Ontem, dia 8 de Maio, vinha um artigo sobre
Portugal no jornal NRC (página 10) do correspondente para Portugal e Espanha
Merijn de Waal. O título era PORTUGAL RECEIA QUE A FOME VOLTE ÀS SALAS DE AULA
. Falava apenas do esforço das escolas para dar de comer às crianças. No
entanto, nos jornais e blogosfera portuguesa, as discussões continuam a ser monopolizadas pela dicotomia
esquerda vs direita. Como se fosse este realmente o problema!!!
Experimentem trocar direita
por esquerda, ou vice-versa, em todos os textos que leiam e vão ver que obtêm precisamente a mesma
coisa, os conceitos e as acusações são perfeitamente permutáveis. Dito por
outras palavras, têm a mesma função que a camisola durante um jogo de futebol:
separar visualmente as equipas dentro do campo - estes são do Benfica e aqueles
do FC do Porto, mas todos são jogadores de futebol.
Com a crise e a total falta de perspectivas,
esta retórica, que já ultrapassou largamente a data de consumo, serve agora
como um óptimo jogo de memória para quem sofre de alzheimer, mas também para
canalizar o compreensível mal-estar da população a nosso belo prazer, para a
esquerda ou para a direita…
Tem um inconveniente.
Como a dicotomia (a diferença entre os
jogadores) é artificial, para poder funcionar vai ter que ser alimentada
constantemente, como a caldeira de um comboio a vapor. Ao parar corre-se o
risco do público adormecer nas bancadas. A futebolização ideológica da política
nacional tem que estar em constante efervescência…
Digamos que os analistas políticos seguem o
exemplo, mas sobretudo o sucesso dos jornais desportivos: no nosso país as
publicações deste tipo são abundantes e diárias…
Haverá assim tanto a dizer, depois de termos
visto o jogo e conhecer o resultado? É claro que não, contudo, as almas crentes
vão ser espremidas como um limão pelos analistas depois de terem sido
aldrabadas pelos políticos…
Os italianos lá acabaram finalmente por
perceber esta vigarice, e é por isso que votaram maioritariamente em Beppe
Grillo - num partido que quer acabar com os partidos. Fartaram-se. Nós ainda
não estamos lá. Temos a paciência e a resignação do árabe (de antes da
Primavera) e vamos aguentar com o fardo ainda durante algum tempo. Por isso,
caros compatriotas, vão continuar a ler na imprensa portuguesa que:
o Relvas não tirou o curso das acções do
Cavaco que por sua vez roubou um apito em ouro que o Pinto da Costa tinha
oferecido à namorada que acabou por fugir prá França com o Sócrates num
submarino do Portas…
Sem comentários:
Enviar um comentário