Normalmente gosto
das palhaçadas do Sr. Bean, mas neste sketch
natalício não lhe
acho piada. Torna-se um personagem demasiado sórdido
e egocêntrico que
contraria o espírito natalício de que eu tanto gosto
nesta quadra.
Era este o comentário assaz pertinente que um amigo me enviou por mail acerca do meu último desejo de Boas-Festas, o que me fez, em plena consoada de Natal e com uma rabanada entre os dentes, meter os pés pelas mãos para encontrar a resposta mais convincente possível… Não sei se vou conseguir...
Henri Matisse
Numa exposição de
Henri Matisse (1869-1954) em Paris, uma senhora, olhando para um nu na presença
do artista, afirmou (estou a citar de memória) “uma mulher não tem esta
forma!”. O pintor respondeu-lhe, “mas minha senhora, isto não é uma mulher, é
uma pintura.”
O mesmo parece-me válido
para esta situação: o sketch, não sendo uma mensagem de Natal com o intuito de
veicular o espírito natalício, nem o Rowan Atkinson o Papa, trata-se simplesmente de humor – e como tal acho que deveria ser interpretado.
Humor nada mais é
do que uma deturpação insólita e inesperada da normalidade - neste caso do
espírito natalício. Pela mesma razão as
crianças riem às gargalhadas sempre que o palhaço se atira uma, duas, três
vezes para o chão! Porque a situação normal foi alterada, normal é verem os adultos de pé…
Canal +
Há uns anos atrás
havia na tv-holandesa (provavelmente noutras também!) um excelente e humorístico reclame
para ver futebol a pagantes no Canal +.
A cena:
Um tipo em casa
sozinho sentado no sofá vê a bola na tv. Lá fora, na escuridão da noite, chove que Deus a
dá (como hoje em Amesterdão). Uma senhora a braços com o carro avariado dirige-se, à procura de ajuda, para a única luz que avistou e que vinha da casa do indivíduo que estava a ver a bola. A senhora, infalivelmente lindíssima, estava vestida de
forma que nem tudo tapa nem destapa, além disso tinha a roupa colada ao corpo de tão encharcada - o que acentuava ainda mais as suas belas formas.
A senhora toca à
campainha; o homem interrompe abruptamente o seu futebol e entreabre a
porta; a senhora explica o seu problema; o homem ouve e, deixando a senhora na
soleira a pingar água da chuva, vai rapidamente à procura de algo dentro de casa que os espectadores (e a senhora) por enquanto
desconhecem; volta com uma pesada caixa de ferramenta que entrega à senhora dizendo-lhe: “quando estiver pronta pode deixar a ferramenta na soleira”; fecha a porta e volta a sentar-se no sofá a ver a bola.
O humor, assim como no caso do sketch da cena de Natal de Mister Bean, baseia-se na inesperada e totalmente imprevisível reacção do homem perante uma senhora que necessita de ajuda.
O reclame joga com a nossa cultura cristã e coloca-nos perante o dilema: "aconteça o que acontecer temos o dever de ajudar um semelhante", mas há excepções: ver a Santa Bolinha no Canal Plus. Para a nossa recusa de auxílio parecer ainda mais cruel, os advertisements boys arranjaram uma semelhante que poderia perfeitamente ter sido concebida pelo altíssimo - era o caso da senhora do reclame. Para a situação ser ainda mais inacreditável, estava-mos sozinhos em casa...
O reclame joga com a nossa cultura cristã e coloca-nos perante o dilema: "aconteça o que acontecer temos o dever de ajudar um semelhante", mas há excepções: ver a Santa Bolinha no Canal Plus. Para a nossa recusa de auxílio parecer ainda mais cruel, os advertisements boys arranjaram uma semelhante que poderia perfeitamente ter sido concebida pelo altíssimo - era o caso da senhora do reclame. Para a situação ser ainda mais inacreditável, estava-mos sozinhos em casa...
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