26 abril 2013

O que festejamos a 25 de Abril?




Em relação às comemorações do dia 25 de Abril, acho por bem fazer uma diferença entre o essencial e o supérfluo: o acento tónico deveria ser a LIBERDADE adquirida, o que já não é nada mau, o resto é folclore… Da mesma maneira que o dia de Santo António NÃO celebra a sardinha. Faz-se é uma FESTA à volta do santo padroeiro da capital, e é costume os habitantes comerem sardinha assada e beberem uns canecos… O que também não é nada mau.





Antes de 1974 Portugal era um país pobre com poucos postos de trabalho e com um nível salarial que não garantia qualidade de vida à maioria da sua população. E apesar das exigências dos portugueses nessa altura estarem muito aquém do que actualmente se entende por qualidade de vida, o facto é que já não correspondia às expectativas de milhões de compatriotas, fazendo com que emigrassem para países onde havia trabalho, onde pagavam salários substancialmente mais altos e onde gozavam de protecção social e outras regalias que eles no seu país desconheciam a existência, como as ‘vacances’...

Mas será que o país era intrinsecamente pobre, ou era pobre porque precisamente não se criava postos de trabalho, com a agravante do patronato pagar salários insuficientes?

Uma questão essencial que na altura nem os economistas, nem os políticos, nem sequer os intelectuais podiam colocar sem correr o risco de entrar em conflito com o regime do doutor Oliveira Salazar. E quem tivesse um conflito com o regime era imediatamente suspeito de ser comunista, provavelmente preso e por vezes torturado. Uma paranóia que aumentava desnecessariamente a oposição ao regime, desencoraja os cidadãos a informarem-se sobre política e alimentava simpatia por ideias comunistas em meios estudantis e intelectuais. 

Em vez de prender, teria sido bem mais eficiente, e mais didáctico, o regime despachar temporariamente todos aqueles que apregoavam doutrinas marxistas para países do Pacto de Varsóvia à escolha do próprio com estadia paga pelo Estado português. Voltariam à pátria a correr, curados de marxismo e transformados em grandes defensores do regime. Falariam com conhecimento de causa na TV e seriam provavelmente convidados pelo Raul Solnado para o programa Zip Zip. 

Mas que havemos de fazer, os nossos dirigentes nem para eles eram bons! - e continuaram nas calmas perpetuando a paranóia contra um negligenciável inimigo comunista, censurando jornais, livros, música e suprimindo toda e qualquer tipo de oposição. 

Mas no início dos anos 60 o regime envolveu-se numa guerra colonial que iria durar até 1974, e em que a nossa tropa teria de combater em três frentes (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau). Uma loucura insustentável para um país pequeno e pobre, tendo, ainda por cima, quase toda a Europa contra. A União Soviética incluída...

Não eram todos burros. O General Spínola, chefe do estado-maior das forças armadas, percebeu a gravidade da situação e propôs através do seu livro, Portugal e o futuro, uma solução neo-colonial –- alguns, ao ler isto vão começar a espumar: AI-E-TAL-QUE-É-UMA-COISA-MUITO-MÁ e não vão ler o resto! -– que teria sido inicialmente melhor para Portugal, mas também para os novos países africanos. Teria evitado o drama dos retornados e os milhares de mortos e campos de minas devido à guerra pelo poder entre os vários movimentos de libertação depois de uma descolonização atabalhoada. Mas que fez o regime? Censurou o livro e destitui das suas funções o general mais inteligente do exército!!! 

Os casmurros dirigentes do regime, completamente alheios ao esforço financeiro e humano que a Guerra Colonial representava para o país, indiferentes também ao facto de haver cada vez menos jovens em idade militar com vontade de andar aos tiros em África – note-se que estávamos em plena época do peace and love -,  ainda se puseram a regatear as reivindicações salariais dos oficiais do exército! Que eram os que davam o corpo ao manifesto no Ultramar! Realmente, a tacanhez não tem limites... 

“Ai ele é isso!” pensaram os nossos oficiais. “Bom, então se o regime não quer aceitar as nossas reivindicações viramos comunistas!”. 

Não é que o regime pensou que os oficiais estavam a falar a sério, tal era a paranóia! É claro que não estavam, esta ameaça não fazia qualquer sentido. Na altura os oficiais portugueses não eram os mais bem pagos do mundo (hoje já são), mas gozavam de regalias bem superiores aos seus camaradas do exército russo ou cubano. Além disso, podiam comer bananas em todo o país, comprar meias de nylon para as esposas ou namoradas e viajar ou passar férias onde desejassem, até mesmo em Miami... 

Os oficiais conheciam as taras do regime, mas sobretudo a inércia, e calcularam que esta ameaça seria a única forma de mover o governo. Mas o regime, enfraquecido por tantos anos de apatia, em vez de simplesmente ceder às reivindicações, ou parte, desmaiou! Um cenário que os oficiais não previram... 

Resultado, no dia 25 de Abril de 1974 o exército ficou inicialmente hesitante e sem saber o que fazer. É precisamente este momento decisivo da história nacional que leninistas e maoístas aproveitaram para lembrar ao ouvido dos oficiais rebeldes a AMEAÇA reivindicativa que fez desmaiar o regime. 

Seguidamente, e aproveitando a maré de anarquia instalada na capital do país, os adeptos do marxismo começaram a distribuir bandeiras vermelhas da Coreia do Norte à população que entretanto se juntara à volta das colunas militares, ao mesmo tempo que berravam coisas comunistas  como poder popular; ditadura do proletariado; abaixo o capitalismo; morte à burguesia e outras barbaridades ideológicas que certas pessoas ainda hoje querem abusivamente que sejam predominantes nas comemorações do 25 de Abril… Quando na realidade se trata apenas de uma descabelada mas humanamente compreensiva expressão de meio-século de deliberada ignorância política causada pelo regime de Salazar. .



3 comentários:

  1. Hahaha - een tijdje geleden ook dat soort vragen over Hitler aan nederlandse jeugd. Groot percentage had nooit van de man gehoord. Die speelde toch in het Duitse elftal? Een spits geloof ik....

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  2. De beste vond ik die over Otelo (Saraiva de Carvalho): 'dat moet een hotel cinco estrelas, toch?

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  3. LOL... A menina aos 2:10, é impagável. Efectivamente a policia secreta faz tudo às escondidas. A imagem do regime desmaiado também não lhe fica atrás.

    ...expressão de meio-século de deliberada ignorância política causada pelo regime de Salazar.

    Bem visto. Agora, para obter os vídeo recortes, tem de acrescentar mais três décadas de catequese socialista, para melhorar as condições de vida das massas desfavorecidas.

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