Dois dias antes
do referendo na Grécia, Michel Onfray, um dos filósofos actualmente mais
falados em França, é entrevistado pela jornalista francesa Ruth Elkrief no canal BFM TV durante 15 minutos.
Ruth Elkrief:
Você é filósofo, criou a Universidade Popular de Caen, é um homem de esquerda, assume-se
como tal, mas também critica a esquerda com quem cortou em 2005.
Michel Onfray: Eu
não cortei com a esquerda, a esquerda é que cortou com a esquerda.
(...)
Ruth Elkrief: Sobre
a Grécia, um voto NÃO no referendo grego de Domingo, não será uma vingança
dos povos europeus que se sentem maltratados pelo tratado de Lisboa?
Michel Onfray: Há
muita coisa em jogo neste referendo. Evidentemente para a Europa, para a
Grécia, mas também para a esquerda anti-liberal francesa. Mélenchon [político tipo Bloco de Esquerda] ficou na altura bastante contente com o aparecimento do
Syriza, mas também a Marine Le Pen e eu no início. A minha família
política é a esquerda anti-liberal e daí a minha satisfação. Sou pró UE mas estimo que poderíamos construir uma outra Europa
em vez da Europa Liberal.
Com o
aparecimento do Syriza há uma ideia e há um homem (Tsipras) para a defender,
vamos lá ver no que isto vai dar. E vimos. Vimos que houve espectáculo mediático e por enquanto pouco resultado!
Vimos um
primeiro-ministro chegar sem gravata e recusar prestar juramento perante uma
bíblia. Tudo isto é fachada! Acho muito bem que se apresente sem gravata, mas preferia um
primeiro-ministro com gravata mas de esquerda. Que eventualmente afirmasse que
respeita a Bíblia porque é um livro sagrado para outros, mas não é sagrado para
ele. Mas que no dia seguinte jurasse perante a Bíblia que iria pedir ao clero grego-ortodoxo
para pagar impostos. Isto parece-me muito mais de esquerda e mais eficaz do que
esta fachada de relações públicas, porque faz entrar dinheiro nos cofres do
Estado grego.
Ruth Elkrief:
Podemos então afirmar que actualmente você é um dos desiludidos de Tsipras?
Michel Onfray: Sim,
totalmente. Tinha aqui um indivíduo que me interessava, porque queria aumentar
o salário mínimo, as reformas mais cedo e dar dignidade ao seu povo. Quem é que
pode ser contra? Eu era a favor, mas dez dias depois o homem já dizia: bom,
finalmente o aumento do salário mínimo não vai ser possível e a culpa é dos
outros!
Tudo bem que a
culpa seja dos outros - da Europa, do Euro, do liberalismo -, estou de acordo
que se ataque todas essas coisas, mas quando estamos no governo já não estamos
na oposição. Agora que estão no governo vão fazer um referendo! Um referendo
para quê? Para ter mais legitimidade, para ter mais peso durante as negociações
que se vão seguir? Mas isso não faz sentido, a legitimidade já tinha sido dada,
Tsipras é primeiro-ministro! Organizam um referendo apenas para fazer funcionar a máquina
mediática...
(...)
Penso que o
Syriza faz muita propaganda quando devia agir.
Ruth Elkrief:
Você votaria no SIM, se fosse grego?
Michel Onfray: Eu
começo a cansar-me de pessoas que dizem que quando chegarem ao
poder vão fazer isto e aquilo. No final vai-se a ver e são ainda piores que os
anteriores, a ideologia desmorona-se rapidamente e depois dizem-nos que não podem
fazer nada porque os maus são mesmo muito maus. Não, quando estamos no poder
não temos o direito de nos comportar como se tivéssemos na oposição. Tenho a
impressão que não votaria.
(....)
Isto é uma
esquerda ideológica que não sabe ser pragmática. (...) A ideologia é muito
fácil: faz-se assim e assado, mas só se pode fazer com o que temos. A esquerda
grega, actualmente no poder, não tem um comportamento realista mas sim
ideológico.
(...)
E a festa continua...... no vídeo.
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