Como por encanto, depois da queda do muro de
Berlin os nossos cantores de intervenção deixaram de intervir! A última vez que
ouvi um cantor de intervenção ao vivo foi nos finais dos anos 80 em Haia, no
Korzo Theater. Era o José Mário Branco. Cantava uma canção em que o refrão QUANTOS
SOMOS era repetido ad infinitum. Ao meu lado, e na primeira fila, e a três
metros do José Mário Branco um amigo meu não se pode mais conter e em plena
intervenção do cantor berrou: SOMOS UMA PORRADA DELES PÁ, ACABA LÁ COM ESSA
MERDA...
O José Mário Branco continuou heróico e monótono a
perguntar QUANTOS SOMOS, como se estivesse nas barricadas de Maio de 68 e o meu
amigo fosse um CRS. Mas este meu amigo tinha estado nas barricadas de Maio de
68. Vivia na Holanda porque a polícia francesa o procurava em Paris. Ideologicamente
era favorável às palavras de ordem cantadas do José Mário Branco. O único problema é que tinha um gosto
musical requintado e não fazia concessões nesta matéria, nem mesmo em relação
aos seus camaradas revolucionários. Manias...
P.S. Rui Mota, outro amigo, e que por acaso foi quem organizou o espectáculo em Haia, lembra-se da cena mas garante-me que era o José Mário Branco e não o Luis Cília como eu mencionei previamente, este último nunca actuou na Holanda.
P.S. Rui Mota, outro amigo, e que por acaso foi quem organizou o espectáculo em Haia, lembra-se da cena mas garante-me que era o José Mário Branco e não o Luis Cília como eu mencionei previamente, este último nunca actuou na Holanda.
Vejam aqui Frederic Fromet a explicar às
crianças os atentados de Paris. Um verdadeiro cantor de intervenção a arriscar
a vida para salvar a alma dos nossos cantores de intervenção que já não intervêm,
agora só cantam as flores da primavera e têm êxtases ao luar...
Não percebi tudo, mas a maior parte sim. Muito bom.
ResponderEliminarE essa tirada do teu amigo é de morrer a rir.
Alfacinha, posso traduzir mas dá muito trabalho. Mas diz lá o que não percebeste que se eu souber digo-te. Vê a adenda, porque afinal não era o Luís Cília mas o José Mário Branco.
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