17 outubro 2013

Freud, Amália, Deolinda e Beatles…





Um amigo, um outro, em resposta ao meu último post sobre a evolução na relação homem-mulher, disse-me por mail que sobre este tema "não é possível dizer algo de sensato". Apoiava a sua argumentação numa engraçada citação de Freud que eu desconhecia e que traduzi (muito) livremente:

Apesar de eu já andar há 30 anos ocupado a pesquisar a alma feminina, a grande questão que continua sem resposta é esta: mas afinal o que é que a mulher quer?




Ao contrário do meu amigo acho que é possível dizer algo de sensato. Embora precisemos de nos auto-reprimir, ou seja, esquecer por momentos o pai da psicanálise, limitando-nos aos sintomas indicadores da evolução. É mais fácil do que parece: basta ouvir um fado antigo, dar um pouco de atenção às palavras, e compará-las com as dos fados actuais. 

A grande Amália Rodrigues, um perfeito produto do seu tempo, cantava num dos seus mais belos fados, Rua do Capelão:



Aqui temos a mulher confinada ao lar e a esperar, na esperança que ELE venha cedinho. Mas ELE pode não vir! Na realidade, ELE é o único que tem vontade própria… Hoje, como ELE tem que partilhar a vontade com ELA, a bela imagem poética não faz sentido, é absurda. E para as novas gerações compreenderem a essência, esta vai precisar de ser contextualizada, explicada: ‘não pá, ELA não precisa de beijar (mesmo) todas as pedras do chão!!!’

Ana Bacalhau, do grupo Deolinda, outra fadista de quem eu também gosto muito - apesar dos fados dela (ou talvez por isso mesmo!) serem uma saudável  ruptura com o fado tradicional, um pasticho às esperas eternas, uma paródia ao lado piegas do fado -  já tem uma atitude completamente diferente em relação a ELE:


Isto significa que passadas algumas gerações de fadistas, se ELE não vier cedinho a Ana é bem capaz de arrancar uma pedra do chão para lhe rachar a tola…

Com os Beatles a evolução é bem mais rápida do que no fado. Não foi preciso esperar duas gerações, eles próprios se encarregaram de alterar consideravelmente a sua atitude perante esta temática:

No início da carreira os The Liverpool Four queriam apenas segurar a mão das raparigas em “I want to hold your hand”. 20 anos mais tarde já não tinham pachorra para romantismos puberais e toca mas’é de ir direito ao assunto: “Why don’t we do it in the road”, (porque não damos uma queca aqui mesmo na estrada). Mas atenção, ainda são do tempo dos que têm o cuidado de acrescentar “nobody will be watching us” (não está ninguém a ver-nos). 

4 comentários:

  1. Os Doors estavam mais avançados.
    I want to fuck you, baby....come and light my fire....

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  2. “Os Doors estavam mais avançados.”

    ‘mais avançados’ não é propriamente o termo que eu utilizaria, porque no tempo dos romanos já o poeta Gaius Valerius Castullus (84 aC) dizia a coisa da mesma forma, mas em latim: Peticabo ego vos, puerum.

    Mas de qualquer forma, para saber se estavam mais avançados é preciso conhecer o termo de partida, é preciso um termo comparativo. Dito por outras palavras, será que os Doors no início da carreira, quando expressavam desejos carnais, o faziam de outra forma? Ou foram sempre assim – sofriam todos do síndrome de Gilles de la Tourette?

    E quem é que fala? Uma mulher, um homem! Não é por nada, mas quando vejo aquelas carinhas tão femininas dos Doors já nem sei…

    Isto até me lembra o filme de Scorsese Raging Bull (biografia do boxeur Jake LaMotta). A certa altura Jake LaMotta (Roberto de Niro), referindo-se ao seu principal oponente, um pugilista mais novo e bonitão, diz ao seu treinador: “the problem is, I don’t know if I have to fight or to fuck him?”

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  3. A mulher nao quer nada mais e nada menos do que o homem, seja: atencao, amizade e recognicacao! Uma resposta simples. E a unica verdade!
    Sabina

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  4. Sabina,

    As suas ‘exigências’ – atenção, amizade e aceitação - não são assim tão simples como diz! Eu diria até que é preciso ser um super-homem (ou o Cristo) para corresponder às suas três exigências ao mesmo tempo e em relação a uma só mulher.

    Mas é verdade que se dividirmos o seu critério em três talvez tenhamos mais probabilidades de sucesso. Por exemplo, atenção à vizinha boa, amizade com a feia inteligente e aceitação da nossa santa….

    Mas não sei se esta solução vai ter a sua aprovação!

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