Charles
Groenhuijsen, ex-correspondente da tv-holandesa nos Estados Unidos, acha que
"a pobreza nos negros americanos tem em parte a ver com racismo, mas não
se pode dar a culpa de tudo aos brancos."
Os americanos mencionam normalmente a economia, o desemprego e a política do governo como os problemas
mais graves do país. Mas desde esta primavera o racismo também é mencionado.
Não que o racismo alguma vez tivesse desaparecido, mas não estava no topo da
lista. A origem foram os incidentes mortais em Ferguson, Staten Island e
South-Charleston, onde agentes da polícia mataram civis negros.
A oposição racial
é um problema persistente e tem mais tendência para aumentar do que para
diminuir. Nem sequer a eleição do primeiro presidente negro veio melhorar a
situação. Isto não é uma crítica ao presidente dos EUA, Barack Obama não pode
fazer o impossível.
Quem tentar
introduzir nuances numa discussão sobre racismo já sabe que pode contar com
críticas. Que nuance introduzir acerca de racismo? Mas insisto na tentativa, não
para sugerir que a discriminação nos EUA não é assim tão grave. É mesmo grave.
Todos os dias
somos confrontados com racismo no escritório, na escola, nas lojas, na rua, e acaba
sempre em exaltados debates que encalham numa separação entre bons e maus,
vítimas e agressores. Frequentemente trata-se das consequências no século 21 da
escravatura dos séculos 18 e 19. Os brancos dizem: racismo é uma coisa que já
passou. Se um afro-americano até a Casa Branca pode conquistar tudo é possível.
Parem lá com as queixas e as manifestações. Ah, e eu, branco de boa-vontade, estou
farto de ser culpado de coisas que se passaram há dois séculos.
Os negros dizem:
é a culpa dos brancos e do seu sistema de poder racista. Não nos dão iguais
oportunidades e somos discriminados no trabalho, na universidade, pela polícia
e pela justiça. E precisamente por isso temos que manter acesa a memória da
escravatura. Ambas as análises são insuficientes. Não abordam um futuro prometedor
mas um passado condenável. Tanto os brancos como os negros apontam a culpa
demasiadamente em direcção do outro.
Os brancos
poderiam dar uma olhadela nas estatísticas sobre pobreza e sentir um pouco mais
de empatia. Poderiam também contribuir mais activamente no combate à
desigualdade. Estar mais alertes à existência de racismo manifesto ou disfarçado.
Mas a maior parte dos brancos - com ou
sem razão - só o farão quando algo mudar entre os negros.
Os jovens
afro-americanos também poderiam evitar de emprenhar raparigas de dezasseis anos
lá porque a avó era obrigada a sentar-se no banco de trás dos autocarros. Não é
preciso matar compatriotas negros a tiro por causa da escravatura. Nascer num
bairro pobre é uma enorme desvantagem para uma criança em crescimento, mas não
serve de desculpa para faltar à escola e andar a roubar.
Soa redutor?
Vejam o que diz
Barack Obama sobre o mercado de trabalho perante uma sala de estudantes
afro-americanos acabados de se graduarem. Obama: "A concorrência de supermotivados
candidatos chineses, indianos e brasileiros é cada vez maior. Já não podemos
utilizar mais como desculpa a herança da escravatura, discriminação e racismo. Só
conseguimos o que merecemos. Ninguém está interessado em saber como foi a tua
educação ou saber se sofreste muito com a discriminação."
Os
afro-americanos têm que se ver ao espelho. Na sequência dos incidentes mortais
com a polícia, a palavra de ordem mais ouvida nas manifestações era 'black
lives matter!'. Claro que a vida de um negro conta, mas então porque razão se
matam uns aos outros tão frequentemente (mais de 40 assassinatos por semana)? Comparado
com brancos o número de assassinos é 7 vezes maior. Será que a palavra de ordem
dos manifestantes perde selectivamente a validade? E porque razão a cada
assassinato de um negro não se ergue um líder afro-americano para afirmar que:
'Yes, all black lives matter' (Sim, todas as vidas de negros contam).
É verdade que a
pobreza nos afro-americanos tem em parte origem no racismo. Mas não se pode dar
a culpa de tudo aos brancos. Nos EUA há mais brancos pobres do que negros. Os
afro-americanos não são o único grupo étnico frequentemente excluído do
American Dream. Mas as frustrações entre os afro-americanos acumulam-se. Já não
são a minoria mais numerosa dos EUA. Agora são os latinos, que em média apresentam
melhores resultados na educação, trabalho e salário. Mais um facto doloroso: o
número de emigrantes africanos (os que vieram voluntariamente) aumenta
rapidamente e também estes obtêm melhores resultados.
Será que há apenas más noticias a registar acerca dos
afro-americanos? Não, a boa notícia é que há cada vez mais afro-americanos com
bastante sucesso. São professores catedráticos, cirurgiões, executivos,
desportistas do topo, músicos e com certeza também o presidente do país. Mas o
número dos que ficam para trás na escala social continua infelizmente bastante elevado.
Mas os afro-americanos usam e abusam do atraso social (por impotência e
desespero) como algo em que se orgulham. Toda tentativa de melhorar a situação
é vista como exagero de zelo: 'You are acting so white' (estás a comportar-te
como um branco). Muitos negros estão desiludidos com Obama. Será que ele é
suficientemente negro? Os críticos acham que ele é demasiado 'branco' na sua
política. Há mesmo quem o trate por 'wigger', ou seja, 'white nigger'
(preto/branco).
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