Toda a gente conhece a triste história da
escravatura praticada pelo ocidente (portugueses, espanhóis, holandeses,
ingleses) e abolida no século dezanove. Mas a Oriente a escravatura ainda não foi
abolida, continua a ser praticada, e é tema tabu.
É preciso compreender uma vez por todas que a
escravatura praticada pelo Ocidente não foi nem é a única. Há especialistas que
nos explicam que o tráfico de escravos está dividido em três categorias:
-
interno ou africano
-
oriental ou árabe-muçulmano
-
ocidental ou transatlântico.
Pena que a Unesco sinta uma certa dificuldade
em falar dos outros tráficos de escravos e todos os anos recorda apenas o
tráfico ocidental ou transatlântico. O único que graças à liberdade de
expressão que ainda vai existindo no Ocidente se pode abordar sem grandes
chatices nem ferir susceptibilidades. Pelo contrário, uma considerável
quantidade de ocidentais adora chafurdar-se num sentimento de auto-flagelação
masoquista como se fossem (ainda hoje) directamente responsáveis, como se ainda
ontem chicotearam um escravo na roça!
Por falta de ‘masoquismo’, uma história tão
trágica não é tão bem conhecida. Há razões corânicas (por parte dos
muçulmanos), multiculturais (por parte da ditadura do politicamente correcto) e
vergonha (por parte dos africanos) para camuflar 1400 anos de tráfico de
escravos africanos para o mundo árabe-muçulmano, assim como o ancestral tráfico
interno ou africano, que é anterior à chegada dos portugueses às costas de
África e igualmente à expansão muçulmana do século sete.
O historiador Mohammed Ennaji, da universidade de Rabat, diz-nos que o Islão nunca aboliu a
escravatura. O Alcorão refere-se várias vezes a escravos sem nunca pôr em causa
o seu estatuto: recomenda benevolência no tratamento mas autoriza
a prática. O excelente documentário Les Esclaves Oubliés (Os Escravos Esquecidos) demonstra que os traficantes árabes tinham
uma ideia muita própria de ‘benevolência’. Ou seja, como de costume a prática
está longe da teoria. Também é verdade - vá lá! - que o Alcorão proíbe a
escravização de muçulmanos: todos os outros (não-muçulmanos) podem ser nas calmas e
a qualquer momento transformados em escravos.
Mas que fazer quando a procura é enorme e o
continente africano - grande parte da África subsaariana já tinha sido
islamizada - passou a ser praticamente a única reserva de escravos para o mundo
árabe-muçulmano? Este dilema vai ser facilmente contornado. E, tal como os
cristãos justificavam a escravatura transatlântica com a canónica controvérsia
sobre ter ou não ter alma (o que, segundo eles, fazia a diferença entre o homem e o animal),
também o Islão forjou teologia adequada para poder fundamentar a escravatura,
mesmo a de africanos já convertidos.
Acerca disto o antropólogo senegalês Tidiane N'Diaye afirma: '“é preciso compreender que muito antes dos antropólogos europeus do século XIX
terem elaborado as teorias raciais e fantasistas que hoje conhecemos, já no
século XIV o mundo árabe tinha consolidado no tempo, e de forma quase
irreversível, a inferioridade do homem negro através de eruditos respeitados e
bastante ouvidos, como Ibn Khaldoun: “os únicos povos que aceitam a escravatura
são os negros, porque vivem num estado de humanidade inferior, perto do
animal.”' Note-se que a designação árabe para traficante de escravos é Galab
(pastor) - a língua não faz diferença entre o escravo e o gado. Segundo Ibrahima Thioub, é a partir deste momento que a conotação étnica e regional, que existia
na língua árabe para designar várias etnias africanas, se vai progressivamente
transformar no equivalente de escravo. Ainda hoje no sul da Tunísia dizem ‘abd’
(que significa escravo) para designar um negro africano…
Aos maus tratos e à longa e duríssima
travessia do deserto em direcção ao norte, temos ainda que acrescentar um hábito que contribuiu
enormemente para o massacre da população africana que teve o azar de cair às
mãos de traficantes árabes: a castração. Não sei se a origem se baseia em
alguma obscura passagem do Alcorão ou simplesmente se trata de inveja viril,
mas o certo é que fazia com que 70 a 80% dos escravos morressem antes de
serem utilizados. O que a uma certa altura parece explicar o elevadíssimo preço
de eunucos no mercado de escravos. Mas também o facto de falarmos actualmente
de afro-americanos e não de afro-árabes: estes foram praticamente extintos, ao
contrário dos 70 milhões de descendentes de africanos nas duas Américas.
Numa conferência sobre o Tráfico Interno de
Escravos, realizada em Bamako (capital do Mali), Ibrahima Thioub, conta-nos uma
anedota bastante significativa. “Para mim, os problemas que expus na
conferência não tinham cor nem cheiro e nunca imaginei que fossem tão
controversos. Mas do lado dos africanos [o público era constituído de africanos
e europeus. cdr] a reacção da sala foi de uma violência que eu não esperava.
Honestamente não contava que o tema fosse tão polémico e melindroso. Tive a
explicação quando abandonei a sala de conferências: um grande número de
africanos abordou-me e disse-me: “sabe, o que você acabou de dizer é verdade, e
temos que investigar o assunto, MAS NÃO SE DEVE FALAR NISSO NA PRESENÇA DE
BRANCOS."
e continua,
“Os europeus também me abordaram,
mas disseram-me uma coisa diferente: - parabéns, penso exactamente o mesmo que
o senhor. Você é muito corajoso em dizer o que disse, mas eu não tenho coragem,
porque se o fizer vão acusar-me de racista.”
Pois os ocidentais cometeram o pecado da escravidão. Não foram os únicos e actualmente são os orientais (Extremo e Médio Oriente) que continuam a existir na coisa.
ResponderEliminarÉ ler as notícias sobre criadas filipinas e indonésias a servir em famílias árabes, que de vez em quando surgem nos jornais.
Nem estamos a falar das crianças que são vendidas pelos pais na China, nas Filipinas, Tailândia ou na Índia e que trabalham horas a fio seja em fábricas, seja na indústria do sexo Ou das raptadas para todos esses fins.
Creio que a ganância e a cupidez em conjunto com a amoralidade fomentam esta praga. Em Portugal saíram recentemente nos jornais notícias sobre portugueses escravizados em Espanha, portugueses escravizados por uma família cigana no norte, e portugueses que foram trabalhar para França e foram tratados como escravos. E isto no ocidente, com escravos que até perceberam a situação, que em alguns casos denunciaram-na e que receberam apoio imediato das autoridades. Agora imagine-se o que vai por esse mundo fora...
Mortes e escravidão ensombram obras no Qatar para o mundial de 2022
EliminarEste é o título do artigo do Público… ver aqui:
http://www.publico.pt/mundo/noticia/mortes-e-escravidao-ensombram-obras-no-qatar-para-o-mundial-de-2022-1607141
Obviamente que na segunda linha em vez de "existir' deve ler-se 'insistir'. A existir, só a tristeza e o repúdio.
ResponderEliminarCarmo da Rosa no seu melhor.
ResponderEliminarEJSantos
Vai-se fazendo o que se pode...
EliminarPS Para quando a prometida visita à Holanda?
Há razões corânicas (por parte dos muçulmanos), multiculturais (por parte da ditadura do politicamente correcto)
ResponderEliminarEstranhos aliados. O desdém elitista e o ódio islamista pela liberdade
Perversa. É a traição cometida para com os nossos amigos e amigas, que desejam viver em liberdade, e se defrontam diariamente, com a pata aterradora do islão.
VIDEO - Não aconselhável para estômagos delicados.
http://youtu.be/ylGEFLDwWJg
Go_dot,
ResponderEliminareste vídeo, não aconselhável a estômagos delicados, é o comentário do alfacinha mas com imagens a mexer....
Precisamente! A intenção era essa. Sublinhar ao vivo e a cores .
ResponderEliminarPara quem lê holandês, no DDS hoje, mais um excelente artigo, e uma porrada de comentários sobre o mesmo tema.
A discussão expandiu-se já para um tema colateral. Pode (deve) o estado, exigir uma contribuição dos indivíduos que recebem assistência social? Um antigo plano do partido liberal, agora aprovado pelo partido trabalhista. Será solidariedade forçada, uma forma de escravatura moderna?
Escravos do estado.
O artigo sobre os Escravos Cristãos vem mesmo a propósito… Os Escravos do Estado é colateral, mas interessante, mostra a rápida adaptação da social-democracia aos tempos que correm.
ResponderEliminarGo_dot, que tal eu traduzir o primeiro e você o segundo?