Em certos círculos nacionais já há felizmente
gente que percebeu o que é preciso fazer para tentar sair da crise – e não é
certamente passar a vida a cantar a Grândola Vila Morena ou a colar bigodes e
cruzes gamadas nas fotos da senhora Merkel, nem tão pouco facilitar empreitadas
faraónicas sem grande utilidade pública.
João Ferreira do Amaral
De grande utilidade pública foi a publicação
do livro do economista João Ferreira do Amaral, Porque Devemos Sair do Euro,
que teve um excelente acolhimento por parte do nosso bom povo, provando que não
é assim tão rude como se costuma cantar nos fados. Ao mesmo tempo o best-seller de Ferreira do
Amaral não passou despercebido na Europa do Norte e o nosso economista teve
direito a uma entrevista em horário nobre na tv holandesa. Neste país, esta
discussão – ficar ou abandonar o Euro - já rebentou há algum tempo mas continua
bastante viva. Há mesmo quem vá mais longe e preconize voltar as costas à União Europeia.
Trias Politica no blogue De Dagelijkse
Standaard
No influente blogue De Dagelijkse Standaard (O
padrão diário) há um colunista que assina como trias politica e é
certamente casado com uma portuguesa - nota-se uma especial predilecção pelo
país e está sempre bem informado:
“Amaral é um dos muitos economistas de renome
internacional que já tinham avisado para a política do ‘one-size-fits-all-euro’
(medida única que serve para todos). E com razão, porque quem pensa duas vezes
sabe que uma moeda única e UMA política monetária para economias tão diferentes
não vai funcionar.
As consequências são previsíveis: destruição
da classe-média, desemprego, empobrecimento e total falta de perspectivas
caracterizam Portugal em 2013. Isto zanga-me e entristece-me ao mesmo tempo.
Entristece-me ver o orgulho deste fantástico povo quebrado. Zanga-me porque
isto é a consequência da errada política de Bruxelas. Nomeadamente com o
compatriota Barroso como patrão (presidente) do comité executivo da Comissão
Europeia.
O que Portugal precisa é explicado de forma
breve e clara por Ferreira do Amaral: Portugal tem novamente de poder
desvalorizar para poder concorrer, e para isso tem que abandonar o Euro. Mas
como uma saída do Euro tem implicações desfavoráveis, como aliás é assinalado
por Ferreira do Amaral no seu livro, é necessário criar uma fase intermédia que
permita às economias mais fracas uma desvalorização da moeda. Porque o percurso
que é seguido actualmente: desvalorização interna através de moderação salarial
não funciona. Dura muito tempo e os preços não vão imediatamente atrás."
José Félix Ribeiro
Mas a melhor explicação que ouvi até hoje sobre a crise económica que se faz mais sentir em certos países da Europa, nos chamados PIGS
(Portugal, Itália, Grécia, Espanha), foi a do nosso compatriota e aposentado economista José Félix
Ribeiro numa entrevista na SIC… De forma genial, como uma fórmula de Einstein, o nosso economista resume a crise numa curta frase...
À pergunta retórica da jornalista Judite de
Sousa "o que originou a situação em que o país se encontra", responde José
Félix Ribeiro:
O que se passou em Portugal é muito simples.
Perdemos o emprego como economia e
ao mesmo tempo deram-nos um cartão de crédito. E nós tivemos durante
anos acesso a um cartão de crédito sem descobrir que estávamos desempregados.
Quem desejar aprofundar a fórmula de Félix Ribeiro, aconselho vivamente este vídeo.
Deram um cartão de crédito aos portugueses sabendo que eles não podiam pagar. Tanto os portugueses como os que concederam o crédito têm culpas no cartório. Quem emprestou faz lembrar os agiotas: sabendo que quem pediu emprestado nunca vai conseguir pagar as dívidas, aumentam-se exigências e contrapartidas que nada têm a ver com o capital inicialmente emprestado. Além disso, há um indivíduo chamado Paulo de Morais que escreveu recentemente um livro "Da corrupção à crise" em que afirma que somente 15% dos portugueses realmente se deslumbrou com o crédito barato. O resto são 30 anos de corrupção e amiguismo. Ando a ler esse livro e recomendo-o. Vejam esse sr. no You Tube: um nortenho desassombrado e sem papas na língua. Assim é que eu gosto deles.
ResponderEliminarVi a entrevista que apontou no YouTube, do Paulo Morais.
Eliminar"Da Corrupção à Crise: Que Fazer?"
Excelente desabafo. Paulo Morais esgalhou em três semanas um “Fill good best-seller”. O livro palpita-me interessantíssimo, cheio das anedotas que todos conhecemos da pequena corrupção, mas agora em livro de bolso, com nomes e detalhes dos artistas da grande corrupção. Podemos dormir descansados!
Apesar de inteiramente de acordo com o enunciado, que corrupção e nepotismo destrói a confiança na democracia.
A conclusão parece-me vaga. Nomeadamente a parte do ovo e da galinha, em que a pequena corrupção se deve à grande corrupção. Aqui tenho sérias duvidas. Os interesses pessoais são motivos poderosos para todos nos.
Como diz um provérbio holandês: "Não se deve amarrar o gato ao toucinho."
Cartão de crédito, uma ova! Os Portuguese têm o que merecem. Orgulho quebrado, outra ova! É mesmo povo quebrado.
ResponderEliminarNão vejo como o Novo Escudo pode ajudar. A dívida está em Euros, logo será paga em Euros. Passar para o Novo Escudo sem converter essa dívida para a nova moeda, não serve de nada. Ou melhor, até serve: sevirá para aumentar a miséria e fechar o páis ao comércio externo.
A menos que os amigos nortenho-europeus não se importem de perder uma catrefada de massa com essa conversão. Aí podemos falar em Novo Escudo ou Nova Bosta Fiduciária.
@ Alfacinha: “Tanto os portugueses como os que concederam o crédito têm culpas no cartório.”
ResponderEliminarPrecisamente. Mas isso é dito pelo Ferreira Amaral e pelo Félix Ribeiro!!!
@ Alfacinha: “Quem emprestou faz lembrar os agiotas: sabendo que quem pediu emprestado nunca vai conseguir pagar as dívidas,”
Isso não é bem verdade, porque quem empresta tem sempre a esperança de receber algum e o risco de perder o dinheiro emprestado. Parto do princípio que ninguém gosta de perder dinheiro!
Eu também tenho uma grande admiração pela coragem de Paulo Morais, vice-presidente da organização Transparência e Integridade. Mas sobre 15% ele afirma que isto é a percentagem de políticos corruptos… Mas obrigadinho pela recomendação do livro.
@ Bloguisses: “Cartão de crédito, uma ova! Os Portuguese têm o que merecem.”
ResponderEliminarO cartão de crédito na frase/fórmula do Félix Ribeiro é uma imagem, uma metáfora se preferir. Não se trata de um cartão de crédito real, de plástico, dado a cada português!!! No vídeo ele explica em detalhe o que ele quer dizer com 'cartão de crédito'.
Alguns portugueses têm o que merecem, é verdade, mas entre eles há muitos que têm muito mais do que merecem, e assim fica sempre muito pouco para os que realmente merecem.
@ Bloguisses: “Não vejo como o Novo Escudo pode ajudar.”
Ajuda no sentido em que quem passa a manipular (valorizar ou desvalorizar) o escudo é o Banco de Portugal, é o governo português com base nos interesses nacionais.
Passar de uma moeda para outra não vai ser fácil nem um mar de rosas, toda a gente sabe isso, mas tanto o Amaral como o Félix Ribeiro abordam este assunto. Mas continuar com uma dívida impagável e sem possibilidade de estimular o ‘comércio externo’ significa não sair da cepa torta.
É claro que o cartão de crédito é uma imagem. Em Democracia (talvez seja melhor escrever "democracia"), o povo Português tem o que merece: é o povo que elege sempre os mesmos.
Eliminar@José Carmo da Rosa: "é o governo português com base nos interesses nacionais."
Como? Não percebi. Importas-te de repetir? Acho que te enganaste: o governo de Portugal a agir pelo interesse nacional. No interesse nacional? Também podemos ir a Fátima queimar uma velinha. Com certeza que surte o mesmo efeito.
@José Carmo da Rosa: "continuar com uma uma dívida impagável [...] significa não sair da cepa torta"
Ah, pois é. É isso mesmo. O que eu quero saber é como o Novo Escudo pode ajudar com a dívida externa (denominada maioritariamente em Euros). Como é que funciona?
Deixarmos o Euro significa deixar o povo português mais pobre, sem resolver o problema da dívida. A dívida não desaparece se sairmos do Euro. Fica igualzinha. As batatas é que ficam mais caras.