ÍNDIA, UMA IMENSA LATRINA

Há ainda muito boa gente que não sabe ler, ou interpreta mal os números relativos ao crescimento económico dos países. Quando a imprensa afirma que a Holanda tem actualmente um crescimento económico anual de 0,7% e a Índia de 6,7%, por exemplo, eles julgam que a Holanda em peso está na bicha do banco alimentar e que na Índia a malta agora come santolas todos os dias….

Não é bem assim, é preciso ter em conta o ponto de partida. Na Holanda, do ponto de vista de infra-estruturas, está praticamente tudo feito, enquanto que na Índia há ainda 665 milhões de habitantes sem acesso a uma cagadeira ligada a um sistema de esgotos.

Em 2019 as autoridades indianas querem pôr termo a esta situação e pensam instalar uma sanita em cada casa. Um gigantesco empreendimento, comparável com a construção do muro da China e que irá obviamente aumentar a percentagem do crescimento económico. Depois desta obra faraónica concluída, os indianos já não precisam de ir para o campo com uma latinha à procura de um lugar para arriar o calhau. Mas muito mais do que isto não é…

Ou será?

Sobretudo na província os indianos continuam a largar os seus poios em terrenos vagos como já faziam há milhares de anos. As mulheres escolhem lugares mais escondidos, mas também mais afastados e perigosos...

Segundo um artigo publicado na revista de ciência-médica The Lancet Global Health, a instalação de latrinas é um grande passo em frente na melhoria da saúde pública, mas não só, oferece também privacidade e dignidade - e evita que as mulheres sejam obrigadas a sair de casa sozinhas à noite, onde correm o risco de serem violadas, o que na Índia acontece frequentemente e ultimamente passou a ser um problema nacional.

Actualmente não sei como é, mas antigamente em Portugal era costume os rapazes esperarem pelas raparigas à saída da igreja. Na Índia, como não há igrejas (só em Goa), os rapazes (mas não só) esperam por elas depois delas defecarem entre canas de bambu….

Mas um estudo feito em larga escala na Índia pela London School of Higiene and Tropical Medicine, mostra que a instalação de sanitas só por si não oferece os resultados sanitários que seriam de esperar. Ao comparar 50 aldeias, onde as autoridades instalaram retretes de borla, com outras, onde só 10% das casas tinham uma sanita, notaram que a mortalidade infantil assim como o número de crianças a sofrer de diarreia, eram praticamente iguais...

E qual é então a razão?

Segundo o investigador a resposta não é simples. "Muita boa gente, que inicialmente tinha mandado instalar uma retrete, não faz uso da mesma! Sobretudo as crianças, um grupo com maior risco de infecções, perpetuam hábitos ancestrais e continuam a arriar a bisca no campo. E dos que têm acesso a sanita e a usam, nem todos têm por hábito lavar as mãos com água e sabão depois de terem ‘partido’ a cagadeira…"

O investigador acrescenta: “por vezes temos que investigar o que não funciona. É preciso mudar o comportamento. Tudo depende da educação. Além disso, devido ao sol e à chuva, os micróbios nas fezes ao ar livre morrem rapidamente. Está ainda por averiguar se uma latrina imunda de um metro quadrado utilizada por cinquenta indivíduos é uma solução mais higiénica!”

Creio que vou esperar por 2020 para visitar a Índia...