23 abril 2013

QUE RICOS SOCIALISTAS…




No seguimento da affaire Cahuzac, o ministro francês com contas secretas na Suíça, François Hollande (Presidente da República Francesa), aplica à pressa medidas de transparência, mas vê-se agora repentinamente rodeado de ministros milionários! Ele próprio declarou possuir bens no valor de 1,2 milhões de euros. Mas a malta de direita que não pense que o Sarkozy é mais pobrezinho…




Tradução do diário NRC de 16 de Abril e da autoria do correspondente Peter Vermaas.

Je n’aime pas les riches (não gosto dos ricos), dizia Hollande em 2006 como secretário-geral do Partido Socialista. Sete anos depois, como Presidente da Republica, Hollande vê-se rodeado de oito milionários. Isto foi ontem confirmado numa publicação sobre os bens dos membros do seu governo.

A divulgação de uma lista com os bens pessoais dos 37 ministros foi uma das várias medidas que Hollande anunciou para acalmar os ânimos depois do caso do ministro Jerôme Cahuzac, que estava incumbido do combate à corrupção mas tinha contas bancárias na Suíça não declaradas ao fisco.

Cahuzac foi uma excepção, afirma Hollande, e iria provar que assim é. O seu primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, que na tal lista declarou possuir uma Volkwagen Transit de 1998 no valor de 1000 euros, quer transmitir “total transparência” e evitar concorrência de interesses.

Mas nem toda a gente está encantada com a nova transparência. Os políticos devem ser julgados pelas suas qualidades pessoais e não pelas suas contas pessoais, afirmam membros do parlamento e cientistas tanto de direita como de esquerda. “Há o direito de saber, mas também existe algo como o sagrado direito ao segredo”, fulmina o filósofo Alain Finkielkraut.

Na sequência do caso Cahuzac surge uma nova cisão: os que querem ser transparentes acerca das suas fortunas, e aqueles que categoricamente não querem. Tradicionalmente os franceses não gostam de falar de dinheiro, e muito menos do seu dinheiro.

Segundo a socióloga Janine Mossuz-Lavau “falar de dinheiro é um tabu maior do que falar de sexo”. No seu livro, L’Argent et nous (Nós e o dinheiro, 2007), diz ela que isto se deve a uma persistente mentalidade agrária: o dinheiro era receosamente guardado em espécie e de forma que mais ninguém soubesse o paradeiro.

Mas antes mesmo dos ministros de Hollande terem publicado os seus dados no site do governo, outros políticos anteciparam-se e divulgaram os seus bens à imprensa. Laurent Wauquiez, o ambicioso vice-presidente da UMP (partido da oposição do ex-presidente Sarkozy), colocou os seus concorrentes entre a espada e a parede ao revelar a sua fortuna. O antigo primeiro-ministro, François Fillon, aderiu hesitante, mas o seu rival, Jean-François Copé, recusou-se imediatamente e achou que os colegas se deixaram levar na onda de “voyeurismo” do governo socialista. A pergunta que imediatamente imergiu foi: o que é que Copé quer encobrir?

Numa tentativa de reparar a maculada reputação dos políticos, François Hollande, além dos ministros quer também obrigar os membros do parlamento a tornarem público os seus rendimentos. Mas o presidente da Assembleia, Claude Bartolone (colega de partido de Hollande), é contra e tem muitos parlamentários que o apoiam. “A democracia Paparazzi não é comigo”, afirmou hoje no jornal Libération. 

A nova abertura não teria evitado o caso Cahuzac, afirma Bartolone. Quando Cahuzac ingressou no governo também teve que apresentar uma declaração de bens (na altura confidencial), mas omitiu as contas bancárias secretas que tinha no estrangeiro. Mas o que as mulheres e namoradas dos ministros têm em depósito não é verificável. Por isso é que os fiscalistas dizem que o melhor é controlar as declarações de impostos sobre o rendimento familiar.
 

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