A jovem jornalista
holandesa Rosanne Hertzberger desconstrói de forma magistral, no NRC de
12.01.2014, a indignação selectiva das empresas do seu país em questões de
responsabilidade social:
Em 2013 a Assembleia-Geral das Nações Unidas
adoptou precisamente treze resoluções em que a palavra ‘Palestinian’ era
mencionada, contra cinco resoluções com a palavra ‘Syrian’. Das cinco
resoluções com a palavra ‘Syrian’, quatro eram relativas ao ‘Syrian Golan’ e às
maldades de Israel nesta região. Uma só resolução era acerca dos direitos
humanos na Síria.
A indignação selectiva em relação a Israel já
não me espanta. Assim é que também esta semana os sunitas e os chiitas
continuaram a matar-se mutuamente na Síria e no Iraque, mas na Holanda estamos
sobretudo muito preocupados com Israel. A empresa holandesa de fornecimento de
água potável Vitens, não quer mais trabalhar em conjunto com a empresa de águas
israelita Mekorot. E o fundo de pensões PGGM não quer investir em bancos
israelitas. Se a gente não tivesse mais informação, quase que acreditaria que
os contractos com empresas israelitas colocam enormes dilemas éticos às
empresas holandesas! E que Israel é o maior ‘bad guy’ dos nossos contactos
comerciais.
É verdade que temos intercâmbios comerciais
com Israel. Mas com a Arábia-Saudita, por exemplo, temos duas vezes mais. Um
país onde 10 milhões de emigrantes trabalham em condições de escravatura. Um
país que conseguiu rechaçar a ‘primavera árabe’ enfiando na prisão um milhar de
oponentes. É que na Arábia-Saudita uma pessoa apanha seis anos de cadeia por
difundir o cristianismo, e uma mulher 200 chicotadas se for vítima de violação.
No ano passado foram condenados sete homens à morte por roubo que cometeram
quando ainda eram menores. Foram fuzilados. Estranho, normalmente na
Arábia-Saudita os condenados à morte são decapitados em público.
Mas pronto, que se há-de fazer, grande parte
do nosso petróleo bruto é fornecido por este país. Talvez seja interessante ter
princípios e boicotar empresas, mas poder encher o tanque de gasolina também é
agradável. E juntamente com a importação de petróleo, podemos também conseguir
outro tipo de cooperação com este país. A empresa holandesa Royal HaskoningDHV (Consultants, Project Managers and Engineers) concluiu no ano
passado com orgulho uma ‘joint venture’ com o Ministério de Transporte Saudita.
Dias depois protelava todas as suas actividades em Jerusalém Oriental.
Aliás, sabem quem também tem petróleo? O
Qatar. O Qatar é um país onde nunca houve eleições. Mais, o Qatar, assim como a
Arábia-Saudita, perseguem cristãos
e têm meio milhão de escravos ao seu dispor. Mas o melhor é não falar muito
neste assunto, se não nunca mais acabam de construir os estádios para o
Campeonato do Mundo de Futebol. Ninguém vai boicotar o Qatar pela existência de
escravatura. Pelo contrário, vamos lá jogar à bola todos contentes.
Mas antes de ir jogar à bola no Qatar, vamos
jogar na Rússia em 2018. Mas no próximo mês temos os Jogos Olímpicos de
Inverno, na Rússia. E com a Rússia fazemos também dez vezes mais negócio do que
com Israel. No mês passado a Shell prolongou o seu contrato para a produção de
gás natural com a Gazprom, uma empresa que é administrada como um sindicato
mafioso, e que é ajudada pelo Estado com penas de prisão inesperadas e
expropriação de outras empresas.
Sabem com quem nós, graças à Shell, também
fazemos duas vezes mais negócio do que com Israel? Com a Nigéria. Nesse país
hiper-corrupto onde ninguém tem qualquer tipo de direitos humanos, à excepção
daqueles que os podem pagar. A empresa holandesa PGGM, a tal que não quer mais
investir em bancos de Israel, investe em obrigações do tesouro da Nigéria.
Conclusão: todo a gente faz constantemente
negócio com os maiores patifes do mundo inteiro e ninguém se chateia, porque
todos nós achamos a nossa riqueza e conforto mais importante que os direitos do
nosso semelhante que vive em países distantes.
Abrir uma excepção para Israel é uma paródia de
mau gosto à ideia de responsabilidade social corporativa. Sobretudo porque este boicote nada tem que ver com princípios. Tenho
cá uma fezada que vários países árabes vão receber estas empresas holandesas de
braços abertos, com novos contratos de cooperação.
Escrevi, escrevi e ao postar perdeu-se o comentário. raios partam a merda dos botões.
ResponderEliminarOk, não estou com pachorra para escrever novamente tudo aquilo que saiu, mas a verdade é que essa senhora é judia e também não se pode considerar o comentário dela isento. Sendo os árabes uns grandes filhos de uma mulher pública, os israelitas não são nenhuns meninos de coro. E o que irrita sobretudo é os judeus quererem dar lições de moralidade como se fossem sempre vítimas e não também perpetuadores. Podem não ter escravatura, mas a maneira como tratam os palestinianos também não é seundo os Direitos Humanos.
ResponderEliminarAlfacinha,
ResponderEliminarO único que sei sobre esta senhora é que ela nasceu neste país, estudou neste país, formou-se em microbiologia molecular e ultimamente escreve no jornal (NRC) que eu assino. Nunca me mostrou (e eu também não perguntei) a sua árvore genealógica.
Mas mesmo que tivesse um passaporte israelita, o que conta para mim são os argumentos, que neste caso, sobre A INDIGNAÇÃO SELECTIVA do seu país de nascença - e absolutamente nada sobre lições de moral! - são quantificáveis e facilmente verificáveis:
Quantas resoluções das Nações Unidas sobre….; Intercâmbio comercial com a Arábia-Saudita é duas vezes mais do que com Israel; Vamos boicotar o Campeonato do Mundo no Qatar sim ou não; Com a Rússia fazemos dez vezes mais negócio do que com Israel; Idem com a Nigéria…
É disto que se trata. Se as relações (e a intensidade) comerciais entre os países que ela menciona existem realmente, então ela tem razão, de outra forma não tem. Tão simples como isso.
Felizmente (para eles) que os israelitas não são “nenhuns meninos de coro”, porque, com os vizinhos que têm, se fossem já tinham desaparecido do mapa. Eu acho que eles tratam os palestinos dentro do possível, tendo em conta que estes tampouco são meninos de coro, mas em todo caso melhor que os vizinhos e irmãos: Egipto, Líbano, Jordânia e Arábia-Saudita.