Berlusconi, assim como a esquerda portuguesa, acha que a crise económica italiana é culpa da Merkel. Derk Jan Eppink, um jornalista holandês e membro do parlamento europeu, diz-nos que os italianos já estão quase ao nível dos gregos na aversão aos alemães, e Berlusconi aposta forte neste sentimento enquanto que Mário Monti transmite a imagem de um vassalo de Merkel.
Derk Jan Eppink:
Economia italiana é um espelho da economia europeia
A Itália debate-se com um dilema: abraça o Euro como um símbolo de unidade europeia mas economicamente a moeda não está ao seu alcance. A coroa da Unidade Europeia tornou-se uma coroa de espinhos para os italianos. Desde a introdução do Euro a economia italiana a bem dizer não cresceu, fazendo com que a zona rica do país, o Norte, sinta cada vez mais dificuldades em suportar anualmente o Sul pobre com um fluxo financeiro de 50 biliões de euros. O economista italiano Claudio Borghi afirmava há dias: “a economia italiana é um perfeito espelho da economia europeia. O norte é a Alemanha, o centro a França e o sul a Grécia. Roma é Bruxelas!” Ele é a favorável a uma saída do Euro por parte da Alemanha, mas uma afirmação deste tipo é por enquanto como praguejar na igreja.
A Lira
Note-se que a crise italiana é tão velha como a própria Itália, que em 1861 introduziu a Lira como moeda única. Nessa altura, o Sul e o Norte estavam aproximadamente ao mesmo nível de desenvolvimento. Nápoles era uma das maiores cidades da Europa. O resultado da introdução da Lira foi que o Norte (liberal) com a sua industrialização, fluxo de capital e força de trabalho, conseguiu um avanço económico, enquanto que o Sul (feudal) - il Mezzogiorno – se enterrou. Esta clivagem de prosperidade e desenvolvimento ainda perdura, apesar das transferências de capital de Norte para Sul que inicialmente passavam por Roma, e agora também através dos fundos europeus de Bruxelas.
Os guardas-florestais
A Lira foi feita à medida do Norte. Esta moeda, que era demasiadamente forte para o Sul, era para o Norte suficientemente fraca para estimular a exportação. Uma desvantagem: o facto das empresas verem o seu lucro fiscalmente reduzido para que Roma pudesse desviar este capital para Sul. Estes subsídios financiavam sobretudo uma administração criminosa, sendo o governo o principal empregador. ‘Emprego em troca de votos’. Resultado, a Calábria tem mais guardas-florestais que o Canadá. Mas a indústria no norte de Itália guardava a sua vantagem: uma Lira relativamente fraca garantia poder de concorrência, sobretudo no mercado europeu. A integração monetária europeia asfixiou esta vantagem.
No princípio dos anos noventa a Itália, por força das circunstâncias - as exportações caíram - retirou-se do Sistema Monetário Europeu (SME), que servia para evitar grandes flutuações de câmbio entre as diferentes moedas. Só depois do país ter saído do SME e de ter desvalorizado a Lira, é que a exportação se restabeleceu e deu início aos anos de ouro do ‘milagre económico italiano’. Mas o ‘milagre’ chegou drasticamente ao seu fim com a introdução do Euro. A moeda europeia, feita à medida da Alemanha, era muito cara para o Norte da Itália. A exportação caiu, desvalorizar não é mais possível e os italianos vão vivendo de crédito até à chegada da crise. Agora há muitas empresas no Norte de Itália a falir e os cidadãos vivem das suas poupanças. A pressão fiscal continua alta e foi ainda aumentada por Mário Monti, porque as transferências de capital em direcção do Mezzogiorno têm que continuar. De outra forma há uma revolta no Sul da Itália.
No princípio dos anos noventa a Itália, por força das circunstâncias - as exportações caíram - retirou-se do Sistema Monetário Europeu (SME), que servia para evitar grandes flutuações de câmbio entre as diferentes moedas. Só depois do país ter saído do SME e de ter desvalorizado a Lira, é que a exportação se restabeleceu e deu início aos anos de ouro do ‘milagre económico italiano’. Mas o ‘milagre’ chegou drasticamente ao seu fim com a introdução do Euro. A moeda europeia, feita à medida da Alemanha, era muito cara para o Norte da Itália. A exportação caiu, desvalorizar não é mais possível e os italianos vão vivendo de crédito até à chegada da crise. Agora há muitas empresas no Norte de Itália a falir e os cidadãos vivem das suas poupanças. A pressão fiscal continua alta e foi ainda aumentada por Mário Monti, porque as transferências de capital em direcção do Mezzogiorno têm que continuar. De outra forma há uma revolta no Sul da Itália.
Italianos adoram o euro mas não as suas implicações…
A ausência de perspectivas no Sul da Itália vai de par com o empobrecimento do Norte. Berlusconi explora esta situação em conjunto com a Liga Norte, que designa Roma com o ponto onde começa África. Roberto Maroni, o líder da Liga, defende a introdução de uma moeda paralela ao euro na região da Lombardia. Graças à União Monetária Europeia um foco de podridão da moeda única instalou-se na terceira potência económica da Europa. Os italianos gostam muito do Euro mas odeiam as consequências da moeda única. Esta é a amarga realidade por trás do dramatismo teatral dos italianos.
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