Gerrit Zalm, director do banco ABN-Amro
O professor de
economia Frans van de Camp, que é cliente do banco ABN, ficou pior que
estragado com os recentes aumentos de salário que a direcção deste banco se
outorgou e escreveu no diário NRC uma carta aberta a Gerrit Zalm, o actual director
e quatro vezes ministro das finanças pelo partido VVD (direita liberal).
Gerrit, posso
tratar-te por tu? Já que sou cliente do banco do qual tu concedeste um aumento
de salário de 100 mil euros à direcção. Fizeste isso para compensar a política
austera do Estado em relação aos bónus. E na semana passada defendias este
aumento de salário na tv desta forma: "Estamos decentemente nos parâmetros
da lei." O decentemente poderias ter deixado de lado.
Como cliente já
compro produtos ABN há quarenta anos, mas para isso tenho que abrir os cordões
à bolsa, e não é pouco. Estou a pensar na minha demasiado cara hipoteca e agora,
que tenho algum a receber, vou ter que pagar consultoria! Não era tudo
incluído? O ABN não trata bem os seus clientes. Estes servem apenas para serem
sugados financeiramente. Com a minha conta-poupança sou considerado no teu
banco fornecedor de capital, mas recebo uma ninharia em juros que mal cobre a
inflação. 'Last, but certainly not least', sou também gerador de capital e,
como contribuinte, possibilitei o Estado salvar o teu banco da falência.
Não dás muita
importância à tua função social. As médias e pequenas empresas queixam-se que
não conseguem arranjar crédito. A primeira coisa que notei, quando te tornaste
director do banco em nome do Estado, foi que os administradores rapidamente te
embrulharam. De repente a tua primeira preocupação foi assegurar os bónus!
Estranho, porque eu pensei realmente que tu ias defender os interesses do
contribuinte. Não era esse o acordo?
No ano passado
declaraste que ias aumentar o salário do topo em 20%. Na semana passada os
salários foram novamente aumentados e reintroduziste os bónus. Numa entrevista
na tv tentavas justificar estas altas gratificações dizendo que, todas as contas
feitas, se tratava precisamente de uma moderação. Porque razão estás sempre a
regatear a política do actual ministro das finanças [Jeroen Dijsselbloem, cdr]?
Será que ainda fazes parte do partido com "democracia" no nome? E no
entanto, nesta tua função, serves apenas o interesse dos banqueiros, não o interesse
dos 'stakeholders', nem o meu, como cliente. Fazes um manguito à sociedade.
Sinto-me burlado.
E acaba lá com
essa falácia de que os administradores mais competentes se vão embora se não
receberem salários exorbitantes. Os banqueiros holandeses não conseguem emprego
no estrangeiro. Sobretudo nos tempos que correm. Além disso as nossas
universidades fornecem todos os anos novos talentos para desempenhar o belo
ofício de banqueiro. Não me digas que queres gente que desempenha a função
apenas pelo dinheiro?
Não achas isso chato
para os empregados mais baixos na hierarquia? Neste momento já ninguém se
atreve a dizer durante festas de aniversário que trabalha num banco, com medo
que o tratem de ganancioso. Desta maneira sugeres que há uma relação entre a
qualidade dos teus administradores e a recompensa. Mas se há uma coisa que
aprendemos da crise financeira foi que: os que mais ganhavam foram os que
provocaram o maior caos.
Tu dás a entender
que a banca é assim uma coisa muito complexa. Mas será verdade? Trata-se apenas
de recolher o dinheiro de poupanças, a que tu ofereces um juro muito baixo, administrá-lo
com cuidado e emprestar a terceiros por um juro alto. Por definição isto dá
lucro. É verdade que é preciso alguns conhecimentos de guarda-livros e de
cálculo de risco, mas ciência balística é outra conversa.
Ninguém te pode acusar de falta de lata. Tens que a
ter para implementar aumentos de salário desta envergadura, mas eu estou farto Gerrit. Dá-me uma boa razão para eu ser ainda cliente do banco. E para o caso
de pensares que eu faço parte do Partido da Inveja [Partido Socialista, cdr], não Gerrit,
eu voto VVD [partido da direita liberal actualmente no poder, cdr].
Mais uma seita de iluminados.....
ResponderEliminarIsto deixado às mãos dos investidores dá bosta... é só torrar a gita toda.
O mal da tuga chegou a muitos lados... O povo passa mal...
As PME são o futuro da nação valente...
Abaixo com os iluminados, BASTA
Mas por cá os banqueiros já estão a recuar, já abdicaram do aumento de salário a que legalmente tinham direito mas socialmente não... Isto só com pressão é que funciona...
ResponderEliminarMeu caro não acredito em actos de "Maquilhagem" de iluminados...
ResponderEliminarEles sabem muito como funciona o sistema.
O povo fica pela cavala e pelo chicharro..... com batata e couves....
Iluminado come caviar... e acende charutos com notas de 50 euros.
Como diz a seguir o Go_dot e muito bem, o povo é quem paga os chorudos salários dos jogadores do Benfica, e neste caso ninguém os ouve. Sim, ouve a mandar vir contra o árbitro, que arrisca a vida e ganha uma ninharia...
EliminarAh, e o CR7 só não acende charutos com notas de 500 euros porque não fuma, e não come caviar porque o infeliz só gosta da comida da Dona Dolores: chicharro com batatas e couves...
EliminarCaro CdR, é bem provável que o recuo seja tático. É precisão recuar para saltar mais longe.
ResponderEliminarFiquei a matutar nas suas reticencias.
a que legalmente tinham direito mas socialmente não... Isto só com pressão é que funciona...
Qualquer infeliz como eu, que acompanhe as noticias via rádio e televisão se apercebe que a aversão ao capital e ao lucro está na ordem do dia. Os banqueiros são as bruxas da actualidade. Os inimigos de estimação da “desinformação social”. Vivemos uma espécie de neo-obscurantismo.
Por falar em bónus. Nunca vi semelhante campanha sobre a “obscenidade” dos bónus e honorários dos futebolistas da seleção nacional, ou dos apresentadores nas cadeias publicas de televisão.
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EliminarGo-dot, é absolutamente verdade que pouco ou nada se ouve sobre os chorudos salários dos jogadores de futebol ou dos politicamente correctos apresentadores da tv (e estes também são pagos com o dinheiro dos contribuintes!).
EliminarMas a minha intenção, com este artigo de um prof. da direita liberal, era apenas demonstrar a flexibilidade e a capacidade de adaptação do sistema capitalista a mudanças sociais. O banco ABN, depois de ter sido resgatado com dinheiro dos contribuintes, passou a ser do Estado e os banqueiros passaram a ser funcionários. Numa situação destas é injusto os administradores do banco se outorgarem salários exorbitantes, num período em que o restante do maralhal é solicitado a apertar o cinto.
Agora percebi a intenção, está em duplicado.
ResponderEliminarTodavia foi o ministro das finanças que autorizou o aumento de salário e agora dá o dito por não dito e embrulha o assunto em “Kwestie van moraliteit een verkeerd signal”
Em principio o governo é o intermediário. A responsabilidade está na política, e em ultima analise no voto. Nem a fusão dos bancos de poupança com os de investimento, nem o financiamento de bancos privados com guita publica, foi feita às escondidas.
Que saudades do PostBank e da flexibilidade dos cheques do giro.
Precisamente, o ministro das finanças foi quem criou este imbróglio ao aceitar na altura o aumento de salários em troca dos bónus. O cartoon do NRC de hoje foca esse ponto: EEN JA HEB JE, EEN NEE, KRIJG JE.
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