Eric Zemmour fala do seu último livro.
Como
diz o jornalista Eric Zemmour numa entrevista no canal RTL que eu traduzi mais
abaixo, os cartoonistas de Charlie Hebdo encarnam a geração de 68, do MAKE LOVE
NOT WAR. De tolerância custe o que custar. Crítica sobre tudo e todos: uma vez
o Papa, outra Maomé, e assim é que deve ser. Mas o islão só conhece UM livro e desconhece os nossos dilemas existenciais.
Há
aqui um ar dos tempos! Em 2006 o escritor alemão Henryk Broder publicava na
Alemanha um livro bastante controverso: Hurra! Wir kapitulieren! (Hurra, nós
capitulamos). Em 2010, Thilo Sarrazin (presidente da Deutsche Bank) vai um pouco
mais longe e publica Deutschland Schafft Sich Ab, que os
franceses traduziram por L’Allemagne disparaît. Agora (Outubro de 2014) é a vez
do jornalista francês Eric Zemmour publicar, e com bastante sucesso, LE SUICIDE
FRANÇAIS. Os temas são quase idênticos e estão bastante relacionados com o que
se passa actualmente em França.
Mas esqueci-me do livro mais importante e mais recente: SUBMISSION de Michel Houellebecq, publicado UM dia antes do assassinato dos caricaturistas de Charlie Hebdo, onde Houellebecq faz ficção política e prevê uma Republique Islamique Française em 2022.
Mas esqueci-me do livro mais importante e mais recente: SUBMISSION de Michel Houellebecq, publicado UM dia antes do assassinato dos caricaturistas de Charlie Hebdo, onde Houellebecq faz ficção política e prevê uma Republique Islamique Française em 2022.
TV-RTL: Eric Zemmour, de certa maneira isto
é o nosso 11 de Setembro?
Eric Zemmour:
É
isso mesmo. Há homicídios que são mais do que isso, há atentados que são mais
do que atentados, datas que não designam um simples acontecimento, mas sim uma
ruptura, o fim de uma época e início de outra. No dia 11 de Setembro de 2001 os
americanos deixaram de acreditar que eram uma nação indestrutível e protegida
por Deus, e pelo oceano, não podendo ser atacada no seu solo.
O
dia 7 de Janeiro de 2015 é o nosso 11 de Setembro, o dia em que a guerra
voltou, como antigamente, como sempre. Não é apenas uma guerra pela liberdade
de expressão, é simplesmente uma guerra, com inimigos de verdade e com inimigos
internos. Já tínhamos esquecido a guerra. Foi há tanto tempo. A última foi na
Argélia.
Em
1985 conhecemos o terrorismo no Irão, em 1995 o terrorismo argelino, que Pasqua
[ex-ministro do interior em 1986, cdr] conseguiu aterrorizar. Era trágico, mas mais
parecia uma palhaçada. Não acreditávamos realmente, não queríamos acreditar, o
nosso grande projecto era a paz, não a guerra [make love not war. cdr].
Esquecemo-nos que a história é trágica. Num período tão longo de paz que
conheceu o nosso país, esquecemo-nos que a França sempre foi o país das
guerras-civis e das guerras de religião.
Wolinski,
Cabus, Maris são os protagonistas de Charlie Hebdo, herdeira da revista Hara
Kiri, que precisamente simboliza esta furiosa vontade de querer esquecer a
parte trágica da história, como se os assassinos os escolheram por acaso.
Mas Eric, segundo a sua opinião
quer isto dizer que este atentado marca o fim de uma época?
Precisamente.
Charlie Hebdo e Hara Kiri encarnam uma geração, a geração do baby-boom. Um
espírito: dos anos sessenta. Uma utopia: pacifista e libertária que decidiu
superar todas as restrições e afastar todas as limitações. Chegou a hora do
hedonismo, do consumismo, da libertação sexual, do culto do eu, da tolerância,
da busca da felicidade em primeiro lugar e acima de tudo. Era proibido proibir,
estigmatizar, discriminar, generalizar - não havia mais inimigos. Aceitávamos
todas as diferenças, os defeitos eram transformados em oportunidades, o outro transformado
em compincha que amavamos com paixão até ao ódio de nós próprios. As guerras
entre nações deixaram de existir, assim como as guerras de religião ou
civilização. A humanidade era uma enorme confraternização com toda a gente de
mão dada.
Os
CRS [polícia de choque. cdr] viraram SS, a quem a gente acusava de querer
manter a ordem. A força policial foi pouco a pouco desarmada, paralisada por
cortes nas verbas e limitações legais. Aconselhada a não usar as suas armas,
vai doravante ter que enfrentar soldados implacáveis e aguerridos.
Depois de Maio de '68 Françoise Giroud [escritora e
secretária de estado. cdr] falava do parêntesis encantado. Há quarenta anos que
teimamos em não querer fechar este parêntesis encantado, mesmo correndo enormes
riscos, alimentando todo o tipo de ilusões, recusando todos os avisos, rejeitando
as dúvidas de todos os velhos do Restelo. Mais um minutinho, senhor carrasco,
suplica a nossa época, como Madame du Barry [guilhotinada em Paris a 1793.
cdr], mas o carrasco golpeou.
Sem comentários:
Enviar um comentário