chanceler alemã.

Entrevista com Frauke Petry no parlamento distrital de Saksen, em Dresden, e publicada no último sábado no diário holandês NRC.

O seu partido afirma que o Islão não pertence à Alemanha. Você é contra a existência de mesquitas em Dresden e outras cidades?

Nós achamos que a população deve ser consultada acerca da construção de templos religiosos, não somente mesquitas.

Mas a liberdade de culto não está assente na constituição alemã?

Reconhecemos a liberdade de culto. Nada temos contra mesquitas, sim contra a chamada para a reza e minaretes. O islão, com as suas exigências políticas, difere substancialmente do cristianismo secular tal como funciona na Europa, com uma acentuada diferença entre Igreja e Estado. Inquéritos efectuados entre muçulmanos na Europa dizem-nos que metade dos respondentes estão dispostos a colocar a sharia (lei islâmica) acima do direito constitucional em caso de necessidade. Isso significa que o Islão forma um perigo para a democracia e para o estado de direito. Achámos que a religião é algo da esfera privada que deve estar fora do âmbito dos interesses do estado, e por conseguinte não deve ter objectivos políticos.

Então, você respeita a liberdade de culto excepto para uma religião? Ou há mais religiões que não pertencem à Alemanha?

Nós achamos que o Islão não pertence à Alemanha, mas muçulmanos alemães sim. A situação que existe em países muçulmanos não a queremos ver aqui copiada. Não queremos que a Alemanha vire de repente muçulmana. Temos membros muçulmanos no nosso partido que dizem precisamente o que eu acabei de dizer. Mas como isso não faz parte da imagem cliché nunca passa na imprensa.

A sua juventude na DDR foi determinante para a sua personalidade?

Evidentemente. Quem é que não teve a sua personalidade determinada na juventude? Só temos que nos perguntar qual o tipo de pessoa é o mais vantajoso para a democracia: pessoas que aceitam tudo tal e qual como está, ou pessoas que consideram o debate precisamente um caminho para a resolução de problemas. Eu acho que numa democracia a controvérsia é necessária.

Você tinha algumas expectativas quando há onze anos Angela Merkel chegou ao poder?

Nunca percebi muito bem a histeria à volta da sua pessoa. O seu passado nunca foi um segredo, ela sempre foi assaz fiel ao regime da DDR. Ela era, e é, uma filha do socialismo. Eu venho dum ambiente bastante crítico em relação à DDR e nunca compreendi como uma líder da agitação e propaganda da FDJ [Juventude Alemã Livre, o movimento oficial da juventude comunista, red.] pudesse vir a ser a Chanceler. Para mim isto é uma anedota da história.

O ela ter sido tão bajulada foi muito difícil de engolir para todos os alemães que passaram um mau bocado sob a ditadura comunista. Como os meus pais, que eram bastantes críticos em relação ao regime e foram por isso lesados na sua carreira profissional.

Qual é a maior culpa que atribui a Merkel?

Pergunto-me se ela tem convicções. Durante a revolução pacífica na DDR ela parece ter dito que a união da Alemanha não era o grande objectivo, mas sim um socialismo democrático e ecológico. E se virmos como se encontra hoje em dia o CDU, que se parece cada vez mais com o SPD (social-democrata), constatamos que ela enfia consequentemente princípios socialistas num partido conservador; da mudança do tipo de energia até ao salário mínimo não esquecendo a política dos refugiados, em que contra a vontade da população abriu as fronteiras provocando enormes danos ao país.

Contra a vontade da população, diz você, mas não seria melhor dizer contra a vontade do seu partido? Uma grande parte dos alemães ainda a apoia.

Mas segundo recentes inquéritos 80% da população é contra a sua política dos refugiados, agora que se tornou claro quão grande é a quantidade de imigração ilegal. No princípio isso não era visível, porque a imprensa fazia todo o possível para apresentar este fenómeno da maneira mais positiva possível. Tínhamos a sensação que o acolhimento de falsos e verdadeiros refugiados com brinquedos e ramos de flores se tinha tornado numa nova religião.

A imprensa falava sempre em refugiados, não fazia a diferença entre verdadeiros refugiados e migrantes ilegais, dos quais temos agora 500.000, pessoas que não têm direito a asilo político. Para estas pessoas não se deveria colocar o problema da sua integração. Deveriam simplesmente abandonar o país. Mas até hoje nada foi feito.

Você estudou na Inglaterra?

Sim, em Reading.   

Isso modificou a sua visão da Alemanha?

Absolutamente. Contactava com outros estudantes vindos do mundo inteiro e dei-me conta que fora da Alemanha havia mais interesse por questões relacionadas com a Alemanha, como a União da Alemanha por exemplo, do que no seu interior.

Reparei que o sentimento nacional na Alemanha era completamente subdesenvolvido. Sobretudo na Alemanha Ocidental, onde de preferência dizem que não são alemães. Quando muito dizem que são europeus, só para não terem que explicar que vêm da Alemanha. Este renegar da nacionalidade parecia-me ainda mais absurdo ao ver que os gregos, ingleses, franceses e portugueses tinham muito simplesmente orgulho nos seus países.

É preciso ainda acrescentar que muitos cidadãos da DDR estavam bem contentes por vir a fazer parte de uma Alemanha unida. Na DDR a palavra 'Alemanha' era um tabu na linguagem oficial. Mas deram-se de conta que também na parte Ocidental não se podia ser simplesmente alemão. E só me dei conta disto a partir do estrangeiro.

Mas estou absolutamente convicta que patriotismo é um sentimento normal. Como podemos nós nos esforçar por um país que não gostamos? O nosso partido (AfD) é o único que não tem problemas com patriotismo. Tenho que reconhecer que ultimamente o CDU (partido de Merkel) está a recuperar ligeiramente.

Você acha que a Alemanha tem uma especial responsabilidade na Europa?

Como país no coração da Europa não nos podemos dar ao luxo de seguir uma política isolacionista. Mas vemos que a Chanceler alemã nos últimos anos teve uma política isolacionista, por exemplo operando de forma solista em relação ao problema dos refugiados. Neste caso podemos quase falar de política isolacionista.

Nós achamos o mercado interno europeu uma excelente descoberta. Mas somos contra uma harmonização forçada no seio da União Europeia. Pensei que com a queda da Cortina de Ferro esta mania das igualdades já tinha acabado. Nós somos críticos em relação à Europa, não somos anti-Europa.

Desde o fim da Segunda-Guerra mundial que a Alemanha se esforçou por uma ligação com o mundo ocidental. Você quer manter essa política?

Somos a favor da NATO, mas achamos que a dominância americana deve ser reduzida. Tendo em conta a geografia, a Alemanha encontra-se no centro e por isso acho lógico que tenhamos também boas relações com a Rússia. A União Europeia, a NATO e os EUA intrometem-se de forma intolerável no conflito da Ucrânia. 

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