18 fevereiro 2015

Coulibaly Coulibalot‬




Como por encanto, depois da queda do muro de Berlin os nossos cantores de intervenção deixaram de intervir! A última vez que ouvi um cantor de intervenção ao vivo foi nos finais dos anos 80 em Haia, no Korzo Theater. Era o José Mário Branco. Cantava uma canção em que o refrão QUANTOS SOMOS era repetido ad infinitum. Ao meu lado, e na primeira fila, e a três metros do José Mário Branco um amigo meu não se pode mais conter e em plena intervenção do cantor berrou: SOMOS UMA PORRADA DELES PÁ, ACABA LÁ COM ESSA MERDA...



O José Mário Branco continuou heróico e monótono a perguntar QUANTOS SOMOS, como se estivesse nas barricadas de Maio de 68 e o meu amigo fosse um CRS. Mas este meu amigo tinha estado nas barricadas de Maio de 68. Vivia na Holanda porque a polícia francesa o procurava em Paris. Ideologicamente era favorável às palavras de ordem cantadas do José Mário Branco. O único problema é que tinha um gosto musical requintado e não fazia concessões nesta matéria, nem mesmo em relação aos seus camaradas revolucionários. Manias...

P.S. Rui Mota, outro amigo, e que por acaso foi quem organizou o espectáculo em Haia, lembra-se da cena mas garante-me que era o José Mário Branco e não o Luis Cília como eu mencionei previamente, este último nunca actuou na Holanda.


Vejam aqui Frederic Fromet a explicar às crianças os atentados de Paris. Um verdadeiro cantor de intervenção a arriscar a vida para salvar a alma dos nossos cantores de intervenção que já não intervêm, agora só cantam as flores da primavera e têm êxtases ao luar...

2 comentários:

  1. Não percebi tudo, mas a maior parte sim. Muito bom.
    E essa tirada do teu amigo é de morrer a rir.

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  2. Alfacinha, posso traduzir mas dá muito trabalho. Mas diz lá o que não percebeste que se eu souber digo-te. Vê a adenda, porque afinal não era o Luís Cília mas o José Mário Branco.

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