07 outubro 2013

Romantismo e as boas selvagens




Há dias um amigo publicou um artigo engraçado sobre as vantagens, segundo ele, de “tratar as mulheres com educação, sensibilidade e cortesia". Não tenho nada em contra, mas o engraçado consiste no facto das premissas, a base factual em que o artigo se baseia, terem sido, paradoxalmente, sem romantismos, por ele despidas à força, viradas de cu para o ar e violadas à má fila… Todas elas, não escapou nenhuma!


O amigo que ele invocou no seu artigo, evitando discretamente o meu nome, vá lá, e as situações e alusões que inventou, estão ligadas a uma longa e acesa discussão provocada (inesperadamente!) por um vídeo YouTube brasileiro que eu publiquei neste blogue há um ano atrás e onde esta discussão se prolongou ad infinitum com igual deformação de argumentos!!!

“Há tempos um amigo meu, declarando-se um romântico moderno…”

Assim começa a violação de há dias do tal amigo no seu blogue! Em nenhuma fase da tal discussão (de Maio de 2012) eu declarei que era romântico ou moderno, e muito menos os dois conceitos misturados! Ser romântico ou moderno não tem para mim qualquer conotação positiva, ou negativa! (Isto é mesmo problema só dele!).

Serei romântico, ou moderno?

A minha mulher, que me conhece razoavelmente, manda dizer que nem por sombras, e nem uma coisa nem outra! Se um dia lhe oferecesse flores ela imediatamente pensaria que lhe escondo algo: “huummm, anda a dar umas quecas na vizinha!”. E não suporto comer à luz de velas, fico depressivo e mal disposto... 

E, em relação à modernidade, e a título de exemplo, gostaria de dizer que tenho uma dificuldade tremenda em aceitar alterações nos programas para o computador – só mesmo quando já não há up-grades e a coisa já não funciona. Da mesma forma que todos os anos recuso a nova versão de telemóvel que o meu provider me quer fornecer de borla. Em relação a D.J., uma coisa muito moderna, acho que deveriam ser mortos à paulada no lugar das focas bebés…

“afiançava que o seu neo-romantismo se fazia de frases que se imaginam cheias de sucesso como 'vamos lá dar uma queca'”

Também nunca afiancei que “vamos lá dar uma queca” era uma frase de sucesso! A frase e o contexto eram completamente diferentes. O contexto era este: no momento em que um homem (ou uma mulher) querem dar uma queca, a formulação deste desejo pode ser feita por iniciativa de ambas as partes de 36 maneiras diferentes. Dito por outras palavras, não existem, na minha opinião, fórmulas sagradas gravadas em pedra. É tudo uma questão cultural, com o sucesso bastante dependente da época, da classe social e do local onde o desejo é expresso.

“Eu quis que ele me demonstrasse a eficácia do método, aplicando essa frase de charme numas flausinas que passavam mas ele, moita carrasco.”

A partir do que já foi dito, facilmente se depreende que esta cena nunca teve lugar. Isto é pura ficção romantizada do meu amigo! Tenho imensa pena, mas, ao vivo, não vi flausinas nenhumas!

“…….acusou-me de renascentista para baixo pelo facto de eu discordar da sua original tese segundo a qual tratar as mulheres com educação, sensibilidade e cortesia, é mais ou menos como uma estilização do velho processo de arrastá-las pelos cabelos e arrear-lhe com a moca no toutiço.”

É bem possível que o tenha acusado de algo, já não me lembro bem, mas essencialmente de ter uma ideia bastante redutora da relação homem-mulher. Nada de muito grave, não fosse ele defender publicamente que o seu conceito é universal e que fora dos seus parâmetros é a barbárie! Como se o planeta Terra tivesse apenas 200 anos: do século XVII ao XIX… Estando o mundo, ainda por cima, confinado à Europa Ocidental e à hegemonia cultural dos romances da Jane Austen (que eu gosto bastante, diga-se de passagem) em questões relacionais...

Digo e volto a repetir o que disse em Maio de 2012:

A cortesia e o cavalheirismo não passa de uma sublimação do cacete do troglodita. O que separa o homem das cavernas, que dá uma cachaporra na primeira fêmea à mão de semear, arrastando-a seguidamente pelos cabelos para a sua gruta, e as cortesias do cavalheiro do século XVIII, não é a biologia, é (sobretudo) uma enorme evolução na relação entre homens e mulheres - indiscutivelmente para melhor. Melhor para elas, obviamente… (Para eles também, mas isso iria complicar a discussão).

Porque as sensibilidades e cortesias românticas na relação entre homens e mulheres, tanto do gosto do meu amigo, apesar de serem um passo em frente, um avanço emancipador em relação a épocas anteriores, não são o fim da história. Mesmo havendo ainda actualmente milhares de mulheres por esse mundo fora rezando aos seus deuses para serem (pelo menos) tratadas desta forma - romântica. Acho que este comportamento, e apenas aqui reside a nossa diferença de opinião, está ainda impregnado de paternalismo patriarcal reflectindo uma ideia anacrónica de superioridade masculina.

Uma atitude muito parecida, senão igual, à complacência que o esquerdista ocidental dedica ao ‘bom selvagem’ do terceiro mundo… 

3 comentários:

  1. Carmo da Rosa, um texto teu com o qual concordo sem reservas. Sim, mesmo com o ultimo paragráfo.

    Em relação ao teu amigo espero que ele tenha uma filha e que ela se case com negro ou com um marroquino. Só para ler os expectáveis textos apoplécticos! :D

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  2. Wyrm,

    não creio que ele tenha muitos problemas se a filha casar com um negro, marroquino, iemenita ou líbio. Mas, e nisso estou inteiramente de acordo com ele, têm é que ser da corda: dissidentes que (sobretudo) durante o Ramadão comem carne de porco e bebem vinho tinto....

    PS. Alinhas numa jantarada em breve?

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    1. Sempre! Mas podemos é ir a algum lado, não? O restaurante habitual é muito bom mas dá trabalho ao dono.

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