24 dezembro 2013

Espírito natalício





Normalmente gosto das palhaçadas do Sr. Bean, mas neste sketch 
natalício não lhe acho piada. Torna-se um personagem demasiado sórdido 
e egocêntrico que contraria o espírito natalício de que eu tanto gosto 
nesta quadra.





Era este o comentário assaz pertinente que um amigo me enviou por mail acerca do meu último desejo de Boas-Festas, o que me fez, em plena consoada de Natal e com uma rabanada entre os dentes, meter os pés pelas mãos para encontrar a resposta mais convincente possível… Não sei se vou conseguir...

Henri Matisse

Numa exposição de Henri Matisse (1869-1954) em Paris, uma senhora, olhando para um nu na presença do artista, afirmou (estou a citar de memória) “uma mulher não tem esta forma!”. O pintor respondeu-lhe, “mas minha senhora, isto não é uma mulher, é uma pintura.”

O mesmo parece-me válido para esta situação: o sketch, não sendo uma mensagem de Natal com o intuito de veicular o espírito natalício, nem o Rowan Atkinson o Papa, trata-se simplesmente de humor – e como tal acho que deveria ser interpretado. 

Humor nada mais é do que uma deturpação insólita e inesperada da normalidade - neste caso do espírito natalício. Pela mesma razão as crianças riem às gargalhadas sempre que o palhaço se atira uma, duas, três vezes para o chão! Porque a situação normal foi alterada, normal é verem os adultos de pé…



Canal +

Há uns anos atrás havia na tv-holandesa (provavelmente noutras também!) um excelente e humorístico reclame para ver futebol a pagantes no Canal +.

A cena:

Um tipo em casa sozinho sentado no sofá vê a bola na tv. Lá fora, na escuridão da noite, chove que Deus a dá (como hoje em Amesterdão). Uma senhora a braços com o carro avariado dirige-se, à procura de ajuda, para a única luz que avistou e que vinha da casa do indivíduo que estava a ver a bola. A senhora, infalivelmente lindíssima, estava vestida de forma que nem tudo tapa nem destapa, além disso tinha a roupa colada ao corpo de tão encharcada - o que acentuava ainda mais as suas belas formas.

A senhora toca à campainha; o homem interrompe abruptamente o seu futebol e entreabre a porta; a senhora explica o seu problema; o homem ouve e, deixando a senhora na soleira a pingar água da chuva, vai rapidamente à procura de algo dentro de casa que os espectadores (e a senhora) por enquanto desconhecem; volta com uma pesada caixa de ferramenta que entrega à senhora dizendo-lhe: “quando estiver pronta pode deixar a ferramenta na soleira”; fecha a porta e volta a sentar-se no sofá a ver a bola.

O humor, assim como no caso do sketch da cena de Natal de Mister Bean, baseia-se na inesperada e totalmente imprevisível reacção do homem perante uma senhora que necessita de ajuda.

O reclame joga com a nossa cultura cristã e coloca-nos perante o dilema: "aconteça o que acontecer temos o dever de ajudar um semelhante", mas há excepções: ver a Santa Bolinha no Canal Plus. Para a nossa recusa de auxílio parecer ainda mais cruel, os advertisements boys arranjaram uma semelhante que poderia perfeitamente ter sido concebida pelo altíssimo - era o caso da senhora do reclame. Para a situação ser ainda mais inacreditável, estava-mos sozinhos em casa...

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