02 julho 2013

EURO, sim ou não?





Em certos círculos nacionais já há felizmente gente que percebeu o que é preciso fazer para tentar sair da crise – e não é certamente passar a vida a cantar a Grândola Vila Morena ou a colar bigodes e cruzes gamadas nas fotos da senhora Merkel, nem tão pouco facilitar empreitadas faraónicas sem grande utilidade pública.





João Ferreira do Amaral

De grande utilidade pública foi a publicação do livro do economista João Ferreira do Amaral, Porque Devemos Sair do Euro, que teve um excelente acolhimento por parte do nosso bom povo, provando que não é assim tão rude como se costuma cantar nos fados. Ao mesmo tempo o best-seller de Ferreira do Amaral não passou despercebido na Europa do Norte e o nosso economista teve direito a uma entrevista em horário nobre na tv holandesa. Neste país, esta discussão – ficar ou abandonar o Euro - já rebentou há algum tempo mas continua bastante viva. Há mesmo quem vá mais longe e preconize voltar as costas à União Europeia.

Trias Politica no blogue De Dagelijkse Standaard

No influente blogue De Dagelijkse Standaard (O padrão diário) há um colunista que assina como trias politica e  é certamente casado com uma portuguesa - nota-se uma especial predilecção pelo país e está sempre bem informado:

“Amaral é um dos muitos economistas de renome internacional que já tinham avisado para a política do ‘one-size-fits-all-euro’ (medida única que serve para todos). E com razão, porque quem pensa duas vezes sabe que uma moeda única e UMA política monetária para economias tão diferentes não vai funcionar.

As consequências são previsíveis: destruição da classe-média, desemprego, empobrecimento e total falta de perspectivas caracterizam Portugal em 2013. Isto zanga-me e entristece-me ao mesmo tempo. Entristece-me ver o orgulho deste fantástico povo quebrado. Zanga-me porque isto é a consequência da errada política de Bruxelas. Nomeadamente com o compatriota Barroso como patrão (presidente) do comité executivo da Comissão Europeia.

O que Portugal precisa é explicado de forma breve e clara por Ferreira do Amaral: Portugal tem novamente de poder desvalorizar para poder concorrer, e para isso tem que abandonar o Euro. Mas como uma saída do Euro tem implicações desfavoráveis, como aliás é assinalado por Ferreira do Amaral no seu livro, é necessário criar uma fase intermédia que permita às economias mais fracas uma desvalorização da moeda. Porque o percurso que é seguido actualmente: desvalorização interna através de moderação salarial não funciona. Dura muito tempo e os preços não vão imediatamente atrás."

José Félix Ribeiro

Mas a melhor explicação que ouvi até hoje sobre a crise económica que se faz mais sentir em certos países da Europa, nos chamados PIGS (Portugal, Itália, Grécia, Espanha), foi a do nosso compatriota e aposentado economista José Félix Ribeiro numa entrevista na SIC… De forma genial, como uma fórmula de Einstein, o nosso economista resume a crise numa curta frase...

À pergunta retórica da jornalista Judite de Sousa "o que originou a situação em que o país se encontra", responde José Félix Ribeiro:

O que se passou em Portugal é muito simples. Perdemos o emprego como economia e  ao mesmo tempo deram-nos um cartão de crédito. E nós tivemos durante anos acesso a um cartão de crédito sem descobrir que estávamos desempregados.

Quem desejar aprofundar a fórmula de Félix Ribeiro, aconselho vivamente este vídeo.

6 comentários:

  1. Deram um cartão de crédito aos portugueses sabendo que eles não podiam pagar. Tanto os portugueses como os que concederam o crédito têm culpas no cartório. Quem emprestou faz lembrar os agiotas: sabendo que quem pediu emprestado nunca vai conseguir pagar as dívidas, aumentam-se exigências e contrapartidas que nada têm a ver com o capital inicialmente emprestado. Além disso, há um indivíduo chamado Paulo de Morais que escreveu recentemente um livro "Da corrupção à crise" em que afirma que somente 15% dos portugueses realmente se deslumbrou com o crédito barato. O resto são 30 anos de corrupção e amiguismo. Ando a ler esse livro e recomendo-o. Vejam esse sr. no You Tube: um nortenho desassombrado e sem papas na língua. Assim é que eu gosto deles.

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    1. Vi a entrevista que apontou no YouTube, do Paulo Morais.
      "Da Corrupção à Crise: Que Fazer?"

      Excelente desabafo. Paulo Morais esgalhou em três semanas um “Fill good best-seller”. O livro palpita-me interessantíssimo, cheio das anedotas que todos conhecemos da pequena corrupção, mas agora em livro de bolso, com nomes e detalhes dos artistas da grande corrupção. Podemos dormir descansados!

      Apesar de inteiramente de acordo com o enunciado, que corrupção e nepotismo destrói a confiança na democracia.
      A conclusão parece-me vaga. Nomeadamente a parte do ovo e da galinha, em que a pequena corrupção se deve à grande corrupção. Aqui tenho sérias duvidas. Os interesses pessoais são motivos poderosos para todos nos.
      Como diz um provérbio holandês: "Não se deve amarrar o gato ao toucinho."

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  2. Bloguisses02/07/13, 16:23

    Cartão de crédito, uma ova! Os Portuguese têm o que merecem. Orgulho quebrado, outra ova! É mesmo povo quebrado.

    Não vejo como o Novo Escudo pode ajudar. A dívida está em Euros, logo será paga em Euros. Passar para o Novo Escudo sem converter essa dívida para a nova moeda, não serve de nada. Ou melhor, até serve: sevirá para aumentar a miséria e fechar o páis ao comércio externo.

    A menos que os amigos nortenho-europeus não se importem de perder uma catrefada de massa com essa conversão. Aí podemos falar em Novo Escudo ou Nova Bosta Fiduciária.

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  3. @ Alfacinha: “Tanto os portugueses como os que concederam o crédito têm culpas no cartório.”

    Precisamente. Mas isso é dito pelo Ferreira Amaral e pelo Félix Ribeiro!!!

    @ Alfacinha: “Quem emprestou faz lembrar os agiotas: sabendo que quem pediu emprestado nunca vai conseguir pagar as dívidas,”

    Isso não é bem verdade, porque quem empresta tem sempre a esperança de receber algum e o risco de perder o dinheiro emprestado. Parto do princípio que ninguém gosta de perder dinheiro!

    Eu também tenho uma grande admiração pela coragem de Paulo Morais, vice-presidente da organização Transparência e Integridade. Mas sobre 15% ele afirma que isto é a percentagem de políticos corruptos… Mas obrigadinho pela recomendação do livro.

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  4. @ Bloguisses: “Cartão de crédito, uma ova! Os Portuguese têm o que merecem.”

    O cartão de crédito na frase/fórmula do Félix Ribeiro é uma imagem, uma metáfora se preferir. Não se trata de um cartão de crédito real, de plástico, dado a cada português!!! No vídeo ele explica em detalhe o que ele quer dizer com 'cartão de crédito'.

    Alguns portugueses têm o que merecem, é verdade, mas entre eles há muitos que têm muito mais do que merecem, e assim fica sempre muito pouco para os que realmente merecem.

    @ Bloguisses: “Não vejo como o Novo Escudo pode ajudar.”

    Ajuda no sentido em que quem passa a manipular (valorizar ou desvalorizar) o escudo é o Banco de Portugal, é o governo português com base nos interesses nacionais.

    Passar de uma moeda para outra não vai ser fácil nem um mar de rosas, toda a gente sabe isso, mas tanto o Amaral como o Félix Ribeiro abordam este assunto. Mas continuar com uma dívida impagável e sem possibilidade de estimular o ‘comércio externo’ significa não sair da cepa torta.

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    1. Bloguisses05/07/13, 14:56

      É claro que o cartão de crédito é uma imagem. Em Democracia (talvez seja melhor escrever "democracia"), o povo Português tem o que merece: é o povo que elege sempre os mesmos.

      @José Carmo da Rosa: "é o governo português com base nos interesses nacionais."

      Como? Não percebi. Importas-te de repetir? Acho que te enganaste: o governo de Portugal a agir pelo interesse nacional. No interesse nacional? Também podemos ir a Fátima queimar uma velinha. Com certeza que surte o mesmo efeito.

      @José Carmo da Rosa: "continuar com uma uma dívida impagável [...] significa não sair da cepa torta"

      Ah, pois é. É isso mesmo. O que eu quero saber é como o Novo Escudo pode ajudar com a dívida externa (denominada maioritariamente em Euros). Como é que funciona?

      Deixarmos o Euro significa deixar o povo português mais pobre, sem resolver o problema da dívida. A dívida não desaparece se sairmos do Euro. Fica igualzinha. As batatas é que ficam mais caras.

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