09 janeiro 2015

PARÊNTESIS ENCANTADO



Eric Zemmour fala do seu último livro.

Como diz o jornalista Eric Zemmour numa entrevista no canal RTL que eu traduzi mais abaixo, os cartoonistas de Charlie Hebdo encarnam a geração de 68, do MAKE LOVE NOT WAR. De tolerância custe o que custar. Crítica sobre tudo e todos: uma vez o Papa, outra Maomé, e assim é que deve ser. Mas o islão só conhece UM livro e desconhece os nossos dilemas existenciais.



Há aqui um ar dos tempos! Em 2006 o escritor alemão Henryk Broder publicava na Alemanha um livro bastante controverso: Hurra! Wir kapitulieren! (Hurra, nós capitulamos). Em 2010, Thilo Sarrazin (presidente da Deutsche Bank) vai um pouco mais longe e publica Deutschland Schafft Sich Ab, que os franceses traduziram por L’Allemagne disparaît. Agora (Outubro de 2014) é a vez do jornalista francês Eric Zemmour publicar, e com bastante sucesso, LE SUICIDE FRANÇAIS. Os temas são quase idênticos e estão bastante relacionados com o que se passa actualmente em França. 

Mas esqueci-me do livro mais importante e mais recente: SUBMISSION de Michel Houellebecq, publicado UM dia antes do assassinato dos caricaturistas de Charlie Hebdo, onde Houellebecq faz ficção política e prevê uma Republique Islamique Française em 2022.  


TV-RTL: Eric Zemmour, de certa maneira isto é o nosso 11 de Setembro?

Eric Zemmour:

É isso mesmo. Há homicídios que são mais do que isso, há atentados que são mais do que atentados, datas que não designam um simples acontecimento, mas sim uma ruptura, o fim de uma época e início de outra. No dia 11 de Setembro de 2001 os americanos deixaram de acreditar que eram uma nação indestrutível e protegida por Deus, e pelo oceano, não podendo ser atacada no seu solo.

O dia 7 de Janeiro de 2015 é o nosso 11 de Setembro, o dia em que a guerra voltou, como antigamente, como sempre. Não é apenas uma guerra pela liberdade de expressão, é simplesmente uma guerra, com inimigos de verdade e com inimigos internos. Já tínhamos esquecido a guerra. Foi há tanto tempo. A última foi na Argélia.

Em 1985 conhecemos o terrorismo no Irão, em 1995 o terrorismo argelino, que Pasqua [ex-ministro do interior em 1986, cdr] conseguiu aterrorizar. Era trágico, mas mais parecia uma palhaçada. Não acreditávamos realmente, não queríamos acreditar, o nosso grande projecto era a paz, não a guerra [make love not war. cdr]. Esquecemo-nos que a história é trágica. Num período tão longo de paz que conheceu o nosso país, esquecemo-nos que a França sempre foi o país das guerras-civis e das guerras de religião.

Wolinski, Cabus, Maris são os protagonistas de Charlie Hebdo, herdeira da revista Hara Kiri, que precisamente simboliza esta furiosa vontade de querer esquecer a parte trágica da história, como se os assassinos os escolheram por acaso.

Mas Eric, segundo a sua opinião quer isto dizer que este atentado marca o fim de uma época?

Precisamente. Charlie Hebdo e Hara Kiri encarnam uma geração, a geração do baby-boom. Um espírito: dos anos sessenta. Uma utopia: pacifista e libertária que decidiu superar todas as restrições e afastar todas as limitações. Chegou a hora do hedonismo, do consumismo, da libertação sexual, do culto do eu, da tolerância, da busca da felicidade em primeiro lugar e acima de tudo. Era proibido proibir, estigmatizar, discriminar, generalizar - não havia mais inimigos. Aceitávamos todas as diferenças, os defeitos eram transformados em oportunidades, o outro transformado em compincha que amavamos com paixão até ao ódio de nós próprios. As guerras entre nações deixaram de existir, assim como as guerras de religião ou civilização. A humanidade era uma enorme confraternização com toda a gente de mão dada.

Os CRS [polícia de choque. cdr] viraram SS, a quem a gente acusava de querer manter a ordem. A força policial foi pouco a pouco desarmada, paralisada por cortes nas verbas e limitações legais. Aconselhada a não usar as suas armas, vai doravante ter que enfrentar soldados implacáveis e aguerridos.

Depois de Maio de '68 Françoise Giroud [escritora e secretária de estado. cdr] falava do parêntesis encantado. Há quarenta anos que teimamos em não querer fechar este parêntesis encantado, mesmo correndo enormes riscos, alimentando todo o tipo de ilusões, recusando todos os avisos, rejeitando as dúvidas de todos os velhos do Restelo. Mais um minutinho, senhor carrasco, suplica a nossa época, como Madame du Barry [guilhotinada em Paris a 1793. cdr], mas o carrasco golpeou. 


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