Go_dot, um dos mais assíduos comentaristas
deste blog, inspirado em vários comentários aos três últimos posts escreveu um
curto ensaio sobre a engraçada relação que existe entre ideias e moeda.
O capital das ideias é parecido com as notas
de banco: nem todas têm o mesmo valor, mas todas estão sujeitas a inflação e
até podem ser postas fora de circulação. Só o banco central é que está
autorizado a imprimir nota. O resto é considerado moeda falsa.
A comunicação social funciona como a Agência
de Câmbio das ideias, e, de acordo com as autoridades bancárias, dão crédito e
decidem das taxas de câmbio.
Talvez por isso é que um dos mais prezados
comentadores deste blog - na caixa de comentários do post “Turquia entre dois mortos” - barafustava que blogs e wikipédia não são agências de cambio
respeitáveis. Que é preciso ler livros! Que é nos livros que está a verdade! A
indignação é humanamente compreensível, sobretudo para quem, depois de ter
acumulado um significativo capital de ideias, vê agora as suas ideias
desvalorizadas pelos “new kids on the block”…
Infelizmente, a realidade emergente é como o
mercado. Não se compadece.
Uns querem impedir, eventualmente pela força,
a perda de valor do capital acumulado, outros, querem acumular capital à força.
E há mesmo quem abra falência quando se sente arruinado no mercado das ideias,
deixando de falar seja do que for – tudo lhe parece arriscado e controverso…
A grande maioria receia mudanças (de ideias) e
agarra-se avidamente ao que tem. A única coisa que distribui generosamente é
pontapés e caneladas aos culpados da desvalorização: neo-cons; neo-liberais;
tabelas de cambio; o desgraçado do Wilders (que distribui moeda falsa e por isso tem a cabeça a prémio); e a malta que simplesmente mudou de banco.
Poucos compreendem a arte de “cut your losses
and move on!”. E nem sequer têm a modéstia de dizer muito simplesmente,
enganei-me…
Os valores imateriais implícitos na maioria
dos comentários neste blog: liberdade, estudo, serenidade, reflexão, paciência,
etc. são propriedades indispensáveis para viver numa sociedade livre e
tolerante. Nisto estamos todos de acordo.
O problema que se coloca é este: por quanto
tempo o nosso ‘mercado’ vai poder suportar este excesso de ideias
demasiadamente politicamente correctas? Será que estamos a arruinar valores
imateriais, que são os bens imobiliários que sustentam esta civilização? Será
que podemos consentir entre nós candongueira com títulos de crédito caducados e
desprovidos de qualquer valor? Será que podemos continuar a autorizar a
circulação paralela de outras moedas cujo único fim é desvalorizar a nossa?
É essa discussão que a Ebru Umar e
o CdR debalde tentam entabular e na minha opinião nunca será pouco debater.
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