Tá bem.... Mas eles é que começaram!!!
Ultimamente muito se fala no assunto mas poucos
entendem realmente do que se trata. Há ainda muito boa gente que confunde liberdade
de expressão com insulto ou difamação: Já que há liberdade de expressão, vou
aproveitar para insultar a puta da minha vizinha que ouve música com o
amplificador a fundo até as três da matina...
Liberdade mas...
Os comentadores que se julgam um pouco mais
inteligentes, o Papa incluidíssimo, usam o "MAS" para limitar (a seu
belo prazer) a liberdade. Dizem-nos que a liberdade é uma coisa muito bonita,
mas tem que haver respeito. O raio do respeito é o que mais se ouve. Mas há
mais, a imaginação do censor é bastante fértil na produção de critérios para
travar a liberdade de expressão: é obsceno; é blasfémia; é uma provocação; é de
mau gosto; fere sentimentos. Quem detém o poder (secular ou religioso) sabe que
a qualquer momento pode servir-se destes critérios (totalmente subjectivos) como
álibi para eliminar opiniões inconvenientes. Mas a liberdade de expressão, para
ter REALMENTE liberdade, tem que ser colocada acima de todos estes critérios,
de outra forma não faz sentido e não funciona.
Todos os papas, sem excepção, são macacos...
Sempre assim foi. Segundo a Igreja Católica
Galileu ofendeu no século XVI milhões de crentes, ao descobrir, mas sobretudo
ao afirmar, que a Terra roda à volta do Sol e não o contrário. Um século mais
tarde o grande filósofo holandês Baruch de Spinoza - o pai dele nasceu na
Vidigueira - foi excomungado e banido da comunidade judaica de Amesterdão por
dizer umas heresiazitas, tais como: a bíblia não é sagrada e o Noé não meteu
todos os bichos na arca - esqueceu-se dos dinossáurios. Um erro irreparável,
como se sabe hoje graças à ciência. A Lourinhã poderia ser uma Silicon Valley
de dinos a pastar, e agora é apenas um modesto sítio arqueológico. Felizmente
que o Noé não se esqueceu dos macacos, porque possibilitou, mais uma vez, ao
Darwin ofender uma porrada de crentes. Provando que toda a gente, mesmo os
Papas, descendem do macaco e não de um tal Adão, que comia maçãs oferecidas por
uma cobra, e que mais tarde, cansado de comer só maçãs, resolveu fabricar, a
partir de uma costela sua, uma gaja bem gira chamada Eva que andava sempre nua
no paraíso!
Afinal quem ofendeu quem? Neste caso foi a
Igreja, que bem podia ter inventado uma historieta mais plausível, evitando a
troça a que estão sujeitos os seus crentes actualmente. (Lembro que as outras
religiões do livro também contam a mesma treta)
Quem anda à chuva molha-se
Este é-bem-feito é normalmente a recompensa
que todos os grandes pioneiros das ideias recebem da populaça quando são
assassinados por uma ideia, nova. Séculos mais tarde servem-se deles como
património nacional, ou como religião para fazer a guerra ou chatear o resto do
maralhal ao Domingo de manhã. A turba no momento não percebe que sem eles
viveriam ainda em cavernas vestidos com cascas de árvores limpando o olho do cu
com pedra lascada. Não percebem que a crítica (escrita ou desenhada) é a única arma
dos que não têm armas. Nem poder, nem fazem parte da massa cinzenta que se cala
e anda ao sabor da corrente, mas sempre pronta a ser facilmente
(ideologicamente ou religiosamente) instigada a queimar bruxas ou judeus, matar
comunistas ou ateus, lapidar homossexuais ou mulheres adúlteras, cantar na
Festa do Avante ou censurar comentários na internet. É tudo a mesma corja...
Quem dá a cara na pega?
O Cristo, que passou a vida a 'ofender' a
religião judaica e romana afirmando publicamente SOU FILHO DE UM DEUS, também previu
o que lhe iria acontecer. Mas tarde. Só quando já estava espetado na cruz é que
se lembrou do pai: "pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem". Eu,
no lugar dele teria dito: pai, por favor, tira-me de aqui e transforma a Palestina
num grande parque de estacionamento. Com um pouco mais de cautela o Humberto
Delgado teria evitado levar um tiro nos cornos em Villanueva del Fresno numa
manhã de chuva. Por outro lado, a morte dele ficou sempre atravessada na
garganta dos nossos militares, que na 'primeira' ocasião vingaram a memória do
General Sem Medo acabando com o regime do assassino. Outro. O Nelson Mandela -
se em vez de mandar bocas contra o apartheid, tivesse ficado sossegado no seu
escritório de advogado, não tinha passado 25 anos na cadeia, e, pior ainda, não
teria sido obrigado a cortar relações com a Winny, que era muito mais boa do que
a mulher do Samora Machel...
Os jornalistas da Charlie Hebdo sabiam
perfeitamente que andavam à chuva e que um dia destes ficariam encharcados.
Mas, tal como os ilustres personagens acima mencionados, também sabiam que na
luta pela liberdade, alguém tem que dar a cara nesta pega. Também sabiam que
eram apenas tolerados. E isso porque funcionavam numa democracia dita burguesa,
que é dotada de meia dúzia de 'guarda-chuvas'. Mas atenção, a grande maioria
dos europeus (quanto mais os muçulmanos!) NÃO É CHARLIE. Os actuais Charlies
são tão hipócritas como os portugueses que no dia 26 de Abril colocaram à
pressa um cravo (vermelho) na lapela do casaco...
Parabens.
ResponderEliminarExcelente. Sempre em grande, Carmo da Rosa.
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