12 abril 2013

OS CENSORES QUE SE PHODAM…


Salvador da Bahia, Brasil 2006 cdr.


Catarina da Gama Cunha escreveu aqui um engraçadíssimo ‘cris de coeur’ contra o recente acordo ortográfico e também contra o facto da revista VISÃO anunciar orgulhosamente aos seus leitores que "doravante a revista passaria a ser impressa respeitando o  acordo". Conclui dizendo que os promotores do acordo ortográfico “é tudo bicha, irmão”, mas por outras palavras…




Algumas passagens do texto de Catarina da Gama Cunha com os agradecimentos a Leonor Raven-Gomes pelo envio do texto original:

A Visão passou assim para mim a ser uma escrófula e como todos os abcessos foi imediatamente lancetada das minhas habituais compras.

Afinal de contas um acordo ortográfico para quê?

Para creditarmos 190 milhões de brasileiros a escrever, finalmente, o que eles supõem ser o correcto português? E nós aceitamos? Abdicamos dos “c” e dos “p”, como se não fosse nada por ali além, como se não fosse normal pronunciá-los.

Eu digo, aCto, eu digo adoPtar, baPtismo, adjeCtivo, paCto, sempre fiz questão de acentuar estas letras, que são as que distinguem o nosso português falado, e se há por aí alimárias que acham estas consoantes de pronunciação muda, deveriam também elas ter nascido com a mesma deficiência.

Se, ao tempo em que se aboliu o ph das nossas farmácias, da filosofia e afins, eu andasse por cá, a minha reacção seria a mesma. A nossa língua tem origens indo-europeias, mais precisamente itálica, e deve ser perpetuamente utilizada como se de uma linhagem se tratasse.

… censores que se vão phoder!

Mais, se prosseguirem com a firme intenção de implementarem essa merda, passando-me a assinalar erros contra-acordo, farei questão, por grande honra, de sugerir aos respectivos censores que se vão phoder!

Mas quem são os portugueses responsáveis por este bend over?

Talvez os mesmos que, sob “gostosa” sodomização, aceitaram, no entanto, que, apesar de tudo continuarão a existir palavras de dupla grafia, devido (vejam bem a ironia) à diferença de pronúncia entre Portugal e Brasil, tais como os importantíssimos:

académico/acadêmico, amazónia/amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, cómodo/cômodo, efémero/efêmero, fenómeno/fenômeno, gémeo/gêmeo, ténue/tênue, tónico/tônico e também bebé/bebê, bidé/bidê, cocó/cocô, judo/judô, metro/metrô.

E a ironia final reside na palavra humidade, como não podia deixar de ser em cultura dominada por pederastas. O H deixa de ser necessário por não se pronunciar.

….meio mundo de rabicholas

Estou em crer que a ideia era ir pela humidade e logo de seguida sugerir a castração do H inicial de homem, o que certamente confortaria meio mundo de rabicholas, mas suponho que o facto de a maior parte das línguas se referirem à Humanidade, sempre iniciada pela letra H, trouxe grosso entrave a este ensejo que, na realidade, se resumia apenas a isto: que nunca mais fosse possível dizer aquela frase que macera tanta bicheza “era um Homem com um H muito grande” e pudessem orgulhosamente passar a proclamar era um Omem com um O muito aberto!

4 comentários:

  1. O meu amigo Rui Mota, que por razões técnicas não consegue comentar no blogue, pediu-me por mail para publicar este comentário:

    O Acordo Ortográfico é uma pacovice portuguesa, feita para agradar aos editores e empresas que têm dificuldade em entrar no mercado brasileiro.

    Desde o início das conversações (anos noventa), que se levantou um coro de protestos em ambos os lados do Atlântico, pois as críticas eram mais que muitas. Porque eram necessários mais do que três países da lusofonia para o acordo entrar em vigor, o processo foi sendo adiado, até que o Brasil e Portugal firmaram o acordo.

    Com a posterior assinatura, por parte de Cabo-Verde, o acordo foi
    implicitamente aceite, ainda que Angola e Moçambique, por
    exemplo, nunca tenham assinado o dito. Aliás, é frequente ler artigos
    publicados em jornais angolanos, onde, em português ortodoxo, se critica a
    bajulação portuguesa ao acordo. Uma bofetada de luva branca por parte dos
    angolanos!

    Contra e a favor do acordo há muitos e bons argumentos, ainda que eu seja
    suspeito pois defendo o português clássico. Alguém imagina o Saramago ou o
    Euclides da Cunha, escritos em português do A.O.? Uma burrice sem nome! Os
    ingleses e os americanos nunca uniformizaram a língua escrita e não foi por
    isso que o inglês deixou de afirmar-se no Mundo.

    Os melhores artigos/argumentos contra o A.O. foram escritos pelo Vasco Graça
    Moura e pelo Fernando Venâncio, e.o.. Do primeiro existe um manifesto,
    difícil de encontrar nas livrarias (a Hennie Bos é capaz de ter um exemplar) e,
    do segundo, um excelente artigo com o histórico do A.O., publicado na revista
    Ler, de Dezembro passado. Pede-lhe uma cópia. Aqui está um bom tema para as Tertúlias de Amesterdão...

    Também o Valupi (no Aspirina b) publicou um artigo (que eu desconhecia) do Fernando Pessoa sobre a língua que é actualíssimo. Deve estar no arquivo do Aspirina b, de Fevereiro ou Março. Vai lá ver...

    A Casa da Imprensa anunciou recentemente a publicação das obras completas do Padre Vieira (um dos melhores prosadores portugueses de sempre) segundo o novo A.O.. Uma patetice sem nome, que o VGM destruiu em dois artigos seminais no "Público" da semana passada. Se quiseres, posso-te enviar os recortes.

    Enfim, temos uns governantes tão rascas e incultos, que nem uma das poucas
    (única?) coisas boas que temos, conseguem defender. Uma tristeza.

    Rui Mota

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  2. Catarina, gosto de ti pá! :-P

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  3. Oh, que porra é esta? Ser homossexual não tem nada a ver com a Açorda Ortopédica! Eu sou homossexual e defendo com unhas e dentes a minha língua e sempre a hei-de defender contra este AO

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  4. Catarina,

    normalmente só arranjo inimigos com as minhas bocas........ do norte, mas, de vez em quando lá aparece alguém que gosta de mim...

    Anónimo,

    Claro que o A.O. nada tem a ver com homossexuais, mas também os 'rabicholas' e ' pederastas' da Catarina nada têm a ver com sexo - é sexo no sentido figurado. Mas os que querem fazer modificações na língua também a defendem, à sua maneira...

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