17 janeiro 2014

Anti-semitismo? Que ideia, petróleo non olet…




A jovem jornalista holandesa Rosanne Hertzberger desconstrói de forma magistral, no NRC de 12.01.2014, a indignação selectiva das empresas do seu país em questões de responsabilidade social:






Em 2013 a Assembleia-Geral das Nações Unidas adoptou precisamente treze resoluções em que a palavra ‘Palestinian’ era mencionada, contra cinco resoluções com a palavra ‘Syrian’. Das cinco resoluções com a palavra ‘Syrian’, quatro eram relativas ao ‘Syrian Golan’ e às maldades de Israel nesta região. Uma só resolução era acerca dos direitos humanos na Síria.

A indignação selectiva em relação a Israel já não me espanta. Assim é que também esta semana os sunitas e os chiitas continuaram a matar-se mutuamente na Síria e no Iraque, mas na Holanda estamos sobretudo muito preocupados com Israel. A empresa holandesa de fornecimento de água potável Vitens, não quer mais trabalhar em conjunto com a empresa de águas israelita Mekorot. E o fundo de pensões PGGM não quer investir em bancos israelitas. Se a gente não tivesse mais informação, quase que acreditaria que os contractos com empresas israelitas colocam enormes dilemas éticos às empresas holandesas! E que Israel é o maior ‘bad guy’ dos nossos contactos comerciais.

É verdade que temos intercâmbios comerciais com Israel. Mas com a Arábia-Saudita, por exemplo, temos duas vezes mais. Um país onde 10 milhões de emigrantes trabalham em condições de escravatura. Um país que conseguiu rechaçar a ‘primavera árabe’ enfiando na prisão um milhar de oponentes. É que na Arábia-Saudita uma pessoa apanha seis anos de cadeia por difundir o cristianismo, e uma mulher 200 chicotadas se for vítima de violação. No ano passado foram condenados sete homens à morte por roubo que cometeram quando ainda eram menores. Foram fuzilados. Estranho, normalmente na Arábia-Saudita os condenados à morte são decapitados em público.

Mas pronto, que se há-de fazer, grande parte do nosso petróleo bruto é fornecido por este país. Talvez seja interessante ter princípios e boicotar empresas, mas poder encher o tanque de gasolina também é agradável. E juntamente com a importação de petróleo, podemos também conseguir outro tipo de cooperação com este país. A empresa holandesa Royal HaskoningDHV (Consultants, Project Managers and Engineers) concluiu no ano passado com orgulho uma ‘joint venture’ com o Ministério de Transporte Saudita. Dias depois protelava todas as suas actividades em Jerusalém Oriental.

Aliás, sabem quem também tem petróleo? O Qatar. O Qatar é um país onde nunca houve eleições. Mais, o Qatar, assim como a Arábia-Saudita, perseguem  cristãos e têm meio milhão de escravos ao seu dispor. Mas o melhor é não falar muito neste assunto, se não nunca mais acabam de construir os estádios para o Campeonato do Mundo de Futebol. Ninguém vai boicotar o Qatar pela existência de escravatura. Pelo contrário, vamos lá jogar à bola todos contentes.

Mas antes de ir jogar à bola no Qatar, vamos jogar na Rússia em 2018. Mas no próximo mês temos os Jogos Olímpicos de Inverno, na Rússia. E com a Rússia fazemos também dez vezes mais negócio do que com Israel. No mês passado a Shell prolongou o seu contrato para a produção de gás natural com a Gazprom, uma empresa que é administrada como um sindicato mafioso, e que é ajudada pelo Estado com penas de prisão inesperadas e expropriação de outras empresas.

Sabem com quem nós, graças à Shell, também fazemos duas vezes mais negócio do que com Israel? Com a Nigéria. Nesse país hiper-corrupto onde ninguém tem qualquer tipo de direitos humanos, à excepção daqueles que os podem pagar. A empresa holandesa PGGM, a tal que não quer mais investir em bancos de Israel, investe em obrigações do tesouro da Nigéria.

Conclusão: todo a gente faz constantemente negócio com os maiores patifes do mundo inteiro e ninguém se chateia, porque todos nós achamos a nossa riqueza e conforto mais importante que os direitos do nosso semelhante que vive em países distantes.

Abrir uma excepção para Israel é uma paródia de mau gosto à ideia de responsabilidade social corporativa. Sobretudo porque este boicote nada tem que ver com princípios. Tenho cá uma fezada que vários países árabes vão receber estas empresas holandesas de braços abertos, com novos contratos de cooperação.

3 comentários:

  1. Escrevi, escrevi e ao postar perdeu-se o comentário. raios partam a merda dos botões.

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  2. Ok, não estou com pachorra para escrever novamente tudo aquilo que saiu, mas a verdade é que essa senhora é judia e também não se pode considerar o comentário dela isento. Sendo os árabes uns grandes filhos de uma mulher pública, os israelitas não são nenhuns meninos de coro. E o que irrita sobretudo é os judeus quererem dar lições de moralidade como se fossem sempre vítimas e não também perpetuadores. Podem não ter escravatura, mas a maneira como tratam os palestinianos também não é seundo os Direitos Humanos.

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  3. Alfacinha,

    O único que sei sobre esta senhora é que ela nasceu neste país, estudou neste país, formou-se em microbiologia molecular e ultimamente escreve no jornal (NRC) que eu assino. Nunca me mostrou (e eu também não perguntei) a sua árvore genealógica.

    Mas mesmo que tivesse um passaporte israelita, o que conta para mim são os argumentos, que neste caso, sobre A INDIGNAÇÃO SELECTIVA do seu país de nascença - e absolutamente nada sobre lições de moral! - são quantificáveis e facilmente verificáveis:

    Quantas resoluções das Nações Unidas sobre….; Intercâmbio comercial com a Arábia-Saudita é duas vezes mais do que com Israel; Vamos boicotar o Campeonato do Mundo no Qatar sim ou não; Com a Rússia fazemos dez vezes mais negócio do que com Israel; Idem com a Nigéria…

    É disto que se trata. Se as relações (e a intensidade) comerciais entre os países que ela menciona existem realmente, então ela tem razão, de outra forma não tem. Tão simples como isso.

    Felizmente (para eles) que os israelitas não são “nenhuns meninos de coro”, porque, com os vizinhos que têm, se fossem já tinham desaparecido do mapa. Eu acho que eles tratam os palestinos dentro do possível, tendo em conta que estes tampouco são meninos de coro, mas em todo caso melhor que os vizinhos e irmãos: Egipto, Líbano, Jordânia e Arábia-Saudita.

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