21 fevereiro 2015

MENINO DE BAIRRO NEGRO



Às vezes temos sorte! Quando podemos juntar uma fantástica canção do Zeca Afonso (mais uma que eu gosto) sobre um imaginário menino de um bairro negro com um excelente artigo de um verdadeiro menino de um bairro negro, que vive em Portugal desde 1980 e é licenciado em história pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.



Gabriel Mhitá Ribeiro
Pobreza? Tenham decência, nem sabem do que estão a falar


Quem teve de viver na miséria, na diferença racial, como eu vivi, ou que se viu forçado a recomeçar do nada sabe o cuidado, o recato, a ponderação exigíveis quando se mexe em dignidades esfrangalhadas.
A retórica política transformou a pobreza em artilharia pesada das fraturas ideológicas entre a esquerda e a direita ultrapassando os limites da decência para legitimar a superioridade moral de um dos lados da barricada.

Descendo de famílias pobres e de secular tradição emigrante. Do lado paterno, o católico, a ascendência resulta da miscigenação entre árabes sírios e autóctones moçambicanos. Do lado materno, o islâmico, a ascendência vem de indianos gujarate (de provável ancestralidade paquistanesa) e mestiços de cruzamentos entre originários do Índico e autóctones moçambicanos.

Depois de viverem noutras cidades, os meus pais fixaram-se no Xipamanine, subúrbio da antiga Lourenço Marques, hoje Maputo, cidade onde nasci. Tive a sorte de crescer na geração que saía da pobreza. Já vivia numa vivenda modesta nos arredores da cidade. Eram tempos em que a família tinha carro, bicicletas racionadas, idas ao cinema, à praia, férias distantes em casa de familiares. Pouco mais. Éramos também dos que não viam os negros no quintal ou a servir porque são família chegada.

Ler o resto aqui.

6 comentários:

  1. Go_dot: Excelente! Merece ser traduzido em holandês e distribuído por todas as escolas e prachtwijken da Hella Vogelaar.

    [O comentário de Go_dot desapareceu durante as minhas tentativas para que o Blogger não traduzisse (mal) automaticamente o post na língua do Bush... cdr]

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  2. Precisamente Go_dot. Mas no Facebook a esquerda acha que este negro não é dos bons! Não corresponde à imagem do HOMEM NOVO da canção do Zeca Afonso.

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  3. Prachtwijken?... hesitei no “Prachtwijken“ mas a maleabilidade da língua holandesa é (para mim) intraduzível.

    A esquerda do face-book, não me palpita que seja muito diferente da esquerda em geral. Há os bons os maus e os vilões. Os primeiros acreditam na emancipação das massas, os segundos estão mais interessados nas massas e os últimos, vendem a mãe ao diabo pelas massas.
    De resto o ressentimento colectivista e o odio à liberdade não se manifesta só na esquerda.

    Sem ironia. A arte do José Afonso, é tão contundente hoje como quando saiu.

    Canta camarada canta
    Que a cantar ninguém te afronta
    Esta minha espada corta
    Dos copos até à ponta

    Tenho sina de morrer
    Na ponta de uma navalha
    Pois eu sempre ouvi dizer
    Morra o homem na batalha

    Trema o mar, trema a terra
    Daqui ninguém arredou
    Quem daqui pode arredar
    Sendo um homem como eu sou

    Eu ei-de morrer de um tiro
    Ou de uma faca de ponta
    Se ei-de morrer amanhã
    Morra hoje, tanto monta

    O pão que sobra à riqueza
    Distribuído pela razão
    Matava a fome à pobreza
    E ainda sobrava pão

    Levanta-te ó milionário
    Vai um enterro a passar
    É a filha de um operário
    Que morreu a trabalhar

    Quem trabalha e mata a fome
    Não come o pão de ninguém
    Mas quem não trabalha e come
    Come sempre o pão de alguém

    Sei que pareço um ladrão
    Mas há muitos que eu conheço
    Que não parecendo o que são
    São aquilo que eu pareço

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  4. A última estrofe é do António Aleixo, que não era tão contundente mas nem port isso menos expressivo...

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  5. É verdade estão um par de versos a mais. Fiz um copy paste descuidado.

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